O Colonialista
No Domingo passado, Ana Sá Lopes escreveu um artigo intitulado O COLONIALISTA, que não resisto em citá-lo na íntegra, pois assim dispensa comentários:
«Há uma semana, o ministro da Defesa explicou que queria retirar o "anti-colonialismo" da Constituição, porque não tinha vergonha da história. É falso: Paulo Portas tem, efectivamente, gravíssimos problemas com a história pátria (o fim da guerra colonial, o fim do império, o 25 de Abril) e, em algumas matérias, desconhece totalmente a história.
Só um salazarismo doentio, profundo e alicerçado em toneladas de ignorância, explicam que o ministro da Defesa tenha relativizado o peso do racismo no império português. Este mito, que serviu de propaganda ideológica a Salazar no seu Portugal multirracial do Minho a Timor, é um embuste, desmontado por todos os historiadores e percebido por qualquer um que tenha acompanhado minimamente, com razoável grau de lucidez, os quadros do quotidiano do império - onde os portugueses pretos não tinham outro papel social que servir os portugueses brancos, ao preço da chuva. Já não era escravatura, eu sei.
Todo este linguajar sobre as maravilhas do império, com o seu relativismo obsessivo e o seu paternalismo bacoco, é intrinsecamente colonialista. O colonialismo não desapareceu da sociedade portuguesa (não se fina em trinta anos uma "qualidade" que vem de Quinhentos) - e a situação interna deplorável em que, após a independência, ficou a maioria das ex-colónias tem ajudado a produzir farto pensamento neo-colonialista.
Agora, esse colonialismo latente conta com uma preciosa ajuda governamental: o ministro de Estado e da Defesa compraz-se na sua apologia, convocando todos os fantasmas mal resolvidos da sociedade, também porque se alimenta deles. Poder-se-à argumentar que Paulo Portas não tem princípios, só tem votos, mas neste caso não o creio: o seu anti-anti-colonialismo constitucional é efectivamente um princípio, o do colonialismo, agora já não envergonhado. Comparado com isto, a homenagem ao Maggiolo Gouveia foi uma brincadeira de crianças.
Esporadicamente, Paulo Portas gosta de se reivindicar herdeiro de uma direita europeia moderna - mas é falso. Portas é neto do salazarismo e das suas misérias, dos seus mitos mais patéticos, do seu obscurantismo e dos seus valores. O PSD julga que não, mas vai acabar por ser engolido na voragem.»
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