quarta-feira, fevereiro 18, 2004

Villas Más

O Director do Refúgio Aboim Ascensão prestou declarações nas quais vem dizer que é melhor para uma criança passar grande parte da sua vida num orfanato do que adoptada por um casal homossexual.

A seguir a esta, seguem-se outras afirmações verdadeiramente lamentáveis e indignas:

- "a homossexualidade não é um comportamento normal";

- "o carinho por homosexuais não é carinho organizado, estruturante - gostam deles próprios através da criança" (esta dá mesmo vontade de rir, agora as pessoas têm que organizar o seu carinho ahahahah)

- "a adopção por homossexuais afecta a sexualidade natural da criança";

- "qualquer criança também tem direito ao exercício da sua sexualidade original", e "criar crianças em ambiente homossexual é interferir com o normal percurso do exercício dessa mesma sexualidade".

Dizia há alguns anos creio que o então Presidente da ILGA que, por essa ordem de ideias, deveriam as famílias monoparentais ser proibidas, isto sem esquecer que a grande maioria dos homossexuais provém de casais heterossexuais...

Em qualquer caso, são afirmações chocantes mesmo para quem não defenda a possibilidade da adopção por casais homossexuais.

Pela minha parte, defendo-a, por três razões:

- uma de carácter político e social: é importante dar famílias às crianças que não as tenham, e esse é o principal valor em jogo;

- uma de carácter ideológico: partindo sempre a recusa da adopção por estes casais do receio relativamente à sexualidade das crianças, nunca pode o Estado fazer esses juízos de valor, pois desse modo está a qualificar comportamentos que são única e exclusivamente do foro privado;

- e, maxime, por uma de carácter jurídico: à face da lei portuguesa, qualquer solteiro, independentemente da sua orientação sexual, pode adoptar, pelo que impedir a adopção por casais homossexuais redunda numa grosseira e inconstitucional violação do princípio da igualdade relativamente ao estado civil.

A propósito, lembre-se que o Código Civil nessa matéria contém outra inconstitucionalidade grosseira do mesmo tipo, tendo em conta que a idade a partir da qual se permite adoptar é de 25 anos para casados e de 35 anos para solteiros.


Mas o principal motivo pelo qual escrevo este post é a mais grave das afirmações de Villas-Boas: "Ser lésbica não é ser mulher na plenitude natural do termo, porque se assim fosse não haveria o problema da procriação natural".

Ou seja. Está a reduzir a mulher à condição de mãe. Ou, pior, de objecto parideiro. O que ainda consegue ir muito mais além do que o que antes diz.




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