sábado, outubro 30, 2004

A Lenda de Martim Regos



Se Pedro Canais fosse um americano chamado Peter Channels e tivesse escrito o Best-Seller «The Tale of Martin Riggs», já os seus direitos cinematográficos haviam sido adquiridos e estaria em produção mais um campeão de bilheteiras mundial.

Como é português, podemos simplesmente ler «A Lenda de Martim Regos», escrita ao estilo da peregrinação de Fernão Mendes Pinto, que se devora à velocidade de um 'Código Da Vinci'.

A Vichyssoise da Esquerda

A Vichyssoise é uma sopa que, tal como a vingança, se serve fria.

Este prato ficou mais conhecido quando, há uns anos atrás, Paulo Portas resolveu contar na televisão uma história sobre Marcelo Rebelo de Sousa.
Rezava então o Paulo Portas jornalista do «Independente» que certo dia procurou saber junto do Professor como havia decorrido determinado jantar restrito. Marcelo descreveu-lhe todos os pormenores: quem lá estava, o que haviam falado, até o que haviam comido. Dizia Paulo Portas que Marcelo chegou ao ponto de lhe referir o detalhe da refeição ter começado por uma vichyssoise.
Ora calhou então que Paulo Portas jornalista, já a pensar na 'caixa' que tinha para o seu jornal, encontrou um dos supostos convivas (ao que lhe deve ter perguntado se a vichyssoise estava boa) que, para espanto mútuo, lhe disse que o tal jantar havia sido adiado. Paulo Portas (o político), com aquela perplexidade sentida que tão bem transmite, reverberava na entrevista: «Ele até teve o requinte de inventar a história da vichyssoise!».

Assim acabou a segunda AD, mesmo antes de ter começado.

Quis a vida que, uns anos depois, estivesse Marcelo Rebelo de Sousa a cozinhar uma vichyssoise, com ingredientes fornecidos pelos Ministros Gomes da Silva (que inacreditavelmente ainda não se demitiu) e Morais Sarmento, e pelo Presidente da TVI Miguel Paes do Amaral. Tudo isto centrado numa conversa do Professor com este último que ainda lhe deu o tempero especial de, em três ocasiões, ter apresentado três versões diferentes da dita.
Marcelo esperou que a vichyssoise arrefecesse o suficiente e serviu-a a uma comunicação social ávida numa refeição de duas horas, em directo para algumas televisões e rádios.

E sem dizer nada que não se soubesse já:

Existe concentração de capital social na área dos media, que se reflecte na existência de menos de meia dúzia de grupos na comunicação social.

Existe uma enorme apetência deste Governo para controlar a comunicação social, ou não fossem Paulo Portas e Santana Lopes especialistas do mediático.

No caso concreto, as possibilidades de negócio do grupo de Paes do Amaral levaram-no a pedir ao Marcelo Rebelo de Sousa alguma contenção nas críticas ao Governo: porque, perante os negócios que se aproximam, não é realista pensar que um grupo seja competitivo se estiver sistematicamente a criticar esse mesmo Governo.

Angustiante é o papel da esquerda no meio disto tudo.
Para Santana Lopes, Paulo Portas e Morais Sarmento, o problema do controlo da comunicação social é actualmente o de afastar cavaquistas, como Fernando Lima no DN, e substitui-los por uma legião de Luís Delgados. Um mero problema de família.

Para a esquerda, a comunicação social é como uma vichyssoise: não passa de uma sopa fria, muito fria.

quinta-feira, outubro 28, 2004

Asqueroso Cohn-Bendit

De facto, não conhecia esta faceta do extremista Daniel Cohn-Bendit:

Um dos heróis da discussão parlamentar foi o mesmo que, na década de 70, quando trabalhava num infantário, descreveu assim algumas das suas experiências: "Às vezes acontecia que algumas crianças abriam a minha braguilha e começavam a acariciar-me. (...) Se insistiam, também as acariciava. (...) As meninas de cinco anos tinham aprendido como excitar-me. É incrível." Quando estas declarações antigas foram desenterradas pelos "media" falou-se de "caça às bruxas", pois o seu autor é, "apenas", o intocável Daniel Cohn-Bendit. Se, por acaso, fosse indicado para comissário do mesmo pelouro que Buttiglione, alguém imagina que se levantaria idêntica tempestade entre os deputados? .

Para além disso, a reflexão de José Manuel Fernandes é certeira.

A pergunta que se impõe

Hermínio Santos acerta na mouche, ao fazer a pergunta que se impõe:

Porque é que tudo acontece depois de a RTL entrar no capital social da Media Capital?

terça-feira, outubro 26, 2004

Factos e Conclusões

Facto 1 - A Ministra do Ensino Superior e da Ciência é professora do IST.

Facto 2 - O Ministério correspondente vai investir 14 milhões de euros no alargamento das instalações daquela faculdade.

Facto 3 - Os dirigentes de outras universidades queixam-se de desigualdade de oportunidades.

Possível Conclusão 1 - Aproveitando-se do Facto 1, outras universidades queixam-se de discriminação para daí tirarem dividendos.

Possível Conclusão 2 - De facto houve favorecimento pela Ministra da instituição onde lecciona.

Menos Igualdade na Segurança Social

Isto configura uma enorme discriminação.

Ou é para todos os que têm filhos ou não é para ninguém !

Pet Shop Boys

FANTÁSTICO concerto este Sábado em Alcochete !

Sem mais palavras !

segunda-feira, outubro 25, 2004

Famílias Numerosas

A Associação Portuguesa de Famílias Numerosas reivindica do Estado desconto (ou mesmo isenção) no Imposto Automóvel.

Em primeiro lugar, há que dizer que tal medida só eventualmente se justificaria para automóveis com mais de 5 lugares.

A questão concreta parece não ser de fácil resolução: não existindo automóveis novos com capacidade para mais de 5 pessoas por preços acessíveis a todos, devem as famílias numerosas ter facilidades ?

À partida, parece claro que a concessão de ajudas teria que depender da prova de insuficiência económica.

Contudo, para além da existência de um mercado de usados, não se pode conceder facilidades a pessoas tendo em conta opções de vida estritamente pessoais. Até Margaret Thatcher é contra semelhantes medidas. O Estado não pode distinguir pessoas devido à sua situação familiar.

sexta-feira, outubro 22, 2004

Deixem-me trabalhar - Segundo Episódio

Desde que o Governo de iniciativa Presidencial liderado por Santana Lopes tomou posse, é raro o dia que o espanto não nos assombra.

O Ministro Gomes da Silva (que, inacreditavelmente, ainda não se demitiu), proferiu uma série de declarações que, seja qual for o ângulo de leitura, foram de facto uma pressão sobre a TVI e um aviso à comunicação social.
Pedro Santana Lopes veio corroborar o seu Ministro, exigindo o «direito do contraditório» aos monólogos de Marcelo Rebelo de Sousa. Ou seja, alguém do PSD para comentar o Professor !!

O mesmo Ministro Gomes da Silva (que, inacreditavelmente, ainda não se demitiu), em declarações à Alta Autoridade para a Comunicação Social a propósito do episódio anterior, confessou a sua convicção de existir uma cabala entre o Professor, o «Público» e o «Expresso» para denegrir o Governo.

Morais Sarmento, elevado a Ministro respeitável dado o nível do actual Governo, veio em defesa do Governo, argumentando que a RTP devia ter uma autonomia limitada pelo próprio Governo, uma vez estar sobre a sua tutela, e devendo ser os espectadores e os eleitores a opinar sobre a política escolhida.
Tudo isto com Luís Delgado a administrar a Lusa e o Grupo Lusomundo, onde Henrique Granadeiro foi substituído.

Na educação, a novela da colocação dos professores só irá acabar no final do ano lectivo, como bem sublinhou um dirigente sindical do sector.
A Ministra da Educação (que, inacreditavelmente, ainda não se demitiu), mete os pés pelas mãos sempre que abre a boca sobre este e qualquer assunto.

Assumindo o seu papel de parceiro de coligação, o Ministro Nobre Guedes anuncia um plano de demolições na Arrábida, local onde é proprietário de uma casa cujo licenciamento não está concluído e é polémico.

O Ministro Paulo Portas já havia dado o seu contributo ao colocar uma fragata da Armada Portuguesa a defender o País do famoso «barco do aborto».

Entretanto, Bagão Félix, Ministro que privatizou a Segurança Social no governo de Durão Barroso e Manuela Ferreira Leite, anuncia um Orçamento de Estado que viola mais uma vez o pacto de estabilidade, apesar de assumir premissas macroeconómicas irreais (taxa de inflação, crescimento do PIB, preço do petróleo, etc.), promete baixar o IRS, subir as pensões, promover o investimento público, em resumo: as promessas eleitorais que Santana Lopes anunciou no desesperado discurso de encerramento da campanha eleitoral nos Açores, e que o primeiro-ministro achou por bem transmitir aos portugueses nas televisões, em prime time.

O Ministro da Economia, António Mexia, face ao seu Secretário de Estado que quis benefícios fiscais para a aquisição dos passes sociais, não tendo esta proposta sido contemplada na proposta de Orçamento de Estado, veio desanuviar a questão considerando que o impacto deste recuo é reduzido, pois quem compra passes sociais não tem rendimentos suficientes para pagar IRS!

Já para não falar na demagogia do principio do utilizador pagador para a diferenciação das taxas de moderação no SNS, ou para taxar as SCUT's com portagens - excelente o trabalho do DN esta semana que compara a diferença de tempo entre o percurso nas actuais SCUT's face às estradas nacionais alternativas, e ao futuro preço das portagens.
(Quanto vai custar a implementação técnica e física das portagens?)

A confusão, a inabilidade, os disparates são tantos que, somando às promessas eleitorais em curso, só podem ter uma explicação:

Santana Lopes quer ser demitido pelo Presidente da República o mais depressa possível.

E a famosa Central de Informação do Governo, coordenada por Morais Sarmento, vai estar a trabalhar incessantemente na programação das próximas trapalhadas dos Ministros, até que este objectivo seja atingido e sejam marcadas eleições, onde Santana Lopes será apresentado como o mártir legitimado por Sá Carneiro: a estratégia "Deixem-me trabalhar - Segundo Episódio".

Até Santana Lopes já percebeu que levar este seu mandato até ao fim, para além de pessoalmente inédito, será um suicídio colectivo.

Ainda Coimbra

«A Juventude Socialista mostra-se chocada com o que aconteceu ontem durante a tarde, na entrada para o Senado da Universidade de Coimbra, em que os estudantes-senadores foram impedidos de entrar no edifício, tendo-se realizado a reunião do Senado à revelia dos estudantes.

A JS condena, ainda, com veemência a forma como a polícia geriu a situação e, em que, onde foram utilizados meios totalmente despropositados e inadequados à situação. Como gás pimenta, bastonadas e detenções. Para a Juventude Socialista impõem-se esclarecimentos claros e concisos por parte do Ministro da Administração Interna, que ontem nada sabia sobre o sucedido com o intuito de apurar a verdade dos factos e de forma a poder proceder-se disciplinarmente sobre os agentes infractores, conforme se vê nas imagens difundidas pela comunicação social. Impõe-se, ainda, esclarecimentos por parte da Ministra da Ciência e Ensino Superior, que tutela a Universidade de Coimbra, para se saber se considera ou não democrática uma deliberação de um órgão em que quase metade dos membros foi impedida de participar. »

Parece-me uma posição perfeitamente adequada a esta situação.

Eu lembro-me das manifestações contra a PGA, no tempo do cavaquismo, com cargas policiais e filmagens do SIS (para «memória futura»...). A polícia é a mesma e a prepotência também.

Pedro Sá, quando em caso de dúvida preferes a versão da polícia face à dos estudantes, é sinal de que te arriscas a estar a ficar velho e aburguesado!

Basta ver que os argumentos que utilizas fazem lembrar aqueles com que Israel justifica as cargas do exército contra os palestinianos armados com temíveis pedras...

Censura

Foi-me reenviado um e-mail com o seguinte conteúdo:

> > Exmo. Sr. ou Sr.ª:
> > >
> > >Vem isto a propósito do caso Prof. Marcelo Rebelo de Sousa.
> > >Nasci e tenho vivido num pequeno concelho (Pombal) do Litoral-Centro
> > >(Distrito de Leiria). Não milito em nenhum grupo partidário. Sou um
> > >simples cidadão nascido seis anos antes do 25 de Abril de 1974. E como
> > >cidadão, ingénuo a pensar que haveria liberdade de expressão e de
> > >opinião, criei em Julho passado um "blog" na Internet que pretendia ser
> > >um espaço de reflexão e de debate de ideias, com críticas construtivas,
> > >sobre o que está a acontecer na minha Terra. Nomeadamente sobre a
> > >actividade da respectiva Câmara Municipal e outras instituições.
> > >Esse "blog" num espaço de dois meses registou mais de 6.700 visitas,
> > >tendo sido comentado em grande número por outros cidadãos/munícipes.
> > >A respectiva autarquia, presidida pelo social-democrata Eng. Narciso
> > >Mota, nunca usou o princípio do contraditório. Apesar de reconhecer que
> > >alguns dos temas abordados tinham a sua veracidade, alterou alguns
> > >procedimentos, dando razão ao que por lá se escrevia. Reconhecendo que
> > >o "blog" era incómodo para o Poder (leia-se, Câmara Municipal), o
> > >senhor presidente entendeu que a melhor forma de usar o "contraditório"
> > >era acabar com o mesmo.
> > >Vai daí, entrou em contacto com a direcção/administração da empresa
> > >onde eu trabalhava e denunciou a sua existência, fazendo ver que o
> > >"blog" era "gerido" em horas de expediente. A direcção da empresa de
> > >imediato, e justificando que aquela situação lesava a relação
> > >institucional com a Câmara Municipal, até porque necessitava desta para
> > >legalizar algumas situações pendentes, despediu-me. Isto, não
> > >argumentando com falta de profissionalismo ou de produtividade. Mas
> > >sim, porque o senhor presidente da Câmara assim os contactou para o
> > >efeito. Esclareci a situação e comprometi-me a eliminar de imediato o
> "blog", o que foi feito e aceite.
> > >Precisamente um mês depois, e pelo meio alguns encontros realizados
> > >entre o presidente da Câmara e a direcção/administração da empresa, fui
> > >novamente confrontado com o despedimento. E perante duas opções:
> > >instauração de processo disciplinar ou demissão voluntária, optei pela
> > >segunda. Ou seja, a intervenção do senhor presidente da Câmara
> > >Municipal de Pombal neste processo é um facto. Tanto o é que um dos
> > >seus vereadores afirmou perante algumas pessoas "já acabámos com o
> blog".
> > >Esta situação é notoriamente idêntica à que aconteceu com o Prof.
> > >Marcelo Rebelo de Sousa. Na sua proporção, obviamente. Mas, com um
> > >senão. O meu futuro. Estou desempregado, com duas crianças de 20 meses
> > >para criar, casa e carro para pagar. E esposa também desempregada. E
> > >tanto mais que, ainda há dias, ouvi da boca de um eventual empregador:
> > >"reconheço que és a pessoa indicada para o meu projecto, mas quando o
> > >senhor presidente da Câmara soubesse, caía o Carmo e a Trindade. E eu
> > >não quero ter problemas com esse senhor". É triste que 30 anos depois
> > >de uma revolução, ainda haja quem de uma forma nojenta e vergonhosa,
> > >censure as vozes discordantes para que estas não expressem livremente
> as
> suas opiniões.
> > >
> > >Com os melhores cumprimentos
> > >
> > >Atentamente
> > >
> > >Orlando Manuel S. Cardoso
> > >_______________________
> > >
> > >Rua Paul Harris, nº 13 - 1º Esq
> > >
> > >3100-502 Pombal
> > >Telef.: 236213594 - 936354363
> > >E-mail: orlando.cardoso@zmail.pt


Que o caso Marcelo sirva para se começar a falar alto e bom som das arbitrariedades, por razões políticas ou não, que actualmente vão acontecendo no meio laboral, e que, tristemente, na maioria dos casos são aceites com encolher de ombros...


Falha imperdoável

Ainda não tinha comentado a proposta do Primeiro-Ministro de fazer dos candidatos a professores do ensino público não colocados assessores de juízes.

BAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAAHAHAHAHAHAHHAHAHHAAHAHHAHAHAH !

É que só dá MESMO para rir...desde quando é que esses cidadãos têm habilitações jurídicas para poderem preencher essas funções ?

É O DESCRÉDITO !

PS - Fiquei feliz quando ouvi há uns tempos a Deputada Ana Benavente a usar esta expressão na Assembleia da República, aliás, disse "É O DESCRÉDITO TOTAL" ! YES !

Ainda Coimbra

Fui informado de que os estudantes membros do Senado foram impedidos de entrar para a reunião.

Uma vergonha.

quinta-feira, outubro 21, 2004

Estudantes e cargas policiais

Os acontecimentos de ontem em Coimbra devem ser analisados em três vertentes.

Em primeiro lugar, bem fez o Reitor da Universidade em chamar a polícia, sabendo que estava prevista uma acção de boicote contra um órgão que se iria reunir de acordo com a legalidade democrática.

Toda e qualquer invasão e impedimento à reunião de um órgão legítimo é verdadeiramente lamentável, e demonstradora da maior falta de respeito pela democracia e pela ordem pública. Verdadeiros fascistas, desejam impedir pela força o cumprimento da lei e o normal decorrer das actividades.

Em segundo lugar, não me espanta que tenha havido carga policial perante tentativas de forçar a passagem. Se de facto se tentou forçar a passagem, mais cedo ou mais tarde seria inevitável a carga policial. Claro que estou a falar em abstracto, que não sei exactamente o que se passou, e que cargas policiais são algo que dispenso e que odeio. Mas perante tentativas insistentes e desafiadoras da legalidade democrática, por parte de quem não respeita minimamente seja o que for, mais cedo ou mais tarde a carga é inevitável.

Em terceiro lugar, quanto ao uso de gás pimenta, tal terá sido, em princípio, um lamentável exagero, pelo que espero que se proceda a um inquérito que apure as causas e o responsável pelo acontecido, com as devidas consequências.


Fundamentalismo Cristão

Quando até o Vaticano já se pronunciou a favor da entrada da Turquia na União Europeia, ainda existe por aí um tal João de Mendia, inequivocamente salazarista, a afirmar estas barbaridades...

quarta-feira, outubro 20, 2004

O pecado capital de Morais Sarmento

O pecado capital do Ministro da Presidência não é ter dito o que disse. Aliás, se analisarmos com rigor as suas palavras, vemos claramente que se referia à programação e ao modelo de canal. E nisso estamos de acordo: é pelo menos em grande parte responsabilidade política do Governo qual deve ser o modelo de televisão pública, sob pena de tudo ficar nas mãos de tecnocratas.

Só que Morais Sarmento cometeu o gravíssimo erro político de ter feito essa afirmação no actual contexto político, ainda muito em cima do caso Marcelo, em que seria mais que óbvio que as suas afirmações seriam interpretadas no sentido de existir uma vontade de total condicionamento da comunicação social pelo Governo.

O erro é mesmo de palmatória...

terça-feira, outubro 19, 2004

Estupefacção

Como é que um Governo que tem dado passos enormes em matéria de sociedade, como é o caso do espanhol, ainda defende, como se pode ler aqui, a ideia pré-histórica de que a televisão tem de servir para educar ?

Onde é que Teresa Fernández deixou a NAVE ?

Toda a gente já sabe. Se quiser ver programas onde se aprenda alguma coisa, tem canais tais como a RTP2, o People & Arts, o Canal de História, etc.

Se as pessoas preferem ver outro tipo de programas, é por sua livre e exclusiva opção, seja qual for a sua idade. Aliás, a mulher-a-dias lá de casa dizia no outro dia à minha mãe para ver a Quinta das Celebridades, porque "nesta vida nós precisamos de rir"...de uma vez por todas esclarecidos ?

segunda-feira, outubro 18, 2004

Cromos da Bola




Há duas figuras públicas nacionais que me envergonham profundamente enquanto português: Alberto João Jardim e Jorge Nuno Pinto da Costa.

Dentro de um assunto tão subjectivo, existem muitas outras tristes figuras.

Mas estes dois, que estão no activo há cerca de 30 anos (ou seja, desde que me lembro) têm imenso em comum.

A começar pela qualidade de linguagem que utilizam, para delícia da comunicação social, que não deixa passar um disparate, um dislate, uma obscenidade, uma boca, uma provocação.

Depois pela mais completa impunidade e imputabilidade com que desrespeitam, insultam e parodiam as instituições públicas, os titulares de órgãos públicos, em nome de interesses específicos pontuais, que acabam por não passar de interesses próprios.

Senão vejamos:

Alberto João Jardim reina na Região Autónoma da Madeira há 7 mandatos, começando agora o oitavo. Esta Região recebeu do Orçamento Geral do Estado ao longo de todos estes anos os rios de dinheiro que permitiram ao Alberto João construir as obras públicas que continuamente inaugura, desde o magnífico aeroporto às auto-estradas (sem portagens).

Até as equipas de futebol na Madeira são chorudamente subsidiadas pelo Governo Regional!

Tudo isto em nome dos principios da solidariedade nacional e dos custos da insularidade.

Contudo, o Alberto João não perde uma oportunidade para insultar a «República», o seu (nosso) Governo, até o seu (nosso) Presidente, e os continentais em geral (os «cubanos», nós), chegando a roçar vagas ameaças de independência, ou agora a defesa da «IV República».

Isto com a conivência do poder político que mantém a torneira aberta chantagem após chantagem, e da comunicação social, que continua a achar piada às larachas do Sr. Presidente do Governo Regional.

Se fizéssemos um Referendo em Portugal acerca da independência da Madeira, estou convencido que o «sim» ganharia com uma larga vantagem, pelo menos no Continente.

(Quanto valem as transferências líquidas do Orçamento Geral do Estado para a Madeira em relação ao défice orçamental?
Quanto resultaria em receitas extraordinárias a venda do Arquipélago?)

Que me desculpem os madeirenses em geral, mas o que é certo é que votam maioritariamente nesse senhor há uma eternidade.

Jorge Nuno Pinto da Costa é um epifenómeno local, mas que se diverte às nossas custas há praticamente tanto tempo como o Alberto João, graças a essa obsessão nacional que é o futebol.

O estilo dos insultos é semelhante, num senhor de que se consta ser de boas famílias, mas cuja face mediática nos faz lembrar sempre o mercado da Ribeira.

Sendo o futebol o sub-mundo que é, havendo igualmente toda essa promiscuidade e conivência com os políticos, Pinto da Costa enquanto presidente do F.C.Porto vem alimentando uma guerra fictícia entre o Porto e Lisboa, que o tem beneficiado bem como ao seu clube, mas prejudicado o Porto e o País.

A comunicação social, ávida principalmente de preencher as páginas dos três jornais diários desportivos de circulação nacional, continua embevecida a ouvir os trocadilhos do «Papa».

Pelo que eu me lembro do processo Euro2004, entre trocas, permutas, espaços comerciais e construção mobiliária, e depois de toda a controvérsia que Pinto da Costa soube gerar para levar a água ao seu moinho, o F.C.Porto foi o único clube que lucrou com a construção do seu novo estádio!!!
(se alguém tiver dados que provem o contrário, por favor divulguem, que eu até passo a dormir mais descansado).

O que se passou durante a semana passada por causa de um jogo de futebol, mostra bem ao que isto chegou. O Ministro da Administração Interna e o seu Secretário de Estado, perante um evento desportivo a realizar num recinto palco da final do Euro2004, com lotação esgotada (65.000 bilhetes vendidos), em vez de prometerem fazer os possíveis para assegurar a segurança de todos, vieram garantir não haver condições de segurança, e em contradição com a própria PSP! O próprio Secretário de Estado do Desporto andou mesmo propagandear que não iria ao Estádio.

Todos a atirar gasolina para uma fogueira das vaidades.

(Eu devo confessar que também perdi a vontade de ver o jogo e preferi tentar acompanhar os resultados das Eleições Regionais, o que se tornou difícil porque as coisas não correram nos Açores como o Governo queria, e as eleições tiveram um impacto televisivo digno de uma Junta de Freguesia?)

O resultado de 30 anos desta palhaçada Darwiniana está bem à vista na qualidade dos dirigentes desportivos e políticos que hoje temos. Vítor Cruz bem tentou ser o Alberto João dos Açores. E Santana Lopes cá anda, cantando e rindo.

Mas nesta República das bananas, exige-se pelo menos que Santana Lopes vá a votos, à semelhança de Alberto João Jardim na Madeira.

Talvez o País mereça este Governo e em particular este 1º Ministro.

Mas pelo menos que os portugueses o elejam devidamente, o assumam e que coleccionem Santana Lopes e sua «Gente» como mais cromos a juntar aos que já temos nesta imensa «Quinta das Celebridades» à beira-mar plantada.

sexta-feira, outubro 15, 2004

Mais uma...

Ao que parece o Governo vai piscar o olho ao politicamente correcto e proibir a venda de tabaco a menores de 18 anos.

Em teoria, esta lei teria um aspecto extremamente positivo: acabar-se com as criancinhas a irem comprar tabaco para os pais e mães que não estão para sair de casa e os obrigam a essa tarefa.

Mas, não só por causa dessa situação como dos próprios jovens, alguém acredita que uma norma nesse sentido será cumprida ?

E mais...não seria mais razoável a idade mínima ser 16 anos, a mesma para a venda de bebidas alcoólicas e para se poder prestar trabalho ?

quinta-feira, outubro 14, 2004

Silêncio

Pois é. Nada de interessante para comentar nos últimos dias. Daí o meu silêncio.

segunda-feira, outubro 11, 2004

Não sei não...

Não sei porquê, mas algo me diz que a comunicação do Primeiro-Ministro não vai servir para anunciar aumentos salariais e baixa de impostos...tudo é possível.

domingo, outubro 10, 2004

Os Homens do Secretário-Geral

José Sócrates já escolheu o seu Secretariado Nacional.

Fazem dele parte os seguintes elementos:
Ascenso Simões, Fernando Serrasqueiro, Ana Paula Vitorino, Idália Moniz, Marcos Pesretrello, José Lello, Luís Amado, Pedro Silva Pereira, Vieira da Silva, António Costa, Jorge Coelho, Edite Estrela e Carlos Lage.

Novidades existem na comissão de coordenação do Fórum Novas Fronteiras, responsável pela consequente da preparação do Programa de Governo do PS para as próximas eleições:
António Vitorino, Augusto Santos Silva, Maria João Rodrigues, Jaime Gama e Sérgio Sousa Pinto.

É a vitória do esforço de síntese sobre a renovação.

sexta-feira, outubro 08, 2004

Ainda se admiram ?

Ficaram admirados de eu criticar Zapatero ?

então leiam esta notícia.

Pois bem, ele desejava que apenas fosse considerada violência doméstica a cometida por homens !!!!!!!! Como se a violência doméstica cometida por mulheres não o fosse, ou tivesse menos gravidade !!!!!!!!!!!!!

Não fica é claro da lei se um homem pode ser vítima de violência doméstica. A bem de Espanha, que o possa ser, tal como acontece na lei portuguesa, que contempla (e bem) todos os tipos de situações.

Cinco Interrogações

1 - De Luís Delgado, já sabemos o que é que a casa gasta. Mas pergunto, não faria ele (tal como outros) o papel de virgem ofendida se algum político dissesse de algum jornalista o que ele diz de Arons de Carvalho ?

2 - Com atitudes como esta, como é que não querem que haja suspeitas ?

3 - Dependendo do que se passar no Congresso do PSD, não estará desde já Pacheco Pereira a ponderar a sua demissão de militante ?

4 - Será legítimo enquadrar a situação como meramente privada, tendo em conta que a TVI utiliza o espectro radioeléctrico, que é um bem público, para mais escasso ?

5 - Não estará Manuel Monteiro desde já a esfregar as mãos a pensar no seu mais que provável reforço eleitoral ?

quinta-feira, outubro 07, 2004

Abaixo de inqualificável

Para além de quase tudo já ter sido dito sobre o assunto e eu não ter nada a acrescentar, muito pior do que o que se passou relativamente ao affaire MRS é o que li nesta notícia.

Não consigo sequer conceber afirmações de maior gravidade do que isto. Isto é o sexismo e a discriminação levados ao extremo.

terça-feira, outubro 05, 2004

Os Discursos de Sócrates



Destaque para o bom discurso final de Sócrates, inspirado nas Novas Fronteiras de Kennedy (felizmente resistiu à tentação de dizer aos portugueses para não pergutarem o que Portugal podia fazer por eles e sim o que eles poderiam fazer por Portugal) e, principalmente, um excelente discurso inicial .

Congresso do PS

Na passadeira vermelha que o PS estendeu a José Sócrates no Congresso deste último fim-de-semana, duas nódoas foram bem visíveis: Jaime Gama e Sérgio Sousa Pinto.

Já aqui tinha chamado a esta Esquerda Moderna de Sócrates como uma espécie de Guterrismo sem diálogo. Jaime Gama e Sérgio Sousa Pinto quiseram mostrar a faceta arrogante e pedante desta nova via.

Jaime Gama, com a responsabilidade institucional que tinha como cabeça de lista de Sócrates à Comissão Nacional, não resistiu ao seu ódio de estimação a Manuel Alegre, em particular nas declarações que fez à SIC-Notícias. Ataques pessoais, infelizes e desnecessários, do alto de 80% dos votos, a um ícone do PS (quem criticava Ana Gomes?).

Sérgio Sousa Pinto, o das reformas fracturantes da esquerda, numa tentativa de manter, o seu enorme ego no Pavilhão do Congresso, e qual cristão-novo, também quis mostrar serviço. Já dizia o ditado popular: ?Com os sapatos do meu pai sou eu homem??

No Editorial de ontem do «Público», Eduardo Dâmaso comentou este episódio:

«Começou mal, por isso, a liderança de Sócrates, ao consentir a truculência estéril de Jaime Gama na apresentação de uma moção que deve ser o documento orientador de um projecto político e não um instrumento de ataques políticos despropositados.

O discurso de Gama empurrou o congresso para uma discussão fora do tempo, sobretudo no caso de um partido que ainda nem tem um projecto politico de oposição e de Governo. Foi ainda um momento que deixou emergir algumas das piores coisas que esta liderança do PS pode vir a ter e que está na soma da excessiva influência de figuras gastas como Jaime Gama e Pina Moura (ex-ministro da Economia, agora deputado. que vai acumular o mandato com o cargo de administrador de uma empresa espanhola...) com a arrogância imberbe de Sérgio Sousa Pinto.
»

Hoje foi a vez de Eduardo Prado Coelho, também no «Público»:

«Depois de uma intervenção perversamente venenosa, segundo o estilo mais sofisticado de Jaime Gama, assistiu-se a uma triste "performance" de Sérgio Sousa Pinto, que parece capaz de tudo para se manter na proximidade do poder - e que instrumentaliza ideias com um cinismo imoderado. Poderíamos considerar que Sérgio Sousa Pinto tinha mudado de concepções políticas, o que é não apenas legítimo como por vezes desejável. Mas esta fúria de neófito justiceiro parece de mau augúrio. A ver vamos.
Sérgio Sousa Pinto, num momento arrebatado, tanto mais arrebatado quanto mostrava total falta de convicção, afirmou: "Não precisamos do Bloco de Esquerda. Não precisamos do PCP. O país não nos pede que façamos alianças à esquerda." Esta frase significa apenas: eu estou a falar em nome do país. Isto é, reencontramos o velho truque retórico de um discurso que se legitima "em nome de" - neste caso, em nome do país. Mas quem disse a Sérgio Sousa Pinto o que o país pede ao PS? Onde é que ele o descobriu? Quando é que foi iluminado pelos deuses da nação?
»

Valeu a lucidez de Jorge Coelho que, como de costume, veio apagar o fogo, levando a discussão dos ataques pessoais novamente para o plano político mediano que marcou o Congresso.

Em termos gerais, para além dos gestos de vassalagem do Aparelho a prestar juramento ao novo líder, se as eleições directas colocam o PS na vanguarda dos partidos políticos portugueses, este formato de Congresso é perfeitamente vulgar e inconsequente do ponto de vista político e merece uma reformulação urgente.

sexta-feira, outubro 01, 2004

A desilusão espanhola

Diz Zapatero:

O que quero é que o meu país seja conhecido no mundo como um país que luta pela paz, um país solidário que contribui para o desenvolvimento dos países mais pobres.

A velha mentalidade do dar a face quando se é agredido e do ser bonzinho no seu pior.

Ainda que esteja a concretizar reformas sociais importantíssimas, Zapatero, pelo seu frame of mind totalmente na linha do politicamente correcto, é uma desilusão absoluta.

A desilusão espanhola

Zapatero é uma enorme desilusão.

Leiam este excerto da entrevista que deu ao Público:

O que quero é que o meu país seja conhecido no mundo como um país que luta pela paz, um país solidário que contribui para o desenvolvimento dos países mais pobres.

Nesta frase estão duas ideias absolutamente condenáveis:

- prioridade máxima à ajuda aos "pobrezinhos", o que no mínimo é uma monstruosa falta de respeito perante os seus eleitores, dentro de uma lógica bacoca de que os países mais desenvolvidos têm de sustentar e de ajudar os mais pobres, ainda por cima paternalista;

- um desejo de reconhecimento pelo pacifismozinho, ainda que tenhamos que dar o desconto a afirmação tendo em conta o contexto iraquiano.

Ou seja, está ali plasmada aquela que é a mentalidade clássica dos socialistas portugueses em particular e da esquerda portuguesa em geral, a qual tem que ser rapidamente transformada (Jorge Coelho é, aliás, um grande precursor dessa transformação).

E ela é a que ser de esquerda é ser bonzinho e dar a outra face quando nos batem. Exemplo clássico: o PSD governamentaliza a RTP, e o PS quando vai para o Governo não o faz. Se é um facto que é lamentável que o PSD o faça, o PS não pode ser anjinho, sob pena de lhe ser mais difícil o acesso ao poder, e logo de concretizar as mudanças sociais e económicas a que se propõe.

Não tenho dúvidas de que, em política, a única mentalidade possível é algo próximo do "olho por olho, dente por dente".

Ainda a propósito de Zapatero, escusado será dizer que em meu entender Aznar tinha uma visão política muito mais acertada ao ter como objectivo a entrada da Espanha no G-8. Pena que o Presidente do Governo espanhol não siga o mesmo objectivo, cuja concretização seria aliás muitíssimo positiva para Portugal...