quarta-feira, dezembro 31, 2003

Feliz Ano Novo de 2004

Graças à globalização, posso desejar a todos um excelente Ano Novo de 2004, mesmo estando noutro Continente.

Continuaremos em 2004 a denunciar o Descrédito do diai-a-dia, tal como temos vindo a fazer, na esperança que algo melhore.

Que Iemanjá esteja convosco

terça-feira, dezembro 23, 2003

Daniel Oliveira continua ao ataque

Num comentário de resposta às críticas que o seu post Música Pimba obviamente sofreu, disse algumas coisas que não podem passar sem comentário:

1. Fala numa direita que "odeia ver filmes feitos por portugueses, com características próprias e únicas por serem feitos neste contexto, nas salas de cinema". Considerando que as minhas posições pessoais reconduzem-se, em termos de soluções (não nos pressupostos), às dessa direita, tenho a dizer que:

a) é-me indiferente se os filmes que vejo são portugueses ou não;

b) não faz qualquer sentido pensar que TÊM que existir filmes portugueses, por decorrência também TERIAM que existir p.ex. escultores em gelo, etc.

2. Diz que "É pimba pôr crianças a aprenderem uma coisa que não lhes pode dizer rigorosamente nada. Que aprendam mais cedo a ideia de pátria do que a ideia de Mundo. Que saibam primeiro quem foi Dona Urraca, antes de saberem quem foi Galileu.

a) resta saber se Galileu diz alguma coisa a crianças de 9/10/11 anos;

b) temos aqui um infernal defensor de que a História do Mundo preceda a História de Portugal, o que é absolutamente inaceitável;

c) de facto, DO tem em si a defesa do mais bacoco e ultrapassado internacionalismo marxista.

3. Diz também que se recusa "a cantar o mesmo hino que canta Paulo Portas ou os militantes do PRN e da ND, como se alguma coisa nos unisse. Não acredito nesse valor e espero que um dia ele morra. Matou demasiada gente."

a) o sectarismo de DO mediante algo que é de todos os portugueses é aberrante;

b) DO adopta uma postura de clara inferioridade face aos militantes da ND, PP e PNR, por eles cantarem desde logo não canta;

c) com essa atitude, o efeito decorrente pretendido é o mesmo que Salazar pretendia, identificar o hino com a extrema-direita;

d) então o "God Save the Queen", entre outros, também mataram muita gente, UAU, lá vem de novo o bacoco internacionalismo marxista e a sua defesa da pureza dos símbolos e da defesa dos coitadinhos.

Parece mesmo que a extrema-esquerda pretende um debate ideológico em torno do hino nacional. Que a extrema-esquerda tenha vergonha de que existam países é um problema seu, em qualquer caso. Mas o hino nacional é um símbolo da República que não pode ser abandonado.

E, como diz o meu tio Juvenal, as letras dos hinos nacionais vão dar todas ao mesmo: " Somos os maiores, e se os outros vierem damos porrada neles". Portanto qual é o problema ?


Feliz Natal

Desde já envio, também em nome do Mário Garcia, os votos de um FELIZ NATAL aos leitores.

O Descrédito continua !

Inacreditável

Apesar de se situar na extrema-esquerda, é com gosto que diariamente leio o Barnabé. E várias vezes concordo com o que por lá se escreve, para além da incontornável qualidade dos textos que o colocam certamente entre os 5 melhores blogs portugueses, pelo menos.

Mas fiquei siderado com o post Música Pimba.

1. Daniel Oliveira sente-se envergonhado de a filha saber cantar o hino nacional.

2. Depois, diz ter tentado ensinar-lhe coisas mais interessantes.

3. Qualifica A Portuguesa como música pimba.

E ainda piora, em resposta a comentários publicados, diz que acredita mais no apoio à criação de obras culturais portuguesas do que nos símbolos nacionais.

Quanto a tudo isto tenho que dizer o seguinte:

1. Eu julgava que esse pseudointernacionalismo bacoco já morrera em Portugal, este ano na Grécia no Festival da
IUSY já tinha visto no espaço dos Jusos um cartaz a dizer "Este é um espaço internacionalista, por favor não tragam as bandeiras dos vossos países. As bandeiras das vossas organizações são bem vindas". E escusado será dizer que o achei totalmente cretino.

2. Eu envergonho-me é das pessoas que não sabem cantar o hino nacional. É o mínimo dos mínimos. Lá que ninguém saiba o significado da palavra egrégios é como o outro, mas não saber o hino é demais.

3. Nos meus tempos de escola primária também me ensinaram o hino nacional. E não acho que venha algum mal ao mundo de ele ser cantado todos os dias na escola. Sinceramente, tanto me faz. O importante é que ele seja ensinado.

4. Não por acaso que das experiências mais arrepiantes que já tive foi o hino cantado por 100.000 pessoas no antigo Estádio da Luz no jogo Portugal-Hungria que nos levou ao Euro 2000, seguido daquele minuto de suposto silêncio pela morte de Amália Rodrigues com o som de Ai Mouraria.

5. Eu nem quero imaginar o que devem ser as tais "coisas mais interessantes" que Daniel Oliveira quis ensinar à filha. Provavelmente, algo pseudointelectual e chatíssimo.

6. Qualificar o hino nacional como música pimba é um tremendo disparate. Mas quem faz essa qualificação tem obrigação de chamar o mesmo à Internacional.

7. E, mesmo que o faça, está-se mesmo a ver que só não é pimba, para DO, aquilo que "possibilite uma profunda reflexão sobre o sentido da vida", ou algo parecido.

8. De alguém deste calibre não admira que venha defender os horríveis subsídios à produção cultural. E, escusado será dizer, ao contrário por exemplo do Mário Garcia que tem uma perspectiva mais abrangente da matéria, e, não concordando, reconheço lógica ao que defende, DO apenas restringe esses subsídios àquilo que considera cultura, leia-se, ao erudito. O que dispensa comentários.



Expropriações

O Mata-Mouros faz considerações sobre o novo regime legal que aí vem, que permitirá a expropriação, por Sociedades de Reabilitação Urbana (empresas públicas, entenda-se), de edifícios cujos proprietários não procedam à respectiva recuperação.

Antes de mais, e independentemente de algumas reservas que possa ter, concordo com a medida na generalidade. É uma forma de garantir a atenção ao património edificado, no quadro de um urbanismo de melhor qualidade. Actualmente, todos exigem cidades mais bonitas e arranjadas, e tal possibilidade é uma ajuda fundamental nesse sentido.

Para mais, se expropriados e devidamente recuperados esses edifícios servirão certamente para repovoar o centro das cidades (seja para habitação jovem ou não, que essa moda de que só com habitação jovem se faz esse repovoamento a mim não me convence), para aumentar o parque habitacional, para permitir uma política de solos mais consentânea com o direito à habitação.

Mas o mais importante é que essa medida não é inconstitucional. Diz o nº 2 do art. 62º da Constituição que a expropriação por utilidade pública, como é o caso, pode ser efectuada com base na lei e mediante o pagamento de justa indemnização.

Angola

Miguel Cabrita critica, e bem, o MPLA.

Pena daí não retirar as devidas consequências quanto à vergonha que é esse partido fazer parte da Internacional Socialista. Para onde entrou vá-se lá saber porquê.

Imigrantes e eleições locais

Discordo deste post de Vital Moreira. Por estes motivos:

1. Pela relação que faz entre pagamento de impostos e direito de voto, uma vez que o princípio no taxation without representation já foi ultrapassado por formas mais avançadas de legitimação e de participação democráticas.

2. Não se exigir a reciprocidade redunda numa total falta de respeito pelos cidadãos portugueses residentes no estrangeiro, e demonstra na comunidade internacional um Estado que não se dá ao respeito.

3. Mais grave, admite que a concessão do direito de voto para as eleições locais sem reciprocidade é apenas um primeiro passo. Ora, será que lhe ocorreu que os imigrantes que vivam em Portugal após vários anos podem, nos termos da lei, pedir a nacionalidade portuguesa, que depois de concedida lhes permitirá votar ? Que lógica então terá conceder direito de voto a imigrantes, sem reciprocidade, após viverem em Portugal alguns anos ?

A consequência desta linha de pensamento já eu a conheço bem, é típica da esquerda mais calhorda que se autoproclama como mais avançada.
Que é a perigosíssima lógica de "Os países não interessam para nada". E há alguém disposto a dizer que PORTUGAL de nada interessa ?

Curiosamente, ainda ontem estava num chat da internet (Para quem goste do Festival da Eurovisão, canal #eurosong no server irc.eurosong.net, port 6667), e era curiosa esta distinção:

- por um lado, suecos e neerlandeses a dizerem que não têm qualquer orgulho da sua nacionalidade, com os suecos a levarem a coisa ao ponto de dizerem que apenas tiveram sorte de nascer ali (eu vou dispensar-me de fazer comentários quanto à mentalidade sueca e aos horrores politicamente correctos que lhes transmitem nas escolas);
- por outro lado, britânicos, portugueses e gregos a terem a posição diametralmente oposta, transmitindo orgulho no seu país e nacionalidade.



Patética

É o único adjectivo que se pode dar à justificação de Paulo Portas para não discutir o Conceito Estratégico Militar com o PCP e o BE.

Ainda estamos na Guerra Fria, Sr. Ministro ? Cá para mim teve medo que houvesse informações enviadas para Moskva ! Ou para La Habana ! Ou quem sabe mesmo para Pyongyang, capital de um país absolutamente democrático, nas palavras de Bernardino Soares !

segunda-feira, dezembro 22, 2003

Não é por embirração...

...mas Eduardo Prado Coelho escusava de ser incoerente.

Pois passo a citar:

"O primeiro-ministro pode afirmar que, na sua hierarquia de valores, o direito à vida está acima de qualquer outro, mas sabe certamente que não está a falar da vida em geral, uma vez que não consta que seja vegetariano e nunca tenha comido um bife, apesar de a sacrificada vaca ser uma exuberante manifestação de vida. Está a falar da "vida humana", e sabe perfeitamente que a única grande questão consiste em saber quando começa a vida humana".

Na escola ensinaram-me que os vegetais também são vida ! E agora ?

domingo, dezembro 21, 2003

A Vitória do ‘Jaquinzinho’

Intitulando em 1ª página que «Já só temos 9 barcos na fauna do bacalhau», o Público de hoje (Domingo) noticia que «Portugal importa 95% do bacalhau que consome».

Com os incentivos que Bruxelas tem dado para o abate da frota pesqueira nacional, ao mesmo tempo que pretende liberalizar a nossa área económica exclusiva em benefício directo de uma das maiores frotas pesqueiras mundiais, a Espanha, as negociações levadas a cabo sobre o dossier europeu das pescas constituem mais uma triste anedota nacional.

A política nacional para o sector tem sido consistente. Basta ver o encerramento da Docapesca, e a transferência da totalidade do mercado grossista de peixe para o MARL, mais acessível para os TIR internacionais (e com os preços das portagens da CREL a reflectirem-se, naturalmente, no preço ao consumidor).

A grande ‘vitória’ negocial pescada pelo Governo português esta semana em Bruxelas, que evitou mais cortes à faina dos ainda existentes pescadores e armadores nacionais, só terá paralelo num eventual levantamento ao embargo à exportação de carne bovina nacional que, como se sabe, não tem praticamente expressão económica, até porque importamos cerca da metade da carne que consumimos.

Só faltará então ao Governo português assegurar em Bruxelas as quotas nacionais de caça ao gambosino!

sexta-feira, dezembro 19, 2003

Por falar em reaccionários

Ontem contaram-me que entre os estudantes da Faculdade de Direito de Lisboa existe um tal Sérgio Lourinho.

Ora, esse cidadão já é de todos conhecido por...isto:

1. Numa aula teórica com o Prof. Paulo Otero, disse que o PSD é um partido de extrema-esquerda.

2. Numa aula teórica com o Prof. Eduardo Paz Ferreira, defendeu que existissem faltas e avaliação relativamente às aulas teóricas.

3. Estudou durante um ano em Coimbra, após o qual se transferiu para Lisboa porque "em Coimbra são todos comunistas e em Lisboa toda a gente é de direita".


Considerando que o seu ídolo político é Paulo Portas, tal afigura-se-me estranho. Para quem considera o PSD de extrema-esquerda, até me admira como é que o CDS-PP não é ainda um partido de esquerda.

Em qualquer caso...onde é que ele deixou a nave ?



O estranho Mr. Lomba

Para além de defender posições ultrareaccionárias, coisa que já não é surpresa, Pedro Lomba não digeriu certamente nada bem a sua juventude.

Leiam o post Adolescentes e observem este exemplo de recalcamento.

O Estado da Direita

Como se pode ver aqui como exemplo de vários locais da blogosfera e muito em especial neste artigo de José Manuel Fernandes, a direita começa a desencantar-se e a abandonar o apoio ao Governo de Durão Barroso.

Curiosamente, é a direita mais arejada e liberal que dá ares da sua insatisfação. A direita conservadora continua feliz e satisfeita no seu canto.

Até ver, Durão Barroso conduzirá o PSD e o Governo pelos caminhos mais conservadores. Mas como já escrevi, aproxima-se e a passos largos o dia das grandes roturas à direita. Pedro Magalhães e Pedro Adão e Silva já o anunciaram, também.

Se calhar essa rotura ideológica à direita entre liberais e conservadores vai acontecer mais proximamente do que pudéssemos pensar...e não tenham dúvidas, quando a rotura se projectar no plano prático, a coligação de Governo romperá.

quinta-feira, dezembro 18, 2003

Suécia...

O Governo sueco entende dever proibir, a partir de 2005, e seguindo o exemplo irlandês, que se fume em bares e restaurantes.

E a justificação é a nova desculpa inventada pelos fanáticos do anti-tabagismo depois do fracasso do argumento de os clientes serem fumadores passivos. Que é a questão de saúde dos empregados. Tenta-se, assim, transformar uma questão mais geral numa questão de saúde no trabalho.

Em primeiro lugar, e pelo menos no nosso país, tem que se considerar que os riscos advenientes da exposição ao fumo do tabaco para quem trabalhe em cafés, bares e restaurantes são riscos inerentes à profissão, assim como os riscos que tem quem trabalha com material radioactivo ou explosivo, entre outros.

Já calculo que aí vem o argumento de que estes riscos são evitáveis e os outros não. E temo pelo dia, que pelos vistos não tardará, em que se considerará fumar um acto troglodita (vide o que alguns dizem das touradas). Mas há que ter em conta a realidade social e tomar medidas razoáveis.

Aliás, algum fumador está-se a ver a tomar café sem fumar o seu cigarrinho depois ?

É nestes momentos que mais que nunca adoro o princípio da subsidiariedade. Esta é uma matéria que por natureza compete aos Estados-membros, e não a eurocratas cheios de ímpeto pseudocivilizacional.

Não duvidem que o Governo que adoptasse uma medida destas em Portugal cometeria suicídio político. Provavelmente teríamos uma revolução na rua no próprio dia.




Quando a esmola é muita...

...o santo desconfia.

Não há, de facto, melhor provérbio para qualificar o posicionamento do PSD e do PP face à interrupção voluntária da gravidez.

Em qualquer caso, esta situação acaba por vir dar razão a Ferro Rodrigues, que tem dito e repetido que é o PP quem manda na coligação.

Claro que já se está mesmo a ver Paulo Portas a chegar a Outubro de 2006 e levar a IVG a ser um dos pontos fundamentais de debate da campanha eleitoral. Aliás, se não o fizer perde uma oportunidade de reforçar claramente o seu partido.

A não perder

Este artigo onde Pacheco Pereira pura e simplesmente reduz Luís Delgado a cinzas.

terça-feira, dezembro 16, 2003

Interrupção Voluntária da Gravidez

Tudo indica que os partidos de direita se preparam para descriminalizar a interrupção voluntária da gravidez, com base no postulado de que a mulher que aborta não deve ser penalizada. Passaria, assim, a IVG de crime a contra-ordenação.

Tal proposta, supostamente consensual e humanista, está ferida de morte por ser tão ou mais hipócrita que a legislação em vigor. Senão vejamos.

1 - Trata-se de uma jogada política de muito baixo nível, com a qual se pretende dar a entender que são os partidos de direita que se preocupam com o destino das mulheres que decidem abortar, uma vez que os partidos de esquerda terão muitas dificuldades quer a votar a favor de uma dessa propostas, quer em justificar por que motivo não o fazem.

2 - Visa-se com isto retirar cobardemente espaço político às iniciativas peticionárias da JS e da Plataforma constituída. Os partidos da maioria já estiveram extremamente incomodados com a iniciativa da JS sobre o crédito bonificado à habitação, de modo a inventarem pretextos processuais inexistentes para não se discutir aquilo que lhes era impossível contrariar. Curiosamente ou talvez não, estas propostas aparecem na altura em que a JS lança a sua própria petição com vista à realização de um referendo, embora, ressalve-se, continue a considerar que o melhor meio para inverter a situação é a aprovação de uma lei na Assembleia da República, porque direitos não se referendam. Contudo, mais importante que o meio pelo qual se consegue a mudança da situação é a mudança legislativa em si.

3 - Ainda que não possam ser presas, as mulheres que interromperam voluntariamente uma gravidez continuam a ser punidas, a título de contra-ordenação. E quantas vezes tornando mais difícil a sua vida com a aplicação de coimas.

4 - Não se esclarece se aos profissionais da saúde que levem a cabo a IVG se mantém a criminalização ou se se passa, aqui também, à contra-ordenação. Em qualquer caso, continua a ser uma actividade médica proibida. O que mantém a situação actual em que às mulheres que decidam interromper uma gravidez lhes resta a indignidade e o perigo do aborto clandestino, com todas as suas consequências.

Ou seja. As mulheres continuam, primeiro a ter que recorrer ao aborto clandestino, não se resolvendo este grave problema de saúde pública que existe. E depois, elas continuam a ser punidas.

Chamam a isto justiça social ? Eu acredito que chamar a isto hipocrisia é demasiado leve.



Pena de morte ?

Os Estados Unidos já consideram a possibilidade de Saddam ser condenado à pena de morte. Mais uma vez, a Administração Bush não está minimamente consciente do erro político em que tal consistirá.

Até porque nesse caso ninguém vai acreditar que houve um julgamento justo.

segunda-feira, dezembro 15, 2003

SaZZZam

E continua. Não é só em Portugal que estas últimas semanas têm sido manifestamente aborrecidas. No estrangeiro também.

Mesmo a detenção de Saddam constitui um enorme bocejo.

sábado, dezembro 13, 2003

Afinal, Quem Defende a Qualidade Alimentar?

A propósito da I Conferência Nacional de Segurança Alimentar, que se realizou no final desta semana no Porto, o «Diário de Notícias» resolveu dar destaque a este assunto, puxando para a sua capa a adiada questão da Agência para a Qualidade e Segurança Alimentar (AQSA).

Na edição de 5ª feira, o DN refere, sob o título «Alimentos fora de controlo», que:
«Portugal não tem um controlo organizado sobre os alimentos que são ingeridos diariamente. A ausência de uma estrutura e organização é o maior problema nacional no que respeita à garantia do que é consumido. Este diagnóstico é comum aos vários especialistas da área. que continuam a lamentar que a Agência para a Qualidade e Segurança Alimentar, uma entidade prometida desde os tempos dos governos socialistas, não tenha já avançado para o terreno. Em resultado disso, a cadeia alimentar dos portugueses continua exposta e sem uma fiscalização estruturada desde a origem do produto até ao prato do consumo

Sobre o arquivamento do projecto de Agência preparado pelo Governo anterior, o DN noticia «Projecto de mega-agência passa a mini-estrutura »:
«Uma mega-agência para a segurança alimentar com as funções de investigação, inspecção e fiscalização deu lugar a uma estrutura pequena, que apenas irá avaliar os riscos para a saúde pública, sendo os organismos de controlo e fiscalização agregados num só. Os projectos para que entrem em funções estão entregues, falta a aprovação em Conselho de Ministros

O Governo, quandi questionado «Porque é que puseram de parte o modelo de Agência do PS?», responde sigelamente:
«Esse modelo revelou-se desadequado sobretudo porque nele coexistiam as funções de avaliação de risco, inspectiva e fiscalizadora
«O novo modelo da Agência Portuguesa de Segurança Alimentar, aliás na senda da Autoridade Europeia, prevê apenas a avaliação e comunicação do risco. Será autónoma da função inspectiva e fiscalizadora de molde a assegurar a credibilidade e independência de quem avalia o risco e a eficácia de quem inspecciona e fiscaliza

Bendita edição em DVD da série «Sim, Senhor Ministro»!

Já em 21 de Novembro, com base na Agência Lusa, havia manifestado neste Blog o meu espanto em relação a este assunto, num post intitulado «Um Grande Viva aos Nitrofuranos».

O argumento utilizado para arrasar o anterior modelo da AQSA, em que as funções de inspecção e fiscalização da cadeia alimentar são incompatíveis e devem estar segregadas, por motivos de credibilidade e independência, simplesmente não é aceitável.
Em primeiro lugar porque continuam a ser competências do Estado, tal como já são hoje, segregadas pelas diversas 'capelinhas' da Administração Pública.
Depois porque, sobre a questão do aumento dos casos de BSE em Portugal, é este mesmo Governo que se defende com o aumento da eficácia da inspecção e fiscalização, agregadas no mesmo organismo, a Direcção Geral de Veterinária.

Entretanto, na sua edição de 6ª feira, o DN noticia que «Membros do Governo ignoraram debate sobre segurança alimentar», referindo as ausências na referida Conferência tanto do Secretário de Estado Luís Frazão, como da Presidente da Comissão Instaladora da futura Agência, Isabel Meireles.

É o Descrédito...

sexta-feira, dezembro 12, 2003

Quem Quer um Novo Bloco Central ?

No Editorial da Revista Prémio desta semana, Diogo Madeira faz um apelo aos principais dirigentes políticos do País em nome do 'sentido de Estado'.
Refere-se mais concretamente ao Presidente da República, ao 1º Ministro, e aos dirigentes do PS e PSD.

Alega que a intervenção do PR na Argélia, considerando que «o domínio estrangeiro representa, hoje em dia, uma opressão intolerável», pôs em causa a política externa do Governo (que enviou os GNR's para o Iraque).

E considera que os dirigentes do PS e do PSD deveriam ter uma «atitude de Estado», procurando um «entendimento alargado» sobre vários assuntos, como a política económica e financeira, ou a reforma da administração pública, a bem da Nação (um novo Bloco Central?).

Discordo frontalmente desta análise, que nem politicamente correcta posso considerar.

Jorge Sampaio limitou-se a dizer na Argélia aquela que é a opinião esmagadora da maioria dos portugueses, o que foi particularmente oportuno, numa altura em que a população iraquiana continua a rejeitar a presença estrangeira no seu território. E esta presença, reforçada por um cada vez número maior de países no Iraque, corre o risco de transformar-se, em vez do falado esforço de reconstrução desse País, no temido início da clivagem fatal de civilizações, impulsionada por fundamentalismos religiosos.

Se é certo que são bem conhecidos os diferentes pontos de vista entre este Órgão de Soberania e o Governo sobre a questão do Iraque, e que até hoje poucos portugueses perceberam a razão de ser da Cimeira das Lages, também é pouco credível admitir que não exista coordenação na Diplomacia portuguesa na presença do PR num País vizinho, de conhecido pendor islâmico.

Mas a questão do «entendimento alargado» PS-PSD é que merece da minha parte as maiores críticas. Até porque nas questões fundamentais este entendimento já existe, como é o caso da maioria das questões europeias.

O que Portugal necessita hoje é exactamente o oposto do que Diogo Madeira sugere.
O que o País precisa é de saber que existe uma alternativa política.
Que se a política económica e financeira escolhida por este Governo estiver errada, como é aliás a opinião do Ministro das Finanças Alemão, existirá uma outra forma de conduzir o País.
E esta alternativa só pode vir do Partido Socialista.

Tendo o actual Governo o apoio de uma maioria absoluta, este apelo a um «entendimento alargado» PS-PSD em nome da prosperidade económica do País só pode ser entendido de duas formas:
É o verdadeiro reconhecimento do falhanço das políticas deste Governo em toda a linha.
É o verdadeiro reconhecimento da actual inexistência política do PS
.

Parabéns !

Parabéns Miguel Duarte, pela tua convincente vitória nas eleições para a Associação Académica de Coimbra !

Crucifixos em Itália

Que se deixem estar crucifixos nas salas de aula, apesar de tal ser algo cuja utilidade nem os crentes perceberão e que em rigor não devia acontecer, ainda é como o outro.

Agora...considerar-se (pior, ser considerado por juristas) que eles por lá devem ficar por serem um símbolo da identidade do país ??? Não vejo nenhum crucifixo em qualquer símbolo nacional italiano !

Não Devíamos Arranjar um Subsídio ?

O Post do Pedro Sá do «Não à Cultura», perdão, «Não aos subsídios», é bastante estimulante do ponto de vista intelectual
(não querendo por isso atirá-lo para qualquer grupo elitista, para não ser ofensivo).

Considero em primeiro lugar que a nossa divergência de perspectiva está desde logo condicionada pelas nossas diferentes áreas de formação (Direito e Economia). Por outro lado, o Pedro Sá salta entre opta por uma concepção minimalista de cultura, quase casuística. Eu prefiro uma concepção mais alargada.

Seria fastidioso responder alínea por alínea, pelo que procurarei responder ao seu texto duma forma leve e global, acentuando porventura o ponto de vista Económico da questão.

A definição de Bens Públicos é clara em autores de referência na Economia Pública, como Joseph Stiglitz. Pelo que a minha inclusão da cultura nesta categoria não é uma opinião pessoal, é uma definição da teoria económica.
Claro que há clivagens ideológicas sobre as fronteiras na classificação de Bens Públicos, que refletem as diferentes vontades mais ou menos interventivas do Estado.
(Uma das mais importantes clivagens a que estamos actualmente a assistir é a da eventual privatização das Águas de Portugal).

Mas vejamos esta questão do ponto de vista do 'Mercado'.
O pressuposto da eficiência do mercado ao nível da distribuição de bens pelos utilizadores tem como subjacente que o mercado é perfeito (a tal 'mão invisível'), o que não será certamente o caso do mercado de bens culturais, pelas assimetrias óbvias que apresenta.

Em Portugal, apenas existe em Lisboa e no Porto massa crítica de população e poder económico suficientes para sustentar, como procura, a produção de eventos culturais. Ou seja, se mesmo em Lisboa, essa massa crítica não é suficiente para viabilizar muitas acções culturais, no resto do País não haverá mercado para a cultura.
Qual a lógica a aplicar aqui?
Deverá ser apoiada a cultura em cidades do interior?

Algumas notas adicionais

1 - A minha referência entre optar por ir ao Teatro ou ver os «Prós e Contras», não significa que estes sejam ?bens substitutos puros?. Trata-se de poder escolher.
Aliás, depois de ver este programa acerca da «Constituição Europeia», desisti pura e simplesmente de perder o meu tempo (é a minha escolha).

2 - Mas a capacidade de escolha, nos bons princípios liberais, começa na educação.
Se no ensino básico não houver uma preocupação ao nível do ensino musical ou da educação visual, os futuros cidadãos não estarão em condições de escolher no futuro sobre o que gostarão de ouvir ou ver (ou mesmo de fazer). Limitar-se-ão a consumir o que as grandes produtoras cinematográficas ou musicais decidam que devem consumir.
No entanto, há aqui um subsídio indirecto à cultura. Estará errado?

3 - Quando me refiro de civismo, não falo da importação de qualquer modelo nórdico ou anglo-saxónico.
Civismo é o respeito pelo próximo, regra mínima de convivência social.

4 - Eu vejo imenso de cinema americano (a oferta é imensa...).
E já conheço de cor e salteado o drama e o stress pós-traumático dos americanos por causa do Vietname.
No outro dia fui ver «Os Imortais», o primeiro filme 'a sério' sobre a nossa guerra colonial.
Mas este filme terá sido, provavelmente, subsiadissímo. Estará errado?

Provocações Finais

i - Se « cultura é tudo aquilo que é produzido pelo homem», e na concepção de que cada um deve ter a liberdade para fazer o que bem entende, então concordo com o Pedro Sá: Se alguém sentar-se na retrete durante 3 horas, não deverá ser subsidiado pelo Estado.

ii - Julgo que o Pedro Sá terá sido exposto quando era pequeno a uma dose excessiva de filmes de Manuel de Oliveira ou João César Monteiro, da qual nunca recuperou.
Só assim se explica uma atitude tão radical perante os subsídios à cultura.

iii - Este Blog é claramente cultura. Não devíamos arranjar um subsídio?

quinta-feira, dezembro 11, 2003

NÃO aos subsídios

De facto, está visto que os dois mensageiros deste blog têm posições radicalmente distintas nesta matéria...

Pois aqui vão os meus comentários:
a) a discussão entre ópera e ski é a base da minha menção à argumentação exagerada de JCD no blog Jaquinzinhos;

b) Não cabe ao Estado assegurar a existência de produção e divulgação de cultura:
1. porque cultura é tudo aquilo que é produzido pelo homem
2. porque cultura existe independentemente de qualquer intervenção pública
3. porque tal frase assenta (mais uma vez) na redução da acepção de cultura a uma certa parte dela

c) assim, nego uma visão reguladora do Estado em matéria cultural; sendo a cultura algo do mais profundo socialmente, o Estado não tem o direito de a condicionar;

d) discordo por inteiro de um modelo onde caiba ao Estado a vanguarda da acção cultural. Como da acção em quase tudo, diga-se. As excepções são, obviamente, as funções de soberania e as funções directamente sociais, verbi gratia a segurança social, a educação e a saúde;

e) considerar que entregar a produção cultural à lógica de mercado é inaceitável por ser elitista é exactamente a mesma coisa do que considerar que entregar o negócio de diamantes aos privados também é inaceitável por esse metal não ficar disponível para todos os bolsos;

f) não conheço qualquer matriz cultural na política do Estado Novo que não o dirigismo cultural de António Ferro, próprio de regimes autoritários;

g) os índices de analfabetismo herdados do salazarismo devem-se à criminosa política baseada na total defesa do status quo social existente, custasse o que custasse;

h) "falta de civismo" e "civismo" são definições que não compro, porque estão quase sempre associadas ao desejo de assassínio de comportamentos culturais nacionais e da adopção, tida por obrigatória, de modelos de comportamento vindos do Norte da Europa;

i) o teatro não é obrigatoriamente fonte de esclarecimento;

j) a grande maioria das pessoas quando vê televisão quer espairecer e divertir-se, e não aprender; essa visão da televisão que "tem de ser para ensinar as pessoas" é, no mínimo, ultrapassada

l) o princípio da igualdade de oportunidades implica também que as escolhas possíveis possam não passar pelo teatro, mas eventualmente pela sala de jogos existente na zona, por uma associação desportiva, etc. etc.;

m) eu sou contra todo e qualquer tipo de subsídios, maxime porque é o cidadão comum que sempre fica a perder, e principalmente contra os subsídios à actividade cultural, reveladores da lógica mais elitista e estalinista, e suportada por todo o tipo de argumentos mais falacciosos e mentirosos, e cada vez mais imaginativos; aliás, as justificações passam muito pela ideia de que a produção de semelhantes actividades é necessária ao país, quando NÃO o é.

Por exemplo, o país necessita de ter uma Companhia Nacional de Bailado ? Está obviamente visto que NÃO ! Daí não se tira qualquer dividendo !
E o argumento de que se não existir CNB o que acontecerá a quem quer ser bailarino e não tem oportunidades é tendencioso, elitista e, arrisco-me a dizê-lo, estúpido e discriminatório.
Porque:
- o que não falta por aí são pessoas com formação numa área e a trabalhar noutra totalmente diferente;
- nunca vi ninguém fazer qualquer drama por quem quer ser astronauta não o poder ser em Portugal.

E Mais Subsídios à Cultura

A questão dos subsídios à cultura será sempre, temo, um dos pontos polémicos neste Blog.

A discussão entre a ópera e o ski, a que o Pedro Sá faz referência, é um exemplo excelente de como é fácil atacar demagogicamente toda a questão dos subsídios à cultura. Diria até que, conceptualmente, segue a mesma lógica do ataque fácil ao Rendimento Mínimo Garantido.

Deixando a árvore e passando à floresta, a questão central, nomeadamente em termos económicos, consiste em ter a consciência que a Cultura é um chamado 'Bem Público'.
É papel do Estado, quer enquanto Entidade promotora (versão interventiva) como enquanto Entidade reguladora (versão liberal), assegurar a existência da produção e divulgação da cultura, nas suas diversas vertentes.

Se houver Entidades privadas que também o façam, tanto melhor.
Se há produções culturais lucrativas, melhor ainda.

Entregar a produção cultural à lógica de mercado, é inaceitável, por ser economicamente discriminatória e, paradoxalmente, elitista.

Por exemplo, a inviabilidade económica pura do Teatro em Portugal levaria a que, só teria acesso ao Teatro quem pudesse pagar uma ida ao estrangeiro.

E pior ainda, seria assumir que a matriz cultural que ainda herdámos do Estado Novo, de dar ao 'povo' aquilo que o 'povo' quer («panis circenses»), cujos resultados ainda se nos revelam por exemplo nos índices de analfabetismo ou na falta de civismo, é afinal a matriz cultural que defendemos.

O princípio da igualdade de oportunidades, para quem queira ter um ponto de referência mais liberal, defende implicitamente poder escolher entre ir ao Teatro, ou ficar em casa a ver um programa como o «Prós e Contras», cujo formato televisivo atingie um nível de esclarecimento comparável ao tipo Circo Chen.

Para finalizar, descubram por favor se o vosso problema reside nos subsídios à cultura, ou nos critérios com que estes são atribuídos. É que neste segundo caso, entramos numa discussão completamente diferente, e que é válida para muitos outros sectores de actividade.

(Também acho piada às vezes verificar que, aqueles que atacam mais radicalmente a existência de subsídios à cultura, são os mesmos que receiam imenso a perda da nossa identidade cultural com o processo de integração europeia...)

O Estranho Caso da Direita Portuguesa

Já na sua crónica de Sábado, Augusto Santos Silva, após algumas semanas de pausa na reflexão política, escreve magistralmente sobre «O Estranho Caso da Direita Portuguesa».

Começa por descrever globalmente a nossa direita: « O facto é que tínhamos em Portugal um partido, o PP, que se assumia como de direita, e de tal fazia a linha de fractura com o seu próprio passado, "centrista", de CDS. Agora temos dois, porque é preciso acrescentar-lhe a Nova Democracia de Manuel Monteiro. Com Sá Carneiro ou Cavaco e Silva, o PPD sempre resistiu a deixar-se catalogar como direita, preferindo afirmar-se como reformista antiesquerda, o que quer que isso significasse. Até mudou o nome para PSD. Preocupação evidente de evitar a colagem ao extremo direito do espectro partidário e não perder o eleitorado do centro. O cuidado doutrinário pouco era, porque o PSD é desde a sua fundação a mais pragmática das forças políticas, verdadeira federação de interesses, a quem a consistência ideológica seria, em vez de amparo, empecilho. As diversas alas convivem mais ou menos pacificamente, conservadores, liberais e sociais-democratas sentem-se aparentemente irmanados pela comum hostilidade à esquerda e pelo instinto básico de ocupação do poder. (Por isso é que o PSD é tão estruturalmente um partido de poder, um partido-Estado.)»

Naturalmente, o seu raciocínio leva-o também à proposta comum de revisão constitucional desta “estranha direita”:
« Consagra-o a iniciativa doutrinária por excelência que foi a apresentação de um projecto comum de revisão constitucional extensiva e as declarações dos líderes de ambos os partidos. Durão Barroso diz que a nossa Constituição não é, por vício genético, democrática. Paulo Portas não quer que o país seja "anticolonialista". Os dois pretendem expurgar o texto constitucional dos elementos programáticos, reduzir senão eliminar sucessivos direitos sociais, nivelar quanto possível a responsabilidade pública e a iniciativa privada, e nem sequer falta ao seu projecto a reedição póstuma da Câmara Corporativa, sob o nome de Senado (versão Santana Lopes), para mostrar ao mais cego a matriz anacronicamente autoritária que os inspira.
Ora, isto é veramente estranho. Ao contrário da generalidade dos conservadores europeus (do tal centro-direita que gosta de invocar), e depois de 30 anos de democracia em que pôde agir livremente e longamente exercer o poder, a direita portuguesa ainda tem problemas com a democracia, ainda não resolveu a questão colonial, ainda se sente pouco à vontade com coisas como tribunais constitucionais, conselhos de opinião, direitos de participação, regras de negociação colectiva, etc., etc. E, ao contrário da generalidade dos grandes partidos conservadores ou liberais da Europa, o nosso PSD deixa-se comandar doutrinariamente por um pequeno partido de extrema-direita, a quem entrega de mão beijada a agenda ideológica.
»

Conclui pois que: «Todas as correntes políticas são, de um modo ou outro, úteis. Mas a nossa direita, a lusitaníssima direita, em que nos está a servir? Pois se o défice não controla, só maquilha, a economia, não estimula, só deprime, e se nem da ordem sequer cuida, que utilidade tem?
Bom, lá vai bradando contra a arquitectura democrática e a sua consagração constitucional. Mas, com toda a fraqueza, isso cheira mais a naftalina do que a política.
»

O Colonialista

No Domingo passado, Ana Sá Lopes escreveu um artigo intitulado O COLONIALISTA, que não resisto em citá-lo na íntegra, pois assim dispensa comentários:

«Há uma semana, o ministro da Defesa explicou que queria retirar o "anti-colonialismo" da Constituição, porque não tinha vergonha da história. É falso: Paulo Portas tem, efectivamente, gravíssimos problemas com a história pátria (o fim da guerra colonial, o fim do império, o 25 de Abril) e, em algumas matérias, desconhece totalmente a história.

Só um salazarismo doentio, profundo e alicerçado em toneladas de ignorância, explicam que o ministro da Defesa tenha relativizado o peso do racismo no império português. Este mito, que serviu de propaganda ideológica a Salazar no seu Portugal multirracial do Minho a Timor, é um embuste, desmontado por todos os historiadores e percebido por qualquer um que tenha acompanhado minimamente, com razoável grau de lucidez, os quadros do quotidiano do império - onde os portugueses pretos não tinham outro papel social que servir os portugueses brancos, ao preço da chuva. Já não era escravatura, eu sei.

Todo este linguajar sobre as maravilhas do império, com o seu relativismo obsessivo e o seu paternalismo bacoco, é intrinsecamente colonialista. O colonialismo não desapareceu da sociedade portuguesa (não se fina em trinta anos uma "qualidade" que vem de Quinhentos) - e a situação interna deplorável em que, após a independência, ficou a maioria das ex-colónias tem ajudado a produzir farto pensamento neo-colonialista.

Agora, esse colonialismo latente conta com uma preciosa ajuda governamental: o ministro de Estado e da Defesa compraz-se na sua apologia, convocando todos os fantasmas mal resolvidos da sociedade, também porque se alimenta deles. Poder-se-à argumentar que Paulo Portas não tem princípios, só tem votos, mas neste caso não o creio: o seu anti-anti-colonialismo constitucional é efectivamente um princípio, o do colonialismo, agora já não envergonhado. Comparado com isto, a homenagem ao Maggiolo Gouveia foi uma brincadeira de crianças.

Esporadicamente, Paulo Portas gosta de se reivindicar herdeiro de uma direita europeia moderna - mas é falso. Portas é neto do salazarismo e das suas misérias, dos seus mitos mais patéticos, do seu obscurantismo e dos seus valores. O PSD julga que não, mas vai acabar por ser engolido na voragem




Outra vez os subsídios à cultura

É delicioso ver como, ainda que com argumentos que talvez pequem pelo exagero, o Jaquinzinhos destrói por inteiro toda e qualquer argumentação do Crítico a propósito dos subsídios à cultura.

Ao que acrescento a absoluta necessidade de se abandonar o paradigma das elites culturais. O que interessa é existir uma população que frua as ofertas culturais, sejam elas quais forem. Obviamente, num quadro em que os Delfins e a Mónica Sintra são tão cultura como o espectáculo do CNB. Porque este é o único sentido democrático da cultura.

A cultura é do povo, e não de elites. E recuso-me a falar em "atrasos nas capacidades culturais". Porque se partiria do vergonhoso e estalinista princípio de que a capacidade cultural das pessoas é algo que se ensina, e não algo inerente ao Homem.

E, como diz JDC com muita razão, não é para alguns verem espectáculos de ópera a ? 35 que todo o povo tem que os subsidiar.
Por essa ordem de ideias, se Portugal alguma vez vencer o Festival da Eurovisão também quero subsídio para não ter que pagar uns ? 100 pelo bilhete. Também acho injusto.
E não vejo qualquer sentido social e cultural em bilhetes de ópera serem mais baratos. Até parece que alguém ganha com o facto de haver ou não haver ópera.

E aliás, ainda que eventualmente admitisse a existência de algo como a Companhia Nacional de Bailado e a companhia de ópera do S. Carlos, tal não poderia significar a defesa de subsídios.


Espantoso

É espantoso como é que com 26 anos Pedro Lomba é capaz de defender posições tão atrasadas, no seu post "Campanha Alegre".

Senão vejamos.

1. "Brincar à democracia é um desperdício"

Ora:

a) para PL, umas eleições para uma associação académica são brincar à democracia. Logo, as eleições para o Automóvel Clube de Portugal também serão brincar à democracia, consequentemente. E a democracia apenas se refere aos órgãos do Estado.

Isto implica uma de duas consequências:

OU por serem estudantes é logo brincadeira, e PL, que não saiu dessa condição há tão pouco tempo como isso, portanto há pouco mais de 3 anos, considera que aqueles não podem por natureza levar seja o que for a sério, o que é de gravidade assinalável,

OU considera que a democracia é algo que não pode nem deve existir nas estruturas sociais, o que é manifestamente estranho para quem lecciona Direito Constitucional.

Mas enfim. Como contemporâneo de PL na Faculdade de Direito de Lisboa, entre 1995 e 1998, não me recordo não só da sua cara (num estabelecimento de ensino onde quase toda a gente conhece quase toda a gente de vista) como também creio que nunca dele ouvi falar. No respectivo curso 1995/2000, conhecido à direita era um Ricardo Chaves. E nenhum Lomba.

2. Mas parece que a resposta fica dada, quando PL nos diz que "Antes dos 35 anos, não devia ser permitido entrar em campanhas eleitorais. Até essa razoável idade, uma pessoa tem metade de uma vida para provar se se consegue safar sem a política. Só depois, e se nada correr bem, é que temos o Bloco Central à nossa disposição. Só depois devemos escolher a nossa bancada.

O que prova um profundo desprezo por tudo o que seja participação política, incluindo a sua própria (até me espanta, sendo assim, como é que larga bitaites uns atrás dos outros sobre o assunto nos jornais), pior, uma absoluta falta de respeito pelos partidos fora do bloco central, tão respeitáveis como o PS e o PSD, diga-se.

Ainda pior, um total desconhecimento do que é a política na realidade. Pouco ou nada me interessa se o detentor de algum cargo político se consiga safar sem a política ou não, desde que cumpra a sua missão com qualidade e respeite as normas legais aplicáveis. Nem a mim nem a seja quem for com um mínimo de bom senso. Sem prejuízo de que depender da política para viver seja das ÚLTIMAS coisas que eu gostaria que me acontecesse. Mas isso já é opção de vida.

Mas o mais grave é a pública e notória declaração de tachismo. PL está preto no branco a dizer que espera, pelas suas supostas capacidades intelectuais e, acrescente-se, absoluta ausência de trabalho político, vir do nada para a bancada de um dos partidos do arco do poder. E quem sabe se mais não ambiciona.

Mas numa pura e gratuita vontade de tacho pelo tacho.





quarta-feira, dezembro 10, 2003

Rapsódia à Portuguesa

Só recentemente estive a por a minha leitura em dia dos jornais que tinha acumulado.
Se os jornais on-line permitem viver e reagir no dia-a-dia aos acontecimentos noticiados (àquela amostra mediática da realidade), a leitura da imprensa relativa a um determinado espaço de tempo, confirma o País e o momento surreal em que vivemos.

Para além da proposta de Revisão Constitucional do PSD/PP de eliminar como limites materiais da revisão constitucional a forma republicana do regime (Artº288º), que obviamente dispensa comentários, vou citar alguns excertos interessantes daquilo que li:

António Lobo Antunes em Entrevista ao DN 18/11/03
«Não me interessa este Partido Socialista, acho trágico este Partido Comunista. O drama para as pessoas verdadeiramente de esquerda é que são apátridas, a gente vai votar em quem?»
(...) «Digamos que sou um órfão da esquerda. Também sou muito indisciplinado. Teria dificuldade com qualquer disciplina partidária. O problema dos partidos é que se tornam reaccionários porque têm que funcionar com o aparelho, como qualquer igreja.»

Euniçe Lourenço escreveu no Público de 22/11/03, acerca da discussão do OE04:
«Mas o momento mais patético foi o discurso de Guilherme Silva, líder parlamentar do PSD. 'Aí estão os sinais da retoma e de viragem da economia', 'este é também um Orçamento de elevada preocupação social', 'importa também salientar o objectivo da redução de impostos', 'este é um bom Orçamento, um Orçamento de verdade de desagravamento fiscal e de credibilidade', foram algumas das 'pérolas' de um discurso de Guilherme Silva que, para além de não perceber muito de economia, nitidamente não vive neste País»
«Passados um ano e meio de Governação e três Orçamentos, o Governo ainda se desculpa com a herança socialista e insiste na diabolização do investimento público»

Rui Teixeira Público em entrevista ao Público de 23/11/03
«É meu entendimento que os juizes não devem assumir um protagonismo excessivo. Devem ser de alguma forma recatados.»
É caso para dizer: Importa-se de repetir?

Helena Roseta comentou na Visão de 30/10/03 algumas situações como a de Fernando Lima no DN, Maria Elisa na Embaixada de Londres, Carlos Andrade afastado da TSF, o que 'aconteceu' a Carlos Pinto Coelho, ou à de Fernanda Mestrinho na prateleira da RTP:
«Uns levam o 'pontapé pela escada acima', saindo de cargos de chefia para outros lugares, superiores na hierarquia mas sem intervenção na produção noticiosa. Outros levam um o 'pontapé pela escada abaixo' e têm de se socorrer do tribunal para fazer prevalecer o seu direito ao trabalho. Tudo isto contribui para criar um clima irrespirável, sobre o qual recai sem contemplações a lógica da reconfiguração geral do poder mediático.»

Dezembro está a ser muito mais interessante...

Catalunha

Temo pelo comportamento da Esquerda Republicana, partido cuja matriz ideológica permite a sua qualificação como de extrema-esquerda.

Será que ela vai ser um obstáculo que impedirá Maragall de concretizar uma política verdadeiramente de esquerda ? Ou sofrerá uma evolução ideológica como a dos Verdes alemães ?

Por outro lado, temo que um eventual sucesso da coligação PSC-ERC-IU possa servir de argumento para todos aqueles que defendem um alinhamento do PS com o BE, algo que seria absolutamente inenarrável.

Não resisto

É mais forte que eu. A propósito de um fantástico repasto este domingo no Restaurante D. Roberto em Gimonde, perto de Bragança, faço uma pequena pausa na política para compartilhar com os caros leitores alguns dos meus restaurantes preferidos, lançando o desafio para juntarem nos comentários os vossos.

Aqui vão eles:

O Camelo, em Santa Marta de Portuzelo
Bagoeira, em Barcelos
O Sousa, perto de Vila Nova de Famalicão
D. Roberto, em Gimonde
O Abel, em Gimonde
Mon Ami, em Gaia
Cogumelo, em Oliveira de Azeméis
Dom Peixe, na Praia da Vagueira
Cortiço, em Viseu
Área Benta, em Trancoso
Pharmácia de Serviço, em Coimbra
A Grelha, em Leiria
O Telheiro, em Abrantes
Grande Futuro (Chinês), em Lisboa-Twin Towers...de longe a melhor sopa ácida picante que já comi
Carvoaria, em Lisboa-Praça de Espanha
Casa dos Passarinhos, em Lisboa-Campo de Ourique
Trivial, em Lisboa-Príncipe Real
Fidalgo, em Lisboa-Bairro Alto
Retiro do Chefe Costa, em Roja-Pé (Olhos de Água)
Querença, em Querença
A Vela 2, em Tavira

E certamente faltarão aqui alguns...

terça-feira, dezembro 09, 2003

Cobardia

Todos sabem que condeno toda e qualquer acção de protesto que se consubstancie no encerramento a cadeado de qualquer instituição.

Mas muito em particular aquela que, tal como hoje acontece na Faculdade de Direito de Lisboa, tem como reais objectivos outros que não os invocados.

É sabido que a Associação Académica é controlada pela JSD. Que neste mandato se deparou com vários problemas internos, que até redundaram na formação de novas listas. Que sofreu uma copiosa derrota nas eleições para os órgãos da Faculdade.

E que com este acto cobarde, para além de querer atirar areia para os olhos dos estudantes, deseja impedir a realização normal da campanha eleitoral onde a sua desastrosa gestão será evidentemente posta a nu.

Pergunto-me é por que motivo ninguém chamou a polícia.

sexta-feira, dezembro 05, 2003

Isto é um poço sem fundo...

Criança de oito anos acusada de acariciar colegas nos EU

Uma criança de oito anos acusada de acariciar quatro colegas da sua turma foi sentenciada a frequentar um programa de reabilitação sexual. O rapaz declarou-se culpado de uma acusação de assédio ligeira e não contestou uma outra mais grave. Se completar o programa, a queixa será retirada. A criança irá receber aconselhamento individual, uma vez que as sessões de grupo para adolescentes não são apropriadas para a sua idade. O juiz também sentenciou o rapaz a dois anos de liberdade condicional. Os procuradores do Ministério Público de Wayne County afirmaram que a criança é a mais nova a participar num programa de reabilitação. As autoridades revelaram que o miúdo acariciou uma rapariga de sete anos e tocou três outras com a mesma idade do lado de fora da roupa, enquanto assistia ao filme "Mary Poppins", numa escola, em Maio.

Isto em Portugal dava direito a uma tamanha descompostura e, provavelmente, a uns estalos do pai e da mãe. Não só
reabilitação sexual é algo que é por natureza assustador, como não posso deixar de relacionar a existência desse conceito com o enorme peso que as feministas radicais têm em tudo o que seja matéria de controlo social nos Estados Unidos.
Aliás, como já li em vários sítios, essas pessoas são responsáveis por algumas atrocidades de todo o tamanho, querendo inclusivamente desmasculinizar o sexo masculino ! A coisa chega ao ridículo de mudar regras de futebol, porque tem que se cooperar e não competir. Como se a competição não fosse algo próprio do género humano, logo. E ainda que fosse algo masculino por natureza, qual era o problema ?




quinta-feira, dezembro 04, 2003

Demissão Instantânea

Leio agora no site da TSF que o Coronel Alves Martins acaba de se demitir de comandante da Brigada de Trânsito (BT) da GNR, após o seu primeiro dia de trabalho (!), substituindo o Comandante demissionário, Alfredo Assunção.

Com ministros como o da Administração Interna, Figueiredo Lopes, ainda se queixam de pasmaceira?

País real

Este é o país real em 2003. Na ausência de novidades sobre os escândalos do momento ou alguma desgraça, vive-se no mais profundo tédio.

Até o sorteio do Euro 2004 passou um bocado ao lado...

quarta-feira, dezembro 03, 2003

Durão e o Amigo Alemão

Durão Barroso e os economistas do PSD não têm tido uma relação fácil com a Alemanha.
Sempre gostaram mais da Irlanda.

Durante a campanha eleitoral, pretenderam ignorar os efeitos da recessão alemã sobre a economia portuguesa, para poderem acusar de o Governo rosa de incompetente.

Depois, continuando a recriminar Pina Moura, criaram a API para Miguel Cadilhe, apostando nas exportações como motor da recuperação económica, onde a Alemanha tem um peso importante.
Mas a Alemanha tarda em recuperar.

Como se não bastasse, ouvem agora o Ministro das Finanças alemão apresentar como melhor exemplo da ?estupidez? do PEC, exactamente o caso português, apontando a política orçamental, assumida em torno do 'défice 3%', como uma das principais causas da recessão económica portuguesa.

Com amigos assim...

terça-feira, dezembro 02, 2003

O PEC está morto! Viva o PEC!

Desta vez, não houve tabus para Cavaco Silva.
Perante uma União Europeia que aceitou os défices orçamentais da Alemanha e da França, Cavaco disse no seu já conhecido tom de quem nunca se engana e raramente tem dúvidas que:
«O Pacto de Estabilidade e Crescimento está neste momento morto, pelo menos no que diz respeito à parte sancionatória». «Esperamos que agora tenham a coragem de liquidar de vez o PE.»

O «Público» intitulou a este propósito que «Constâncio recusa-se a fazer o funeral do pacto de estabilidade», avisando o Bartoon que «já vai sendo tempo de [ele] se mentalizar», pois «daqui a pouco temos a missa do sétimo dia».

De facto, se dúvidas ainda restassem, a França e Alemanha (as duas maiores economias da zona Euro) obtiveram o aval para a sua política orçamental em pleno ECOFIN, apenas com os votos contra da Espanha, Holanda, Finlândia e Áustria.

O Comissário Pedro Solbes, lamenta.

Manuela Ferreira Leite apoia, solidariamente.

E Hans Eichel, o Ministro das Finanças da Alemanha, explica:
«O melhor exemplo de que o PEC imposto na União Europeia não funciona em tempos de crise é a recessão que está a atravessar Portugal»,(...) «que terá no próximo ano um défice superior a 5%».

Diogo Madeira, na revista Prémio, questiona pertinentemente:
«Como é que, a partir de agora, pode o Governo continuar ?firme e hirto? nos 3%, quando votou favoravelmente a permissão do prazo para a França e a Alemanha manterem o seu défice acima daquele patamar?»

Num casting de perfeito coveiro, Cavaco Silva anuncia que o PEC está morto e enterrado.
E começa a perceber que o «Monstro das Finanças Públicas» a que se referia profeticamente, está aí em força: chama-se Manuela Ferreira Leite.

Como o vinho do Porto

"Somos o partido da esquerda, nunca fomos um partido do centro (...) não queremos acabar com os ricos, queremos acabar com os pobres". Mário Soares, 30-11-2003

Este Senhor está como o vinho do Porto, quanto mais velho, melhor!

Filipe Gil