sexta-feira, fevereiro 06, 2004

O PS e as coligações

A propósito do meu post Arraial de Pancadaria, o De Direita vem afirmar que o parceiro natural de coligação do PS é o CDS-PP.

De facto, o CDS dos anos 70 era sem qualquer dúvida o parceiro natural do PS. E a evolução assim o confirma, com a quase perfeita consonância de posições entre o grupo democrata-cristão encabeçado por Maria do Rosário Carneiro e os socialistas. Com a inclusão da larga maioria dos órfãos da DC na coligação L'Ulivo, de esquerda, em Itália.

O advento do neoliberalismo com a sua absoluta insensibilidade fez deslocar os democratas-cristãos para o centro-esquerda do espectro político.

Actualmente, o CDS-PP está muito longe de ser o que era. Onde situá-lo ideologicamente ? Naturalmente, com os seus parceiros europeus:
- o RPF de Charles Pasqua;
- a AN pós-fascista de Gianfranco Fini;
- o Fianna Fáil, partido que governa a Irlanda, liderado por Bertie Ahern;
- o Partido Popular Dinamarquês, integrante da coligação governamental desse país, e por vezes acusado de ser de extrema-direita,

Para além destes partidos dos novos Estados-membros:

- o PiS polaco, populista, que vale 9,5% dos votos;
- a ER, União do Povo Estónio, conservadora, com 13% dos votos nas últimas eleições;
- a TB/LNNK, Aliança Pátria e Liberdade, com 5,4% dos votos na Letónia;
- e ainda a LU, partido eslovaco sem representação parlamentar.

O que situa o PP fora da extrema-direita, mas no canto direito da direita. Quadro em que têm de ser situadas as afirmações saudosistas relativamente à Guerra Colonial e ao salazarismo.

Ou seja, o PP representa socialmente todos aqueles que não estão contra a democracia, mas aos quais seria indiferente ou mesmo preferível viver sob um regime autoritário.

Para além de uma parte substancial dos seus militantes defenderem um liberalismo económico extremo. Como um deles já por uma vez me disse, é inadmissível que um empresário não possa despedir livremente um trabalhador para colocar outro melhor pelo mesmo salário.

Por todos estes motivos, considerar que o PP é o parceiro natural de coligação do PS é um erro crasso.


Então...qual será o parceiro natural de coligação dos socialistas ?


À partida, nenhum outro partido, dadas as claras diferenças ideológicas. Daí que o PS deva SEMPRE ter como objectivo vencer eleições com maioria absoluta. Aliás, em contrário tal seria de uma falta de ambição totalmente inaceitável para aquele que é o maior partido português e um dos dois que, no actual contexto, pode aspirar a liderar um Governo.

Mas...em caso de vitória sem maioria absoluta, ou de um quadro político em que o PSD é o partido mais votado mas existe uma maioria de esquerda no Parlamento, qual a atitude que cabe aos socialistas tomar ?

Excluindo à partida as coligações tanto com o PP como com o BE, por motivos mais que óbvios, e excluindo um bloco central, a bem da formulação de alternativas políticas, restam apenas duas opções: formar governo minoritário ou estabelecer um acordo de coligação governativa com o PCP.

Inclino-me para esta última hipótese. O PCP tem demonstrado uma (até demasiada) flexibilidade para encontrar soluções de governo nas autarquias locais. E está certamente disposto a abdicar de algumas posições mais radicais para participar num Governo.

Mais, ao contrário do que aconteceria com um BE, pronto a destruir coligações devido a questiúnculas por considerá-las absolutamente de princípio, não se conte com os comunistas para instabilidades governativas. Quando o PCP assina um papel, em tudo o que lá está escrito cumpre.

Aliás, essa é a clara diferença entre um PCP que cumpre acordos e um PP que os utiliza deslealmente como chantagem sob o seu parceiro de coligação.




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