quinta-feira, fevereiro 26, 2004

Navegação de Cabotagem

Há sondagens que ficarão na nossa história, ou pelo menos, nas nossa 'estórias'.

A de Sousa Cintra, numa amostra realizada à volta do Estádio José Alvalade, mostrando que todos os portugueses eram sportinguistas.

A do ‘Expresso’, no dia de reflexão das últimas Eleições Autárquicas, que na capa atribuía a vitória em Lisboa a João Soares com 10% de diferença.

Aquela dum site, a eleger recentemente Mourinho como o melhor treinador da Europa, Paulo Ferreira como melhor lateral da Europa (não sei se o relvado também foi a votos).

Há mesmo um célebre episódio do "Sim, Senhor Ministro" (que ainda não saiu em DVD), onde o impecável Sir Humpfrey punha o seu Ministro a responder sim e não ao Serviço Militar Obrigatório, consoante a forma das perguntas colocadas.

Não serve esta introdução para por em causa a competência das empresas de sondagens, muito antes pelo contrário. Há empresas que já mostraram muito serviço nesta área, por exemplo, a ‘Amostra’.

Serve sim para comentar o debate sobre sondagens entre o Bloguítica, o Irreflexões, o Tugir e o Terras de Nunca, entre outros.

Um dos principais enviesamentos da vida política, partidária e governamental, é resumir-se à leitura dos jornais, ouvir os opinion makers nas televisões, e utilizar sondagens como tableau de board, para aferir e corrigir as suas estratégias.

O distanciamento da realidade é notório e galopante.

Neste aspecto, os índices de popularidade fazem lembrar as votações para o Big Brother ou para a Academia de Estrelas.

Por exemplo, enquanto os media derem o mesmo espaço e destaque a Francisco Louçã, ele terá sempre um bom índice de popularidade (tal como já havia acontecido com Paulo Portas, nos seus tempos de oposição). Curiosamente, para além de muita gente continuar embevecida com o Bloco de Esquerda, ainda não percebi se as clivagens ideológicas que existiam nos partidos políticos bloquistas já foram resolvidas, ou aparecem numa síntese programática/pragmática em versão 'sound byte', para efeitos de gestão de agenda política mediática.

Mas o melhor case study sobre o assunto será mesmo Pedro Santana Lopes, e analisar quais as razões da sua popularidade. Poucas terão a ver com política (pensamento político, ideias ou convicções políticas).
Aliás, sempre que lhe pedem para entrar nesse terreno, ele fala em Sá Carneiro, todos ficam comovidos e pronto.

Finalmente, em relação às sondagens 3 em 1 sobre intenções de votos, que hoje reflectem o estado de conglomeração dos media (são sempre uma TV + um jornal + uma rádio), conseguem nunca bater certo umas com as outras, mesmo quando aparece o PS à frente de todas elas.

O que não deixa de ser estranho. Estes estudos, o que dizem é que Ferro Rodrigues não é muito popular, mas o PS ganharia hoje as eleições. Resta saber pois se com ou sem Ferro Rodrigues...

Moral da 'estória': se algum dirigente socialista está porventura satisfeito com estas vitórias virtuais do PS nas sondagens, terá provavelmente aquele ar tontinho do Durão Barroso ao congratular-se com o défice virtual de 2,8 %.


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