sexta-feira, fevereiro 27, 2004

Os grupos do PS

Só quem não percebe de política ou quem não anda atento é que não quer ver que o Partido Socialista é hoje - tal como nos outros Pê Esses dessa Europa fora - , um conjunto de partidos e facções que convergem na procura do poder.

Existe claramente uma veia centrista no PS, uma veia de esquerda, e alguns laivos de direita.

O centrismo de Jaime Gama ou de António Vitorino pouco se diferencia da «quase direita» de José Sócrates e de José Lello (os tais que pensam que as conquistas sociais dos portugueses já estão feitas só porque os cidadãos enchem os supermercados e embarcam nas dívidas e dívidas...). Mas existem diferenças. A génese e as lutas de outrora são de esquerda nuns. E noutros a palavra esquerda, só por si, faz-lhes confusão.

E existe - e ainda bem - uma veia mais à esquerda. Ou melhor, de esquerda. Estão nesse campo António Costa, Ana Gomes, Ferro Rodrigues, João Cravinho, Helena Roseta, entre outros. Estes, tal como outros, pretendem ver um partido verdadeiramente de esquerda. Com as preocupações centradas no tal Estado Providência (ainda uma miragem para Portugal), e lutam por uma sociedade com uma grande classe média (algo inexistente no nosso país).

Ah! E ainda existe o grupo do camarada João Soares que tende a desaparecer em uma geração.

Todos estes grupos tendem a convergir para se conquistar o poder. No entanto, e por vezes, ao chegarem ao poder - recordo aqui que a única facção que nunca esteve no poder foi a dos «esquerdistas» -, esquecem-se das pessoas que lhe estão à esquerda, e olham só para a direita. Guterres fez isso. Má gestão na escolha de pessoas. Acordos com o PCP ou com o BE eram considerados heresias...erros políticos e vicíos de poder centralista.

Contudo, tenho uma teoria. Daqui a uns anos o PS irá dividir-se em dois. Será criado um partido centrista (onde alguns ex-comunistas como Pina Moura farão a ultrapassagem a toda a velocidade para esse centro). Com gente do PSD e os centristas do PS. E será criado um partido de esquerda (o verdadeiro PS) que irá conjugar o bom senso desta ala do PS mais os ex-extremistas do Bloco de Esquerda.

Mas isto são suposições...a ver vamos...
FLG

Fantasmas

O PS continua a não saber exorcizar os seus fantasmas.

Sampaístas, Gamistas, Soaristas, Guterristas.

Na verdade, estas denominações correspondem a noções abstractas, que agradam particularmente à comunicação social, especialmente quando recebe as informações dos seus interlocutores privilegiados, para efeitos de intriga política.

Senão vejamos:
Sampaísmo e Gamismo pertencem já ao século passado, e a disputas internas e Congressos distantes. Quanto muito, há simpatizantes de Jorge Sampaio que hoje estão com Ferro Rodrigues (Ferristas ferrenhos?).

Quanto ao Soarismo, para além da micro-tendência de João Soares, existe a intervenção política de Mário Soares, cuja lucidez incomoda cada vez mais gente (inclusivé dentro do próprio PS). Será o Soarismo o conjunto de Socialistas que se revêem nas posições de Mário Soares?

Finalmente, o Guterrismo.
O Guterrismo morreu às mãos do seu criador.
António Guterres decidiu desistir do projecto que havia prometido e sufragado junto dos Socialistas para os 6 anos seguintes, enveredando por uma brilhante carreira na Internacional Socialista.
Até António Vitorino parece estar bem encaminhado para a presidência da Comissão Europeia.
Quem ainda hoje se afirma Guterrista, só poderá estar a pensar num movimento de apoio à sua candidatura presidencial (voltará? voltará?).

O único ponto comum entre estes Socialistas de referência passa pela esfera Presidencialista.
Sampaio ? Presidente da República, Mário Soares já foi, e tanto Jaime Gama como António Guterres são pontualmente apontados como potenciais candidatos ao cargo.
O que só vem provar que todos já pairam acima do partido.

Ficamos pois com os Ferristas?
Acho que a expressão é injusta para o próprio Ferro Rodrigues...

Já em 06/11/03, num post intitulado «Os Órfãos do PS», escrevi:

« O PS costuma ser visto como um agregado de grupos, grupúsculos, famílias, tendências ou correntes internas: Sampaístas, Ferristas, Guterristas, Soaristas, etc.

A comunicação social faz eco desta realidade virtual.
Procura os personagens mais conhecidos, e faz eco das suas posições e opiniões, e quanto mais polémicas melhor. A descrição de movimentações e conspirações, a favor e contra algo, ao nível regional ou nacional, dá a entender que hordas de socialistas se agitam para combates internos (as tais 'contagens de espingardas').

Estes mesmos personagens principais ficam obsessivamente preocupados com o que ouvem da comunicação social que alimentam, entrando num circuito fechado que em alguns casos já degenerou em paranóia.
»

Na política não existem nem herdeiros nem heranças.
Existem projectos políticos.
De preferência para o País...

E existem fantasmas do passado, muitos deles sentados na Assembleia da República.

Ainda a petição europeia

Nos comentários a um post no seu blog sobre este mesmo assunto, Daniel Oliveira tece duas considerações que urge corrigir.

1. Como já dissera, o facto de um imigrante não ter a cidadania de um dos Estados-membros não lhe retira os restantes direitos, os quais possui em igualdade com os dos cidadãos europeus. Nunca é um cidadão de segunda: quem imigra para outro país, sabe que não possuirá direitos políticos, salvo se solicitar, após um certo prazo, a naturalização; como normalmente pode deter dupla nacionalidade, é apenas uma questão de opção; aos filhos de imigrantes que nasçam ou desde cedo residam no país de acolhimento é ainda mais fácil consegui-la.

Consagrar o objectivo defendido na petição não teria assim qualquer efeito útil. Salvo se os defensores do politicamente correcto considerem um drama alguém ter dupla nacionalidade.


2. Pior: para Daniel Oliveira, não existe democracia em Portugal. Ele assim o diz.

Portanto, das três uma:

a) ou retira essa sua afirmação;

b) ou em seu entender democracia é algo reconduzível às ditaduras de matriz soviética ou a um nebuloso e macabro regime de governo dos autoproclamados "novos movimentos sociais", também ele soviético por natureza;

c) ou cora de vergonha.

E sim, é verdade, Daniel Oliveira e o seu partido são de extrema-esquerda.

Irresponsável

É a única forma de qualificar a proposta de José Eduardo Martins, pela qual todos aqueles que tenham ecopontos perto de casa e não procedam à separação do seu lixo doméstico.

Por uma razão muito simples. Muitos prédios têm conduta do lixo...se eu enviar o lixo não separado pela conduta, de que forma é que se vai saber que fui eu e não qualquer dos outros condóminos ou inquilinos ?

Sem prejuízo do ridículo que seria andar um polícia em cada esquina a verificar o que cada um mete no lixo...

De imediato se conclui pela absoluta inaplicabilidade da medida proposta.

quinta-feira, fevereiro 26, 2004

A Lamentável força «guterrista«

Lamentável. Esta notícia a ser verdade é pura e simplesmente lamentável.
Vamos ver do que será capaz António José Seguro. Não dúvido das suas capacidades, mas teremos o Governo a voltar a colocar em causa - e bem -, a herança «guterrista». Já chega! Deixem o PS ser de esquerda!

FLG

Navegação de Cabotagem

Há sondagens que ficarão na nossa história, ou pelo menos, nas nossa 'estórias'.

A de Sousa Cintra, numa amostra realizada à volta do Estádio José Alvalade, mostrando que todos os portugueses eram sportinguistas.

A do ‘Expresso’, no dia de reflexão das últimas Eleições Autárquicas, que na capa atribuía a vitória em Lisboa a João Soares com 10% de diferença.

Aquela dum site, a eleger recentemente Mourinho como o melhor treinador da Europa, Paulo Ferreira como melhor lateral da Europa (não sei se o relvado também foi a votos).

Há mesmo um célebre episódio do "Sim, Senhor Ministro" (que ainda não saiu em DVD), onde o impecável Sir Humpfrey punha o seu Ministro a responder sim e não ao Serviço Militar Obrigatório, consoante a forma das perguntas colocadas.

Não serve esta introdução para por em causa a competência das empresas de sondagens, muito antes pelo contrário. Há empresas que já mostraram muito serviço nesta área, por exemplo, a ‘Amostra’.

Serve sim para comentar o debate sobre sondagens entre o Bloguítica, o Irreflexões, o Tugir e o Terras de Nunca, entre outros.

Um dos principais enviesamentos da vida política, partidária e governamental, é resumir-se à leitura dos jornais, ouvir os opinion makers nas televisões, e utilizar sondagens como tableau de board, para aferir e corrigir as suas estratégias.

O distanciamento da realidade é notório e galopante.

Neste aspecto, os índices de popularidade fazem lembrar as votações para o Big Brother ou para a Academia de Estrelas.

Por exemplo, enquanto os media derem o mesmo espaço e destaque a Francisco Louçã, ele terá sempre um bom índice de popularidade (tal como já havia acontecido com Paulo Portas, nos seus tempos de oposição). Curiosamente, para além de muita gente continuar embevecida com o Bloco de Esquerda, ainda não percebi se as clivagens ideológicas que existiam nos partidos políticos bloquistas já foram resolvidas, ou aparecem numa síntese programática/pragmática em versão 'sound byte', para efeitos de gestão de agenda política mediática.

Mas o melhor case study sobre o assunto será mesmo Pedro Santana Lopes, e analisar quais as razões da sua popularidade. Poucas terão a ver com política (pensamento político, ideias ou convicções políticas).
Aliás, sempre que lhe pedem para entrar nesse terreno, ele fala em Sá Carneiro, todos ficam comovidos e pronto.

Finalmente, em relação às sondagens 3 em 1 sobre intenções de votos, que hoje reflectem o estado de conglomeração dos media (são sempre uma TV + um jornal + uma rádio), conseguem nunca bater certo umas com as outras, mesmo quando aparece o PS à frente de todas elas.

O que não deixa de ser estranho. Estes estudos, o que dizem é que Ferro Rodrigues não é muito popular, mas o PS ganharia hoje as eleições. Resta saber pois se com ou sem Ferro Rodrigues...

Moral da 'estória': se algum dirigente socialista está porventura satisfeito com estas vitórias virtuais do PS nas sondagens, terá provavelmente aquele ar tontinho do Durão Barroso ao congratular-se com o défice virtual de 2,8 %.


quarta-feira, fevereiro 25, 2004

Cuidado com as desatenções

Maria Manuel Leitão Marques queixa-se de que, tendo estado nos aeroportos de Lisboa, Malabo, Zürich e Yaoundé, apenas no primeiro o acesso ao avião tenha sido realizado através da tradicional escada, e não pela mais moderna manga.

MMLM está certamente a esquecer-se de duas situações:

1 - Viajando na Swiss Airlines, certamente que as poucas mangas existentes em Malabo e Yaoundé são prioritariamente concedidas aos aviões das companhias aéreas europeias.

2 - Já acedi a aviões pela tradicional escada tanto no enorme aeroporto de Frankfurt como no bem mais recente e moderno aeroporto Eleftherios Venizelos, em Athína...

Feira do Livro

Aplaudo de pé o post País de Feiras, no Mata-Mouros.

Petição "Todos Somos Europa"

Vital Moreira apela à assinatura dessa petição. Por minha parte, não o farei. Aliás, assiná-la é um manifesto acto de irresponsabilidade.

De facto, que lógica teria conceder uma "nacionalidade europeia" a todos os nacionais de outros países que residam num dos Estados-membros da União ?

Contudo, não é difícil verificar quais as verdadeiras (e perigosas) intenções dos autores da mesma. Consideremos, para já, que, excepção feita aos direitos políticos (e mesmo assim não na totalidade, vide o existente e verdadeiramente inacreditável estatuto dos brasileiros em Portugal, que urge remover quanto antes), todos os cidadãos de Estados não-membros da UE têm direitos iguais aos dos nacionais em todos os Estados da União.

O que, juntando esse facto ao de se reivindicar o direito de voto sem qualquer reciprocidade (o que, como já anteriormente dissemos, é próprio de Estados que não se dão ao respeito e constitui uma manifesta desprotecção dos seus residentes nesses outros países) nas eleições LOCAIS e EUROPEIAS, permite concluir que:

Tal petição é uma tentativa encapotada de criar junto dos cidadãos europeus uma suposta "consciência europeia" acompanhada da desvalorização absoluta dos Estados nacionais. Isto é, aquilo que erradamente se costuma chamar "federalismo" em Portugal. É uma tentativa dos mais inconscientes defensores da aberrante ideia de Estados Unidos da Europa de os querer criar pela porta do cavalo. Repare-se que de acordo com a ideia defendida pela petição esses cidadãos estrangeiros teriam uma cidadania europeia mas não a respectiva cidadania nacional...

Para além de não concordar com o conteúdo explícito, todo o conteúdo implícito apenas demonstra desonestidade. Pura e simples.



segunda-feira, fevereiro 23, 2004

Verdadeiramente lamentável

É o adjectivo que temos que dar à recandidatura de Ralph Nader a Presidente dos Estados Unidos. E se aqui se considera que desta vez o ambientalista terá muito menos votos que em 2000, não podemos deixar de pensar que mais uma vez a extrema-esquerda faz o jogo da direita.

Vital Moreira e as portagens

Vital Moreira recebeu os devidos comentários críticos devido à sua posição de defender portagens em todas as auto-estradas, designadamente na A23.

O que quem com ele polemiza parece ignorar é o facto real que está por trás da sua posição. Vital Moreira, como sempre, actua apenas e só em defesa do que julga serem os interesses de Coimbra, quando é o caso. E o seu problema é o tráfego de pesados deixar de passar por ali.

Lembre-se que no referendo da regionalização VM defendeu o não por considerar o projecto a votos como um conimbricídio. Ao desenvolvimento com prioridade ao interior, VM preferia o patético modelo das grandes regiões, apenas para a sacralização de Coimbra como capital do centro. É triste.

O Estado e a Sociedade

Teixeira Pinto, em comentário ao meu post Complexo Geracional, veio dizer que não compete ao Estado decidir o modo como a sociedade se pensa a si própria.

Precisamente por esse motivo é que não se pode qualificar o desinteresse social que cada um tenha. O Estado tem que ter esse interesse social, ponto. E não pode estar à espera que os particulares tratem das questões com interesse social, nem depender deles para esse fim.

Assim, é necessariamente inadmissível condenar alguém pelo seu desinteresse social, que corresponde a uma sua opção livre, consciente e individual, tão respeitável como outra qualquer que não seja ilegal.

sexta-feira, fevereiro 20, 2004

Velha Esquerda

Tive conhecimento da troca de argumentos entre o Barnabé e o Blog de Esquerda, por um lado, e o Observador, por outro, a propósito dos posts deste último intitulados A Nova Esquerda e a sua Tentativa em Destruir a Civilização Ocidental Liberal.

Há que fazer os devidos comentários ao que é dito nesses posts:

- essa esquerda é tudo menos nova, o trotskismo e o estalinismo são do mais velho que há, estando mascarados pela capa dos chamados direitos de terceira geração;

- se a velha esquerda é o PCP e a nova esquerda é o BE e parte do PS, o restante PS não é esquerda ? Tal raciocínio é errado e inadmissível;

- o modelo de Estado europeu pode ser qualificado como liberal-socialista ou socialista-liberal, não como liberal, aliás num modelo liberal não existiriam os direitos e garantias sociais típicos do modelo europeu.


Sem prejuízo de mais comentários que venha a fazer...



Medo ???

Diz o Público que houve estudantes da Escola Pedro de Santarém que não queriam ir à manifestação do Ensino Básico e Secundário com medo do Conselho Executivo da escola, e que decidiram definitivamente a sua não ida quando viram o carro da PSP Escola Segura.

Considerando que é absolutamente impossível que os mesmos pudessem sofrer alguma represália, e mesmo sofrerem ameaças, tanto do Conselho Executivo como da PSP, como é que é possível que jovens de 13 e 14 anos se sintam ameaçados nos seus direitos mais básicos ?

A reflectir, portanto.

quinta-feira, fevereiro 19, 2004

Complexo Geracional

Neste artigo, Pacheco Pereira considera que o futebol acaba por ser um factor do nosso desinteresse social, da nossa anomia, do nosso atraso.

Para além das considerações que já fiz sobre esse tipo de afirmações serem típicas de uma geração que anda à volta dos 45-65 anos e foi muito influenciada pela França, mais se prova que JPP, no seu quadro mental, nunca abandonou na realidade o marxismo como modelo de visão.

De facto, entre o que disse e chamar ao futebol objecto de alienação a diferença é zero.

Quanto ao desinteresse social das pessoas, lembro que essa obrigação de interesse social cabe ao Estado e a mais ninguém. Pensar que os cidadãos, na sua vida individual, têm de andar a pensar na vida alheia é uma importação da cultura norte-americana. Cada um por si e o Estado por todos, é o lema mais que óbvio para uma sociedade saudável.

Faleceu Acácio Barreiros

Costuma-se falar nestas funestas circunstâncias em perda irreparável para o País e para a Democracia Portuguesa.

Mas faleceu alguém que nunca perdeu o verdadeiro sentido de fazer política, e acima de tudo um lutador.
Talvez por isso, alguns de nós esperávamos que o inevitável não chegasse a acontecer.

Digo que Acácio Barreiros faleceu, porque não morreu.
Pelo menos para aqueles que o conheceram e nunca o esquecerão.
Para nós, Acácio Barreiros continuará vivo.


quarta-feira, fevereiro 18, 2004

Villas Más

O Director do Refúgio Aboim Ascensão prestou declarações nas quais vem dizer que é melhor para uma criança passar grande parte da sua vida num orfanato do que adoptada por um casal homossexual.

A seguir a esta, seguem-se outras afirmações verdadeiramente lamentáveis e indignas:

- "a homossexualidade não é um comportamento normal";

- "o carinho por homosexuais não é carinho organizado, estruturante - gostam deles próprios através da criança" (esta dá mesmo vontade de rir, agora as pessoas têm que organizar o seu carinho ahahahah)

- "a adopção por homossexuais afecta a sexualidade natural da criança";

- "qualquer criança também tem direito ao exercício da sua sexualidade original", e "criar crianças em ambiente homossexual é interferir com o normal percurso do exercício dessa mesma sexualidade".

Dizia há alguns anos creio que o então Presidente da ILGA que, por essa ordem de ideias, deveriam as famílias monoparentais ser proibidas, isto sem esquecer que a grande maioria dos homossexuais provém de casais heterossexuais...

Em qualquer caso, são afirmações chocantes mesmo para quem não defenda a possibilidade da adopção por casais homossexuais.

Pela minha parte, defendo-a, por três razões:

- uma de carácter político e social: é importante dar famílias às crianças que não as tenham, e esse é o principal valor em jogo;

- uma de carácter ideológico: partindo sempre a recusa da adopção por estes casais do receio relativamente à sexualidade das crianças, nunca pode o Estado fazer esses juízos de valor, pois desse modo está a qualificar comportamentos que são única e exclusivamente do foro privado;

- e, maxime, por uma de carácter jurídico: à face da lei portuguesa, qualquer solteiro, independentemente da sua orientação sexual, pode adoptar, pelo que impedir a adopção por casais homossexuais redunda numa grosseira e inconstitucional violação do princípio da igualdade relativamente ao estado civil.

A propósito, lembre-se que o Código Civil nessa matéria contém outra inconstitucionalidade grosseira do mesmo tipo, tendo em conta que a idade a partir da qual se permite adoptar é de 25 anos para casados e de 35 anos para solteiros.


Mas o principal motivo pelo qual escrevo este post é a mais grave das afirmações de Villas-Boas: "Ser lésbica não é ser mulher na plenitude natural do termo, porque se assim fosse não haveria o problema da procriação natural".

Ou seja. Está a reduzir a mulher à condição de mãe. Ou, pior, de objecto parideiro. O que ainda consegue ir muito mais além do que o que antes diz.




Infelicidade

É de uma manifesta infelicidade o post do Barnabé no qual a referência ao julgamento de Aveiro, por acusação da prática de IVG, é acompanhado pela fotografia de uma mulher coberta com uma burqa.

Comparar a criminalização da IVG à obrigatoriedade da utilização da burqa só se pode dever a uma, ou várias, destas razões:

a) completa falta de bom senso e de razoabilidade;

b) profunda desorientação;

c) feminismo;

d) desconhecimento básico do catálogo de direitos fundamentais.


Enfim, cada país tem a extrema-esquerda que merece.

Cuidado...

Após ler o texto "O Radicalismo" de Pedro Adão e Silva, há que fazer um reparo.

Essa estratégia de colocar o PP como suposto motor e dono da política do Governo não é a mais indicada para o PS. Por muito que se pense que é uma forma de afastar o eleitorado do centro do PSD, está-se claramente a conceder a esse partido um estatuto de "aceitável desde que sozinho", e daí até Durão Barroso voar a caminho da maioria absoluta é um passo.

O combate do PS tem que ser claramente contra o PSD. Não se pode dar importância a partidos pequenos. Aliás, há que ser claro: os discursos mais reaccionários de Paulo Portas são dirigidos à captação e fidelização de votos no eleitorado da direita, para que este fique com a ideia de "Os outros são só centro, este é que é mesmo direita".

terça-feira, fevereiro 17, 2004

Que Grande Compromisso...

Tive agora a oportunidade de ler as 30 propostas que sairam do Conclave do Beato, onde a suposta nova geração de empresários e gestores estiveram a discutir o futuro da economia portuguesa.

Destas 30, só as últimas 3 são propostas às «empresas, empresários e gestores»,.
Todas as outras são propostas que envolvem a intervenção do Estado.
E mesmo nestas 3 propostas, para além da proposta 28 para a criação «duma cúpula do mundo empresarial», as restantes estão condicionadas também pela colaboração do Estado.

É esta a dinâmica da «nata» dos novos gestores e empresários?

Que Pacto de Estabilidade e Crescimento Queremos?

O Irreflexões e o The Bull & The Bear estão a realizar um interessante debate sobre os fundamentos do Pacto de Estabilidade e Convergência (PEC), e quais as hipóteses para uma reformulação credível.

Para não cair na tentação de uma teorização excessiva, nomeadamente sobre a origem do PEC, gostaria de fazer apenas algumas referencias.
O PEC um subproduto do processo de criação na União Europeia de uma União Económica e Monetária.
Para perceber este longo processo, seria necessário rever toda a teoria económica sobre Zonas Monetárias Óptimas, desde da década de 60, com autores como Mundell, Makinnon, Kennen e Fleming, que começaram a estudar em que condições é aconselhável (desejável) uma união monetária, até os autores de referência mais recentes (por exemplo, Masson, Bayoumi e Eichengreen, Frankel e Rose, Bofinger, Tavlas, Melitz).
Como não poderia deixar de ser, estes autores seguem diferentes abordagens, conotadas com diferentes escolas de pensamento económico.
O estabelecimento de critérios de convergência para a entrada no Euro e o próprio PEC seguem a linha teórica Monetarista, nomeadamente ao privilegiarem a credibilidade da política monetária e dos Bancos Centrais, para uma rápida integração dos mercados financeiros.
Ou seja, a estabilidade e convergência nominal, e em particular da inflação.

Mas agora que o Euro é uma realidade, a «Crítica de Lucas» prevalece sobre todos os citados, e a questão de fundo passa a ser quais os mecanismos que deverão aperfeiçoar a actual União Económica e Monetária, em vez da rigidez teórica dos pressupostos teóricos ideais para uma Zona Monetária Óptima.

Neste aspecto, agrada-me o pragmatismo da abordagem apresentada no Irreflexões.
As primeiras soluções que propõe, como «A não contabilização de despesas de investimento», «O défice expurgado do ciclo», ou «Uma serpente para o défice», são aperfeiçoamentos do actual sistema. Provavelmente serão o tipo de soluções viáveis a curto prazo.
«A solução de mercado» faz-me lembrar o mercado de quotas de poluição proposto em Quioto.

O principal problema de uma economia ao integrar-se numa União Monetária, perdendo assim instrumentos de política monetária e cambial, reside na redução da capacidade de manobra de reacção perante os ciclos económicos e os choques assimétricos. Numa economia pequena como a nossa, as dificuldades são obviamente maiores.

Ao nível dos ciclos económicos, a concertação das diferentes políticas orçamentais parece-me ser a melhor solução. Mas nunca à volta de indicadores nominais rígidos, cuja consequência será sempre a adopção multilateral de políticas orçamentais, como fizeram a França e a Alemanha, por muitos lamentos e queixas que Prodi queira apresentar.

Ao nível dos choques assimétricos, prefiro uma solução mais federalista.
Avançar no federalismo fiscal, procurando aumentar o Orçamento Comunitário para que este possa ter políticas comuns para além da PAC. Nestas políticas estaria incluída a gestão de choques assimétricos no espaço económico da União Monetária, nomeadamente através da criação de estabilizadores automáticos de intervenção objectiva numa Europa de regiões.

Mas o federalismo é uma palavra que ainda assusta muita gente, muito embora já haja quem questione a nossa federação na Espanha...

Finalmente !

Tiro o meu chapéu a David Justino e a Abílio Morgado.

FINALMENTE vai ser feita alguma limpeza no Ministério da Educação, retirando dos serviços muitos destacados cujas funções se limitavam a ser a defesa de uma pedagogia politicamente correcta.

O que apenas merece uma questão: desculpando Oliveira Martins, Santos Silva e Júlio Pedrosa pelo pouco tempo que estiveram na 5 de Outubro, por que motivo é que o seu antecessor Marçal Grilo nada fez nessa matéria ?

quinta-feira, fevereiro 12, 2004

A insustentável leveza do Primeiro-Ministro

Agora o Governo e o Primeiro-Ministro querem ser polícias da saúde dos Portugueses. Qual Mao.

Entre outras, duas medidas propostas são verdadeiramente patéticas:

1. Limitar a venda e consumo de álcool nas universidades.

Para além de não se conhecerem desacatos nesses locais (ao contrário dos recintos desportivos, o que justifica a proibição), os universitários são maiores de idade, pelo que essa limitação é profundamente ridícula.

Mais. Tal medida só tem a consequência de aumentar o absentismo escolar, pois quem quer tomar bebidas alcoólicas facilmente se deslocará para fora do estabelecimento de ensino para o fazer...

2. Proibição de fumar nos locais de trabalho

Não é preciso ser bruxo para sabermos que logo à partida, e ao contrário do que acontece na Irlanda, tal medida nunca se aplicará a bares e restaurantes, sob pena de o Governo vir a enfrentar uma verdadeira revolução.

Em qualquer caso, é outra medida repleta de boas intenções que pode ter custos terríveis. A sua implementação terá terríveis consequências ao nível da produtividade no sector dos serviços. As pausas para tabaco serão mais que recorrentes...

Haja bom senso !


Mais disparates de Santana Lopes

Então não é que agora quer colocar separadores nas faixas BUS ? Note-se, a propósito, que "bus" já é uma palavra portuguesa, aliás a ler como se outra palavra de origem portuguesa fosse. Se o inglês "bus" significa autocarro, o português "bus" significa corredor de transportes públicos. Todos certamente já ouviram a expressão "Não vás por aí, é bus" !

Mas o problema em si não são as faixas BUS. Elas podem e devem existir, onde isso se justifique. Contudo:

a) não podem ser implantadas a todo o custo, sob pena de se verificar o caos total no trânsito, p.ex., se na Av. Liberdade é mais que lógico que elas devem existir, a que existe na Av. Columbano Bordalo Pinheiro é um verdadeiro atentado à mobilidade, pois que veio tornar essa artéria nunca alvo de engarrafamentos demasiado graves num caos;

b) transferi-las para o centro da via implicaria, para além dos gastos relativos à transferência das paragens, os aborrecimentos decorrentes das obras e, isto para não falar das alterações radicais no espaço urbano, p.ex. com a destruição para reconstrução dos espaços laterais da Av. Liberdade;

Para além de isto ser demagogia da mais grosseira, enquanto não se vê o metropolitano efectivamente crescer.

Freitas do Amaral e a IVG

Diogo Freitas do Amaral apresenta-nos hoje na Visão um ensaio sobre a IVG, procurando formular uma solução de compromisso.

DFA defende uma alteração ao Código Penal, inserindo-se no art. 142º um novo número que dissesse que a IVG praticada a pedido da mulher grávida, fora dos casos previstos neste artigo, e até às 12 semanas de gravidez, presumir-se-á ocorrida em estado de necessidade desculpante, com dispensa de pena, salvo se o Ministério Público apresentar prova concludente em contrário.

Há que louvar o esforço na formulação de uma solução de compromisso. Contudo, isto não é suficiente:

- se a lei espanhola é muito semelhante à portuguesa e a aplicação é o que se sabe, não custa imaginar certos magistrados do MP a tentarem por todos os meios criminalizar mulheres cuja conduta não é de todo censurável;

- ainda sobre o MP, e se há anos circulam rumores que, a propósito do caso Ruben Cunha, cuja família pertence à Opus Dei, a escolha do magistrado responsável pelo processo, aquando da mudança legalmente prevista, não foi inocente, tendo aquela organização religiosa movido mundos e fundos para ficar um dos seus apaniguados colocado naquele lugar,
já se antevê um terrível lobbying no sentido de existirem penalizações, entendidas como exemplares;

- é terrivelmente injusto colocar a hipótese de qualquer mulher ser julgada, e mesmo investigada, pela prática de uma IVG;

- e, acima de tudo, com a adopção de uma tal proposta continuariam os profissionais de saúde a ser possivelmente penalizados, logo, continuaria a existir a chaga social do aborto clandestino, e a prática de IVG sem as mínimas condições de saúde exigíveis num Estado da União Europeia.

Daí que, mesmo louvando as boas intenções de Freitas do Amaral, não possa estar de acordo com a proposta que apresenta.

A questão da pedofilia

A inenarrável Dulce Rocha deslocou-se à Assembleia da República para discutir as normas penais relativas à posse de material pedófilo.

E, como é costume, dali tinha que sair asneira. Aliás, se bem virmos, o que não falta aos supostos especialistas da área é a vontade de colocar em prática ideias dignas de Estados totalitários e contrárias a todos os princípios do Estado de Direito.

Por exemplo: desta vez, Dulce Rocha vem dizer que nos crimes cometidos contra crianças deve estar excluída a figura do crime continuado.
Em primeiro lugar, e reportando-nos a situações de abuso sexual, ainda estou para saber por que motivo é mais grave um abuso sexual que preencha esses requisitos se for cometido contra uma criança do que contra um adulto.

Ou seja:

1. A gravidade dos crimes não se mede pela possibilidade ou não de existir crime continuado, mas pela sua moldura penal.

2. De resto, o facto de se tratar de uma prática continuada tem tanta relevância para todas as diversas situações.

Isto redunda numa evidente inconstitucionalidade. O que espanta, ainda assim, é a total desonestidade intelectual de Dulce Rocha. Quer entrar pela janela, partindo-a, em casa onde julga ver a porta fechada.


Outra jurista, a Deputada do PSD Teresa Morais, defende que a posse de pornografia infantil passe a ser criminalizada, por considerar ser essa a única maneira de combater o respectivo comércio.

O que me merece alguns comentários:

- em primeiro lugar, tal medida não iria resolver rigorosamente nada, e em si não resolve a real e preocupante questão do abuso sexual de menores;

- se o abuso sexual de menores é crime, tal se deve à enorme relevância social que têm a defesa da integridade física e da auto-determinação sexual daqueles, e como tal devem ser punidos aqueles que deles abusem ou explorem o abuso, o que não é a situação do mero observador do material pornográfico;

- ao entrar-se por essa via, segue-se por um caminho terrivelmente escorregadio em matéria de direitos fundamentais, pois daí até se querer punir os pensamentos e intenções não vai uma distância assim tão longa;

- essa proposta vinda de Teresa Morais, que se tem notabilizado como defensora do feminismo mais extremista, acaba por não espantar, pois está imbuída da mesma lógica que leva a que na Suécia seja crime procurar o serviço de uma prostituta, tudo, claro (quem não conheça os suecos que os compre), em nome da ideologia feminista de que as prostitutas são sempre umas exploradas por homens e que o cliente é sempre alguém que em nome do machismo delas quer abusar...


quarta-feira, fevereiro 11, 2004

Compromisso Portugal

Infelizmente, tivemos mais do mesmo. A repetida reivindicação de inexistência de segurança dos postos de trabalho, a defesa dos despedimentos livres.

Mas há alguém que explique a essas mentes que isso não vai aumentar a produtividade e que, em rigor, só vai produzir um asfixiamento da economia porque toda a gente vai pensar "e se eu fico sem emprego amanhã" com a consequente redução drástica do consumo privado e do investimento ?

terça-feira, fevereiro 10, 2004

Lendo Gráficos...

O Blog The Bull and The Bear, na sequência da troca de opiniões que temos mantido, apresenta hoje um gráfico sobre o crescimento económico de Portugal vs a média da Europa (12), que eu recomendo a visita, para podermos distinguir os conceitos de convergência e divergência económica.

Se observarem esse gráfico, distinguirão duas linhas: a rosa a taxa de crescimento do PIB português, em azul a taxa de crescimento do PIB da Europa (12).

Atendendo a que a nossa economia tem um atraso (diria endémico) face à Europa, existe convergência económica sempre que a taxa de crescimento do nosso PIB for superior à europeia, ou seja, sempre que a linha rosa esteja acima da linha azul.

O gráfico mostra que houve convergência permanente e consistente da nossa economia entre 1995 e 2000 (aquilo a que chamei o período de ouro da nossa economia).

O mesmo gráfico mostra que em 2000, a evolução do ritmo de crescimento do PIB português acompanha a quebra dos 12, estando as linhas em sobreposição, pelo que não houve nem convergência nem divergência económica. Estivemos a marcar passo.

Ao contrário do que é defendido, o gráfico mostra igualmente a existência de alguma correlação nas subidas e descidas das taxas de crescimento dos PIBs, o que é sinal da nossa clara e normal interdependência com as restantes economias europeias. O que também explica a queda da nossa economia em 2000.

Finalmente, o gráfico mostra que, a partir de meados de 2002, a linha rosa passa para abaixo da linha azul, o que significa uma divergência económica: a economia portuguesa passou a crescer a um ritmo inferior ao da média europeia.

O último valor do gráfico para Portugal é negativo, representando a recessão económica em que estamos.

O que eu gostava agora de ver comentado é porquê, dois anos depois e três Orçamentos de Estado aprovados com a maioria absoluta em vigor, continuarmos nesta divergência face à Europa.


As Reformas dos Bailarinos

Lendo o Barnabé tive acesso à questão da reivindicação dos bailarinos da Companhia Nacional de Bailado relativamente a um eventual regime específico de aposentação.

Antes de mais, não vou aqui versar sobre dever ou não existir uma Companhia Nacional de Bailado. Não é esse o ponto essencial, uma vez que o que defendo quanto a isso não prejudica esta discussão.

Pois os bailarinos do CNB desejam obter a aposentação aos 45 anos e após 20 anos de serviço, para além da possibilidade de reconversão profissional, creio que em alternativa.

É uma reivindicação que me parece parcialmente justa. Justa, porque faz todo o sentido que a profissão de bailarino seja considerada profissão de desgaste rápido. Apenas não posso concordar se daí resultar a adopção de um regime diferente relativamente às outras profissões assim consideradas.

Contudo, tenho necessariamente que me manifestar totalmente contra o âmbito desse regime. Não há nenhuma razão para que os bailarinos do CNB sejam beneficiados face a todos os outros que exercem a mesma profissão noutros locais.



Compromisso Portugal

É hoje, no Convento do Beato, o tão esperado ‘Compromisso Portugal’.

É descrito como um encontro de mais de 500 gestores e empresários, escolhidos a dedo pelos organizadores do evento, que irão discutir o futuro do nosso País.

Segundo a ‘Prémio’, a ideia surgiu numa almoçarada entre o Presidente da Vodafone Portugal (António Carrapatoso), o CEO da GALP Energia (António Mexia), o Presidente da SOMAGUE (Diogo Vaz Guedes) e o Presidente da Logoplaste (Filipe de Botton).

Ainda dizem que a informalidade da nossa economia não é uma mais-valia!

A expectativa é pois grande, nomeadamente sobre os resultados da iniciativa.

Aliás, fala-se já em António Carrapatoso para Ministro...

Dias de férias adicionais

Na sequência do novo Código do Trabalho, que concede 3 dias suplementares de férias por ano aos trabalhadores sem faltas, a CGTP e a CIP pressionam desde já o Governo no sentido de uma definição sobre se tal regime se aplica já para 2004.

Eu prefiro interrogar-me de outra coisa: o que é um trabalhador sem faltas ? Poderá ser prejudicado quem se ausenta por doença por poucos dias ? Poderá ser prejudicado quem exerce funções, por exemplo, como autarca ou sindicalista ?

Caso isso possa acontecer, é algo de absolutamente gritante e que atenta aos princípios básicos de igualdade e de participação cívica. Esperemos que os sindicatos actuem e que o Tribunal Constitucional possa desde já declarar a respectiva inconstitucionalidade.

Ainda a Educação para a Saúde

7 anos com essa disciplina ?


Eu arrisco-me a dizer que é 1 ano de disciplina e 6 anos a discutir o sexo dos anjos...


O que só prova que a ideia pseudo-original (porque nada acrescenta ao Desenvolvimento Pessoal e Social) e mais abrangente de David Justino é menos disparatada que esta do PSD.

Desta vez não discordo...

...com os grupos feministas, quando dizem que o véu supostamente islâmico é um símbolo de opressão da mulher.

Por alguma razão, contudo, utilizei a expressão não discordo em lugar de concordo.

Não só porque considero a lei Stasi profundamente ridícula, na linha do que Vital Moreira já expôs sobre o assunto, como também porque é um símbolo de natureza cultural e não religiosa.

E é assim que deveria ser encarado. Não é por acaso que tais adereços têm pouca ou nenhuma expressão nos países europeus com uma alta percentagem de população muçulmana, a Albânia e a Bósnia-Herzegovina, considerando que a situação na Turquia tem contornos específicos.

E, acima de tudo, trata-se de uma opressão no sentido de os outros não podem ver o que é meu. Enfim.

segunda-feira, fevereiro 09, 2004

Trapalhada

A Câmara Municipal de Lisboa está a transferir um dos seus serviços de Alcântara para os Olivais.

O que seria normalíssimo, não fosse o caso de:

a) estar a CML a proceder à venda de um imóvel que lhe pertence;

b) esse imóvel ir ser demolido para que aí nasça um empreendimento privado de um grupo estrangeiro;

c) o serviço ir ser transferido para um edifício arrendado.

Para além da mais que evidente má gestão e desbaratar de património, esta situação não vos parece MUITO estranha ?

Odiamos a Censura

Por isso subscrevemos na íntegra este artigo de Mário Bettencourt Resendes.

domingo, fevereiro 08, 2004

É o Descrédito!!

Augusto Santos Silva, em Já Lá Dizia Confúcio... no «Público», referindo-se aos princípios enunciados por Confúcio para uma boa governação, classificou a actuação de Durão Barroso:

«Descrédito é a palavra-chave para o futuro político imediato do Durão Barroso

Completamente de acordo.
É exactamente por considerarmos que Descrédito tem sido a palavra-chave para descrever o actual panorama político, que este Blog foi criado.


Perplexidades

Este fim de semana, qualquer Socialista que tenha lido jornais terá ficado perplexo.

Primeiro, depois de um conjunto de posições de Pina Moura a demarcar-se da linha política da actual direcção do PS, surge no «Público» que o «Governo Admite Nomear Pina Moura para Um Alto Cargo», mais especificamente «para um alto cargo em instituições financeiras, como a Caixa Geral de Depósitos ou o Banco de Portugal». Nem vale a pena comentar.

Mas o pior, foi o anúncio informal de que Sousa Franco será o cabeça de lista do PS ás eleições europeias!
Sousa Franco?
Cabeça de Listas do PS?
Porquê?

Quais as razões políticas que podem motivar tamanha escolha?

Estará Ferro Rodrigues desesperado por arranjar o mais depressa possível uma derrota eleitoral, para que possa sair da liderança do PS?

sexta-feira, fevereiro 06, 2004

Não Andará a Direita Nervosa?

Quanto às divergências de análise que nos têm afastado do The Bull and The Bear, devo apenas referir o seguinte:

- A crise internacional (e em especial na 'Zona Euro') começou em 2000, razão pela qual se iniciou igualmente a desaceleração do crescimento da economia portuguesa. Uma análise mais séria devia ter isto em atenção. Mas 'eu ainda sou do tempo? de ouvir o PSD, na Campanha eleitoral de 2001, dizer «com o mal da Alemanha podemos nós bem».

- Como, infelizmente, as projecções, por mais oficiais que são, não têm correspondido à realidade, não podem ter o mesmo valor dos valores reais já verificados. Pelo que sei, não se pode ainda afirmar tecnicamente que já saímos da recessão. Espero bem que sim. (para Luís Delgado, há um ano que estamos na retoma eminente...). Mas se a nossa Economia veio abaixo com as restantes, não mostra o mesmo comportamento na subida. É ver a nossa vizinha Espanha.

- Ou seja, se há condicionantes e responsabilidades externas, terá que haver claramente erros de política económica interna. Nas eleições de 2001, o Governo do PS foi julgado pelos que terá eventualmente cometido. Mesmo assim, não ficou a muitos votos do PSD.

- Constato pois que ainda não encontrei ainda nenhuma resposta às questões que tenho levantado sobre as actuais opções políticas deste Governo. Pelo contrário, parece que quem continua a ter responsabilidades governativas são António Guterres e agora... Mário Soares!

Aliás, quando a Direita tem de atacar Mário Soares para se defender, está praticamente tudo dito.
Se querem utilizar o discurso oficial do CDS de Paulo Portas, a escolha é vossa.
Porque o PSD, na altura da entrada do FMI em Portugal, também fazia parte do Governo (o tal de 'Bloco-Central').

Agradeço contudo o estímulo de memória, que me fez lembrar aquela sessão solene nos Claustros dos Jerónimos, com Mário Soares e Filipe Gonzalez a assinarem os tratados de adesão à então CEE...

Era Primeiro-Ministro Mário Soares
.

O Regresso...

...de Vasco Pulido Valente, ao seu melhor.
No DN de hoje, vulgariza facilmente Paulo Portas e o inexistente CDS/PP.


«Não admira que o CDS, sempre um objecto gasoso, esteja em perigo de se esfumar. »

A não perder o texto completo.

O PS e as coligações

A propósito do meu post Arraial de Pancadaria, o De Direita vem afirmar que o parceiro natural de coligação do PS é o CDS-PP.

De facto, o CDS dos anos 70 era sem qualquer dúvida o parceiro natural do PS. E a evolução assim o confirma, com a quase perfeita consonância de posições entre o grupo democrata-cristão encabeçado por Maria do Rosário Carneiro e os socialistas. Com a inclusão da larga maioria dos órfãos da DC na coligação L'Ulivo, de esquerda, em Itália.

O advento do neoliberalismo com a sua absoluta insensibilidade fez deslocar os democratas-cristãos para o centro-esquerda do espectro político.

Actualmente, o CDS-PP está muito longe de ser o que era. Onde situá-lo ideologicamente ? Naturalmente, com os seus parceiros europeus:
- o RPF de Charles Pasqua;
- a AN pós-fascista de Gianfranco Fini;
- o Fianna Fáil, partido que governa a Irlanda, liderado por Bertie Ahern;
- o Partido Popular Dinamarquês, integrante da coligação governamental desse país, e por vezes acusado de ser de extrema-direita,

Para além destes partidos dos novos Estados-membros:

- o PiS polaco, populista, que vale 9,5% dos votos;
- a ER, União do Povo Estónio, conservadora, com 13% dos votos nas últimas eleições;
- a TB/LNNK, Aliança Pátria e Liberdade, com 5,4% dos votos na Letónia;
- e ainda a LU, partido eslovaco sem representação parlamentar.

O que situa o PP fora da extrema-direita, mas no canto direito da direita. Quadro em que têm de ser situadas as afirmações saudosistas relativamente à Guerra Colonial e ao salazarismo.

Ou seja, o PP representa socialmente todos aqueles que não estão contra a democracia, mas aos quais seria indiferente ou mesmo preferível viver sob um regime autoritário.

Para além de uma parte substancial dos seus militantes defenderem um liberalismo económico extremo. Como um deles já por uma vez me disse, é inadmissível que um empresário não possa despedir livremente um trabalhador para colocar outro melhor pelo mesmo salário.

Por todos estes motivos, considerar que o PP é o parceiro natural de coligação do PS é um erro crasso.


Então...qual será o parceiro natural de coligação dos socialistas ?


À partida, nenhum outro partido, dadas as claras diferenças ideológicas. Daí que o PS deva SEMPRE ter como objectivo vencer eleições com maioria absoluta. Aliás, em contrário tal seria de uma falta de ambição totalmente inaceitável para aquele que é o maior partido português e um dos dois que, no actual contexto, pode aspirar a liderar um Governo.

Mas...em caso de vitória sem maioria absoluta, ou de um quadro político em que o PSD é o partido mais votado mas existe uma maioria de esquerda no Parlamento, qual a atitude que cabe aos socialistas tomar ?

Excluindo à partida as coligações tanto com o PP como com o BE, por motivos mais que óbvios, e excluindo um bloco central, a bem da formulação de alternativas políticas, restam apenas duas opções: formar governo minoritário ou estabelecer um acordo de coligação governativa com o PCP.

Inclino-me para esta última hipótese. O PCP tem demonstrado uma (até demasiada) flexibilidade para encontrar soluções de governo nas autarquias locais. E está certamente disposto a abdicar de algumas posições mais radicais para participar num Governo.

Mais, ao contrário do que aconteceria com um BE, pronto a destruir coligações devido a questiúnculas por considerá-las absolutamente de princípio, não se conte com os comunistas para instabilidades governativas. Quando o PCP assina um papel, em tudo o que lá está escrito cumpre.

Aliás, essa é a clara diferença entre um PCP que cumpre acordos e um PP que os utiliza deslealmente como chantagem sob o seu parceiro de coligação.




Um disparate perigoso

Parece que o PSD quer tornar obrigatória no Ensino Básico ou no Secundário uma cadeira de Educação para a Saúde.

O objecto dessa disciplina seria a prevenção dos comportamentos de risco em relação à saúde física e mental e também dos comportamentos de civilidade.

Essa proposta merece que se coloquem as seguintes questões:

1. Tal objecto não está desde já consagrado na Formação Pessoal e Social ?

2. Não estando, por que motivo será impossível inclui-lo aí ?

3. Fará algum sentido obrigar à avaliação de conhecimentos sobre essa matéria ?

Pior: eu já tenho vindo a antever, tendo em conta o que se tem passado nos últimos anos, a ascensão e triunfo da ditadura do saudavelmente correcto.

Alguém duvida que a adopção desta medida é mais um contributo para se lá chegar ?




Futebol

O FC Porto cortou relações com o Sporting.

Caros sportinguistas, espera-se que tal decisão tenha efeitos nas arbitragens dos jogos do nosso clube já a partir deste fim de semana.

Guerra no Iraque

Hoje Miguel Sousa Tavares coloca a hipótese de as informações que fundamentaram a guerra no Iraque terem sido consequência de pressões políticas nesse sentido.

Lanço mais uma acha para a fogueira: quem sabe se o que aconteceu não foi, pelo contrário, consequência de pressões de certos lobbies ligados à indústria militar, ou do facto de algumas pessoas ligadas aos conservadores mais radicais estarem entre quem forneceu o material à Administração Bush ?

Sinceramente, espero que não tenha sido este último o cenário, tendo em conta que é de todos o mais perigoso.

quinta-feira, fevereiro 05, 2004

Ela Chama-se 'Tuh-ray-za'

A Revista «Time» alerta para que Teresa pronuncia-se «Tuh-ray-za».

Trata-se de Mrs. Kerry, a esposa de John Kerry, o provável candidato Democrata às eleições Norte-Americanas que irá defrontar o inenarrável George W. Bush.

A «Time» destaca mesmo o papel fundamental que Teresa tem tido na campanha eleitoral nas primárias Democratas, cujos resultados estão bem à vista, com Kerry a bater os favoritos Howard Dean e Wesley Clark.

Maria Teresa Thierstein Simões Ferreira, posteriormente Mrs. Heins e agora Mrs. Kerry pertence ao espaço Lusófono, uma vez que nasceu e cresceu em Moçambique, numa das importantes famílias portuguesas do Antigo Regime. É curioso que a «Time» destaca exactamente o facto de contribuir politicamente com uma visão de quem está fora dos States, e olha para a maior potência mundial como uma referência de liberdade, a terra das oportunidades.

Pode ser que, se John Kerry ganhar as Primárias e bater George W. Bush, tenhamos finalmente uma política na Casa Branca mais consciente do seu papel no mundo.

É a Diáspora Portuguesa.



Fracas Consolações

O Blog The Bull and The Bear oferece a todos aqueles desiludidos e inconformados que votaram no PSD, a oportunidade de consolarem a sua consciência, perante o pior Governo de que há memória.

Um bom exemplo deste esforço heróico, está no post «Uma imagem vale mais que mil palavras», que mostra um gráfico com a evolução do PIB nacional entre 1997 e 2003, com as projecções ‘oficiais’ para 2004 e 2005. Obviamente, e apesar deste ‘excelente’ Governo estar em funções há já dois anos, o blog prefere realçar o início da evolução negativa do PIB em 2000, e não o facto de em 2003, último valor observável, o crescimento do PIB estar em terreno negativo e de, possivelmente, só voltarmos a ter um crescimento positivo do PIB em 2005.

Já que gostam tanto de gráficos, porque não mostram a comparação da nossa taxa de crescimento do PIB (ou do PIB per capita) com a da média da Zona Euro ou dos 15 da União Europeia?
Lembram-se do tal objectivo de convergência com a União Europeia?

Façam também o gráfico do PIB comparativo com a evolução do PIB durante o Governo do ‘putativo’ futuro Presidente Cavaco, para perceberem que, bem ou mal, o Governo do PS representou a recente fase de ouro da economia portuguesa.

Mas sejamos coerentes:
Se a meio do seu mandato, o melhor que este Governo consegue para a economia portuguesa é um crescimento negativo do PIB, um défice real do Orçamento de Estado em relação ao PIB na ordem dos 5% (ver a análise do Irreflexões sobre esta matéria), a diminuição do poder de compra real da maior parte da população, o crescimento diário das falências e do número de desempregados, e uma política de total irresponsabilidade em relação à Administração Pública...

Seria irónico se a única vitória de Durão Barroso neste mandato fosse...

A nomeação de António Vitorino para Presidente da Comissão Europeia!


Arraial de pancadaria

É o que o No Quinto dos Impérios dá a Fernando Rosas, a propósito deste artigo.

E, se exceptuarmos as considerações de cariz marcadamente ideológico como as que faz relativamente ao PS, ao PCP, à IVG e à Guerra Colonial, há que admitir que, no essencial, acerta na mouche.

Lixo ?

Correndo o risco de voltar a ser qualificado pelo autor do mesmo blog como analfabeto, não posso deixar de lamentar que o Cataláxia venha dizer que, entre outros, Mário Soares, Sá Carneiro e Freitas do Amaral tenham lutado contra o 25 de Abril.

Pelo contrário. Ao oporem-se às tentativas de tomada do poder pelo PCP e pela extrema-esquerda, o que tão distintos homens de Estado fizeram foi precisamente defendê-lo !

quarta-feira, fevereiro 04, 2004

Parece que é mesmo o fim

A blogosfera portuguesa já não é a mesma. Talvez por deslumbramento do êxito editorial, o O Meu Pipi permanece em silêncio desde 15 de Dezembro.

Quase dois meses de silêncio já será demais para não pensarmos que tão conhecido blog deu por finalizada a sua actividade...

Delgadices

Agora é oficial. O PSD admite desde já a derrota nas eleições europeias. His Master's Voice escreve um artigo verdadeiramente esclarecedor que permite de imediato tirar essa conclusão.

Pseudo...

A leitura deste artigo permite indubitavelmente qualificar Clara Ferreira Alves como pseudointelectual.

A Irlanda não tem má arquitectura, condomínios privados, favelas, televisões privadas, lumpen, telejornais imbecis.

A classe dos novos ricos, se existe, vive com discrição e recato e segundo as regras do bom gosto. As pessoas lêem livros e jornais de qualidade e a televisão é uma coisa dispensável.

Esclarecedoras frases.

segunda-feira, fevereiro 02, 2004

Ao menos isso

Hoje no PÚBLICO, Mário Pinto demonstra uma honestidade e coerência que falta a muita direita.

Ao menos não é hipócrita: considera o aborto um crime, e que as mulheres que o praticam devem ser punidas. Tão longe da monumental hipocrisia (e aberração lógica) dos que defendem que essas mulheres não sejam punidas num quadro de penalização.

Esclarecedor

Daniel Oliveira apresenta no seu postOnde se Encontra a Esquerda as bases de um eventual entendimento entre o BE e o PS.

E basta uma leitura relativamente rápida para se perceber de imediato que:

a) mais uma vez, o BE deseja que o PS seja aquilo que gostaria que ele fosse, e não o partido verdadeiramente socialista que é, tal como os seus congéneres europeus;

b) as exigências são absolutamente inultrapassáveis, e demonstram à exaustão que qualquer entendimento PS/BE é absolutamente contra natura.

Infelizmente

Infelizmente, a jornada de luta marcada pela CGTP para Março está condenada ao fracasso.

Isto porque mais uma vez a central sindical dominada pelo PCP considerou mais importantes jogadas tácticas relativamente ao posicionamento da UGT do que os interesses dos trabalhadores.

Se assim não fosse, certamente que teria procurado uma acção conjunta com esta central, e não apresentar factos consumados, que têm por objectivos:

a) aderindo a UGT, querer demonstrar uma superioridade na luta por esta vir a reboque das suas iniciativas;

b) não aderindo, acusá-la de não defender os interesses dos trabalhadores.


É de facto lamentável. Mas assistirmos ao PCP e aos seus aliados fazerem o jogo da direita já é infelizmente habitual.