Vital Moreira, a propósito da composição do Governo espanhol, vem defender a imposição de lógicas paritárias por via legal.
O que é totalmente absurdo. Por várias ordens de razões:
1 - Uma questão prévia: uma coisa é um partido político assumir essa lógica, ainda que em meu entender tal redunde numa inconstitucionalidade, outra coisa é obrigar os partidos a assumi-la.
Se de facto partidos que apresentem poucas mulheres ou poucos homens nas listas estão com isso a fazer algo de negativo, o povo responderá em conformidade. Só que, para azar dos arautos do politicamente correcto, o povo, na sua sabedoria, está-se perfeitamente nas tintas para se os candidatos são homens ou mulheres, ao povo interessa o carisma e a capacidade dos políticos, não o sexo.
2 - Enquanto Vital Moreira sonha com Governos 50/50, isso para mim é um pesadelo. Zapatero colocou as coisas na pior medida, ao apresentar um Governo paritário como algo bom por natureza. Mas...em que é que um Governo paritário é de per si melhor que outro composto por 100% de homens, ou por outro composto por 100% de mulheres ?
Mais. As feministas de última geração suscitam o argumento das diferenças de perspectiva, e de que há áreas para as quais as mulheres estão mais vocacionadas. Argumentos que só podem merecer uma absoluta reprovação.
Essa questão das eventuais diferenças de perspectiva nunca a vi ser colocada na composição de qualquer grupo de trabalho ao nível laboral, onde tal coisa até poderia fazer mais sentido.
Quanto às áreas mais vocacionadas, conversa essa que vai sempre parar aos assuntos sociais, não só me recuso enquanto homem a considerar-me mais insensível que qualquer mulher, como, pior, tal lógica conduz a uma recondução das mulheres na política a essas áreas, negando-se-lhes as áreas tradicionais de soberania. Felizmente que Teresa Patrício Gouveia e Michèle Alliot-Marie não afinam pelo mesmo diapasão.
3 - Relativamente aos partidos políticos, Vital Moreira anda certamente equivocado. Em todos os 4 maiores partidos portugueses, a percentagem de mulheres inscritas situa-se entre os 20 e os 25%. Considera acaso justo conferir a 25% dos militantes de um partido 50% dos lugares ? Mais ainda, quando entre os militantes activos a percentagem ainda é menor ?
Com todas as consequências que daí resultam para a qualidade dos quadros, e em termos de igualdade de oportunidades ?
Se se considera que há um défice de participação feminina na política (o que em si não acho nem mau nem bom, pois que, não havendo quaisquer provas - bem pelo contrário - de sexismo na política, em nada interessa qual o sexo dos actores), ataque-se as causas desse défice, e não se arranjem soluções verdadeiramente indignas das mulheres, por não as colocarem ao mesmo nível dos homens, o que é evidentemente inadmissível.