quinta-feira, dezembro 11, 2003

NÃO aos subsídios

De facto, está visto que os dois mensageiros deste blog têm posições radicalmente distintas nesta matéria...

Pois aqui vão os meus comentários:
a) a discussão entre ópera e ski é a base da minha menção à argumentação exagerada de JCD no blog Jaquinzinhos;

b) Não cabe ao Estado assegurar a existência de produção e divulgação de cultura:
1. porque cultura é tudo aquilo que é produzido pelo homem
2. porque cultura existe independentemente de qualquer intervenção pública
3. porque tal frase assenta (mais uma vez) na redução da acepção de cultura a uma certa parte dela

c) assim, nego uma visão reguladora do Estado em matéria cultural; sendo a cultura algo do mais profundo socialmente, o Estado não tem o direito de a condicionar;

d) discordo por inteiro de um modelo onde caiba ao Estado a vanguarda da acção cultural. Como da acção em quase tudo, diga-se. As excepções são, obviamente, as funções de soberania e as funções directamente sociais, verbi gratia a segurança social, a educação e a saúde;

e) considerar que entregar a produção cultural à lógica de mercado é inaceitável por ser elitista é exactamente a mesma coisa do que considerar que entregar o negócio de diamantes aos privados também é inaceitável por esse metal não ficar disponível para todos os bolsos;

f) não conheço qualquer matriz cultural na política do Estado Novo que não o dirigismo cultural de António Ferro, próprio de regimes autoritários;

g) os índices de analfabetismo herdados do salazarismo devem-se à criminosa política baseada na total defesa do status quo social existente, custasse o que custasse;

h) "falta de civismo" e "civismo" são definições que não compro, porque estão quase sempre associadas ao desejo de assassínio de comportamentos culturais nacionais e da adopção, tida por obrigatória, de modelos de comportamento vindos do Norte da Europa;

i) o teatro não é obrigatoriamente fonte de esclarecimento;

j) a grande maioria das pessoas quando vê televisão quer espairecer e divertir-se, e não aprender; essa visão da televisão que "tem de ser para ensinar as pessoas" é, no mínimo, ultrapassada

l) o princípio da igualdade de oportunidades implica também que as escolhas possíveis possam não passar pelo teatro, mas eventualmente pela sala de jogos existente na zona, por uma associação desportiva, etc. etc.;

m) eu sou contra todo e qualquer tipo de subsídios, maxime porque é o cidadão comum que sempre fica a perder, e principalmente contra os subsídios à actividade cultural, reveladores da lógica mais elitista e estalinista, e suportada por todo o tipo de argumentos mais falacciosos e mentirosos, e cada vez mais imaginativos; aliás, as justificações passam muito pela ideia de que a produção de semelhantes actividades é necessária ao país, quando NÃO o é.

Por exemplo, o país necessita de ter uma Companhia Nacional de Bailado ? Está obviamente visto que NÃO ! Daí não se tira qualquer dividendo !
E o argumento de que se não existir CNB o que acontecerá a quem quer ser bailarino e não tem oportunidades é tendencioso, elitista e, arrisco-me a dizê-lo, estúpido e discriminatório.
Porque:
- o que não falta por aí são pessoas com formação numa área e a trabalhar noutra totalmente diferente;
- nunca vi ninguém fazer qualquer drama por quem quer ser astronauta não o poder ser em Portugal.

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