sexta-feira, julho 18, 2003

Antes de ir de férias...

I

Pois é, amanhã parto mesmo para a Grécia, e só regresso dia 30. Nesse dia provavelmente deixarei alguns comentários, não só sobre a actualidade mas também sobre a Grécia e o Festival da IUSY.
É que as férias depois continuam, e há muito que aproveitar até dia 17 de Agosto :)

II

Disse ontem Inês Serra Lopes num debate promovido pelo PND do Monteiro que "As pessoas de bem não se devem inscrever em partidos políticos, mas sim participar nos bancos alimentares contra a fome e associações ambientalistas".

Fora essa senhora ser merecedora do Prémio Nobel da Arrogância, é divertidíssimo como é que as posições de alguém assumidamente da direita conservadora são tão, tão parecidas com as do inenarrável Boaventura Sousa Santos. Para não dizer iguais. Até me admira como é que ISL não apela desde já ao voto no BE.

III

O que se passou ontem a propósito do escândalo da Casa Pia é vergonhoso. Está mais que visto que o extremista judeu João Guerra e o "juiz" Rui Teixeira têm alguma agenda secreta, e que se vier alguma cabala é dali.
Alguém agora tem dúvidas dos motivos que levaram à antecipação da reavaliação da prisão preventiva ?

IV

As comunidades de imigrantes dos PALOP estão evidentemente revoltadas com o regime excepcional atribuído aos brasileiros.

Aliás, mais uma vez os brasileiros têm direitos especiais, já não lhes chega a possibilidade de ocuparem todo e qualquer cargo político que não o de Presidente da República e etc. É absolutamente escandaloso como é que os cidadãos de qualquer outro país podem ter mais direitos que qualquer cidadão da União Europeia.

E pior ainda quando Mota Amaral vem defender a ideia totalmente absurda de dupla nacionalidade automática. Quem ouviu o seu já famoso discurso aquando da presença de Lula em Portugal lembra-se disso, com certeza.

A submissão permanente de certos políticos e muita gente ao Brasil e aos brasileiros mete-me MUITO nojo. É escandaloso. Principalmente quando se trata de um país que na realidade nos detesta, como se pode ver pelas anedotas e pela absoluta arrogância com que falam de nós.
E ainda querem estreitar laços ????





quinta-feira, julho 17, 2003

Andei por outros blogs e vi....

1. Blog ANÃO

É chocante ver um blog de um rapaz de 14 anos a defender (post "Chupem à vontade") a proibição do consumo de tabaco por menores de 18 anos. Aliás, a defesa de uma regra dessas já é algo de chocante em si, quanto mais se defendida por uma pessoa dessa idade.

Ora, o que deseja o Anão ? Só ter direitos a partir dos 18 anos ? Estar às ordens dos pais ? Onde está a nossa (pelo menos supostamente) irrenunciável liberdade ?

Se ele não gosta, faça como eu. Não fume e respeite quem fuma.


2. Em vários blogs ainda se fala da história das faltas injustificadas dos Deputados por causa da ida à Final da Taça UEFA. Apenas tenho a dizer uma coisa. É muito bem feito para todos aqueles que vêm com aquele (pseudo)moralismo ridículo de que tínhamos todos que estar do lado do FC Porto por ser português.

Isso não faz qualquer sentido, e não se vê em mais país nenhum, pelo menos da Europa. Nacional é a selecção.



3. De resto a silly season está aí. E assim vai continuar.


quarta-feira, julho 16, 2003

Férias !

As minhas férias aproximam-se assustadoramente.

Lembrar o que foi este ano, entre as actividades habituais, a pós-graduação e certos acontecimentos de natureza pessoal só me leva a ter a mais absoluta certeza de que necessito MESMO delas.

Curiosamente quando, ao contrário do que é normal, faltam não muito mais de 72 horas para me ausentar do país e a minha cabeça está longe de estar, neste caso, na Grécia. Noutros anos 2 semanas antes já estava na Hungria, na Áustria.

Talvez porque nos outros anos não tinha um trabalho de curso para deixar o mais pronto possível antes das férias.

As férias são a melhor das alturas para fomentarmos o descrédito. Também é preciso. Já há demasiado crédito para darmos 11 meses por ano.
Na feliz expressão de uma certa música pimba, "Por um mês de Sol trabalhamos onze, é só trabalhar, é só trabalhar, trabalhar para o bronze".

E para descansar a cabeça por 4 semanas, que bem preciso.

terça-feira, julho 15, 2003

Situação dos Socialistas na Europa

Informação sobre a situação dos partidos socialistas na Europa:


Governos maioritários: Albânia, Grécia, Reino Unido
Governos minoritários: Croácia, Polónia, Roménia, Suécia
Lidera coligações de esquerda: Alemanha
Lidera coligações de centro-esquerda: Hungria, Lituânia, Macedónia, República Checa, S. Marino
Participa em coligações de centro-esquerda: Bélgica, Finlândia
Participa em coligações de centro: Eslovénia, Suíça
Primeiro partido da oposição: Andorra, Áustria, Dinamarca, Espanha, França, Islândia, Itália, Luxemburgo, Malta, Noruega, Países Baixos, Portugal, Turquia
Participa na coligação líder da oposição: Letónia, Moldávia
Oposição: Bulgária
Pequeno partido: Chipre, Eslováquia, Estónia, Irlanda, Rússia
Ditadura: Bielorússia
Não existe: Liechtenstein

Cabe agora a todos comentar.

segunda-feira, julho 14, 2003

Viva Soares !

Segundo diz Maria Barroso hoje, o Pai da Democracia é contra as aberrantes quotas por género !


YES !

quinta-feira, julho 10, 2003

Imputabilidade penal

"No Código Penal, imputabilidade é definida como a capacidade do agente, no momento da perpetração do facto, de avaliar a ilicitude do facto ou de se determinar de harmonia com essa avaliação, isto é, a capacidade, no momento do crime, de discernir o mal do crime ou a capacidade, no momento do crime, de se determinar no sentido de o não cometer" (in Germano Marques da Silva, Direito Penal Português, 2º vol., Verbo, 1998).

Isto a propósito do artigo do pedopsiquiatra Pedro Strecht hoje no PÚBLICO, no qual é defendido o aumento da idade da imputabilidade penal dos 16 para os 18 anos, nomeadamente por razões psicosociológicas e ao ambiente das prisões.

Não posso evidentemente concordar com essa proposta, que tem de ser situada dentro daquelas propostas que se afirmam como portadoras de grandes ideais de esquerda e que ser contra elas é ser reaccionário. O politicamente correcto, uma atitude de "ser bonzinho" e absolutamente desculpabilizante da conduta de tudo e todos por todos sermos santos e a sociedade é que é má, etc. Como todas as propostas politicamente correctas, merece um só destino: o caixote do lixo.

Isto para não falar que o ambiente das prisões ser motivo para isso é totalmente absurdo. A lógica é toda a mesma: o mal está feito, a pessoa não deve ser punida e há que prevenir o acontecimento futuro de novos crimes praticados pelo agente. Isto, obviamente, é abrir a porta à prática de novos crimes. Etc.

O que é necessário para definir uma idade mínima para a imputabilidade é, repita-se, a capacidade do agente para discernir o mal do crime ou de se determinar no sentido de o não cometer.

Ora, logo nos primeiros anos de vida se aprende que certos tipos de crime básicos são proibidos, com o homicídio, o furto e o roubo à cabeça. E pensar que aos 12 anos não se tem discernimento para se saber que qualquer acto que consubstancie a prática desses crimes, no espaço e no tempo em que vivemos, é estar a enfiar a cabeça na areia, qual avestruz.

Pelo que há que ter a coragem política de escalar as idades da imputabilidade penal consoante o tipo de crime, entre os 12, 14 e 16 anos. O que permitirá igualmente tranquilizar a sociedade quanto ao crime juvenil e à sua segurança.

Não vou agora discutir teorias jurídicas sobre os fins das penas, mas é necessário adequarmo-nos à sociedade actual, e toda a lógica baseada na reintegração (eu quase que diria reeducação) deve ser abandonada, pois a pena deve necessariamente ser uma punição pelo mal causado.

E, por outro lado, há duas medidas que se impõem, em consequência:

- extinguir todo o sistema de execução de penas excepto nos casos de revisão de sentença, pois a pena decretada pelo juiz deve ser integralmente cumprida;
- abolir de uma vez por todas as amnistias e os indultos, porquanto são na realidade intromissões inadmissíveis do poder político na esfera judicial e parajudicial.


Uma esquerda para o século XXI defende a segurança dos cidadãos até ás últimas. Porque só na maior das seguranças é possível a todos viver em real liberdade.

quarta-feira, julho 09, 2003

Ah ! Abriram os olhos !

Com as minhas desculpas por estes dias de silêncio, e com a promessa de ainda hoje quarta-feira escrever algo de mais desenvolvido, apenas vos recomendo a leitura do post do blog http://paisrelativo.blogspot.com com o título "Destruir pianos de cauda ou falta um 25 de Abril na música clássica".

O pianista Duchable faz exactamente as mesmas críticas que eu faço ao modelo cultural de matriz francesa, criticando o elitismo e a arrogância.

Quanto à perspectiva de Rui Branco, ainda que ele seja mais moderado que o habitual em quem escreve sobre o assunto, pelos motivos que já aqui descrevi não posso concordar.

sexta-feira, julho 04, 2003

Resposta à resposta...

Bem, não vou entrar em diálogo com o Filipe, apenas posso dizer que são opiniões e portanto não enfio a carapuça de culpado de absolutamente nada, até porque não fiz campanha pelo Ferro mas sim pelo PS. Culpados são sim os que não assumem o desnorte, Ferro não tem liderança caso contrário o José Lello tava calado em vez de deitar mais areia para cima das quatro tábuas de madeira. Continuo na minha ideia de que a oportunidade dada ao José Lamego é muito positiva e deveriamos ficar era agradados com a ideia. Enfim, o PS pensa de outra maneira. Muita ligeiresa para umas coisas e para outras pau e pedras. Um peso e duas medidas. Assim Ferro não é o melhor lider de nada, é um bom técnico mas um mau lider. Um bom ministro mas um mau lider da oposição, alem de estar rodeado de chacais e de pobreza de ideias. É curioso porque muita gente disse que o Guterres era o melhor lider desde o Mario Soares. Agora dizem que é o Ferro. Bem andamos nisto. O unico que rema contra a maré continua a ser o José Socrates como ficou provado no debate do Estado da Nação. É muita categoria, é a imagem, é a jovialidade e actividade. Deixemos de ser medrosos e vamos mas é assumir o que está mal. Vamos procurar soluções e eu já dei a minha.

Resposta ao post "O PS precisa de outro lider... " by Nuno

Caro amigo, ao seu post respondo-lhe com um excerto da excelente crónica de hoje (4 de Julho) do Miguel Sousa Tavares, no Público.

Deve ser difícil fazer oposição a sério, quando alguns dos melhores quadros do partido estão disponíveis para dar o salto para o outro lado, se a oportunidade pessoal for cativante. Com a ajuda empenhada do Governo, António Vitorino suspira pelo cargo de secretário-geral da NATO, uma sinecura que representa na Europa os interesses imperiais dos Estados Unidos. E, com idêntico apoio do Governo, José Lamego aspira a ser um dos administradores escolhidos pelos americanos para governar o Iraque conquistado por George Bush. Como ontem aqui escrevia José Manuel Fernandes, este é um cargo "do interesse do país, pois pode vir a abrir as portas do Iraque a muitas empresas portuguesas". Preto no branco: assumimos a vontade de partilhar de um direito de saque sobre um país estranho, direito esse fundado na agressão militar dos Estados Unidos; assumimos que o principal papel dos administradores civis do Iraque não é o de servir os interesses iraquianos, mas o de servir os interesses das empresas do seu país de origem; e assumimos que a nossa política externa pode ser ditada pelo interesse das nossas empresas de construção civil ou outras. Na Idade Média e na época colonial isto tinha um nome.

O PS tem o melhor líder de sempre, a seguir ao Mário Soares. E muitos de vós criticos de Ferro Rodrigues são os principais culpados da actual situação do PS. Mas atento àquilo que se tem vindo a escrever nos media. Ferro não dobra, ferro vai ser Primeiro Ministro.

Bom fim-de-semana
FG

Isto sim é verdadeiramente infame !

Deixo aqui a minha indignação pelo editorial de Inês Serra Lopes hoje no Independente. Aliás, já Pacheco Pereira, no seu blog http://abrupto.blogspot.com diz que esse jornal não faz jornalismo.

Por muitas críticas que possa fazer a Ferro Rodrigues, tenho que lhe manifestar a minha absoluta solidariedade perante este ataque vergonhoso. Esse artigo, denominado "O cadáver adiado", termina com esta frase: "O senhor sabe melhor que ninguém que quando finalmente não houver segredo de justiça no processo da Casa Pia também não haverá Ferro Rodrigues no Largo do Rato". É triste.

Entrevistas...

De facto, José Lello tem razão. Qual é o currículo de Pedro Adão e Silva a todos esses níveis ? E qual o currículo partidário de Ana Gomes e Vieira da Silva ? Ele limitou-se a fazer aquilo que são absolutamente constatações de facto. E nada mais.

"O que nós queremos é fazer coincidir o PS com a maioria do país e não com o somatório de todas as minorias". Eu não diria melhor. Aliás, alianças pré-eleitorais com o PCP e qualquer tipo de acordo político eleitoral ou de Governo com o BE são absolutamente impensáveis.

Quanto à dúvida sobre se os homossexuais são uma minoria sexual, isso é indubitável. Mas não concordo com quase nada das palavras do Lello a esse nível. Muito embora sejam mais coisa menos coisa correspondentes ao pensamento da maioria dos Portugueses.

Mais uma vez, José Lello deu uma daquelas entrevistas que só servem para dividir o Partido Socialista. Uma entrevista inútil e cobarde. Tanto alarido para dizer que sim e que não ao mesmo tempo.
Nada me move contra José Lello, sou sim um defensor convicto deste secretariado, e não partilho da visão, algo minimalista, do camarada Lello de que o secretáriado de Ferro Rodrigues estão "pessoas que têm um défice curricular em termos partidários, políticos e institucionais".

Em vez mandar para o "ar", Lello devia apontar nomes. Dizer o que pensa. Mostrar-se como alternativa. Ao invés, diz que detesta e ama ao mesmo tempo. Passando para a opinião pública uma péssima imagem do PS.

E volta a mostrar o pensamento retrogado em relação às minorias(?) sexuais. Como bom político que aparenta ser, -pelo menos chegou a ministro - , o Camarada Lello devia ter um pensamento mais aberto, e com uma mentalidade socialista. Só mostra o quão longe estamos dos políticos holandeses, belgas ou suecos. Mentalidades, dizem uns, falta de vontade, digo eu!
O que vale é que poucos têm em conta a opinião deste ex-ministro. Melhores dias virão.

Força Ferro!
FG

Regionalização e Revisão Constitucional

A regionalização vive um enorme impasse depois do disparate que foi o referendo de 1998. Já sabemos que até ao final desta legislatura nada avançará, pois o PP que é anti-regionalista por princípio exigiu "o respeito pelos resultados dos referendos" no acordo de Governo.

E todos sabemos que a regionalização é absolutamente necessária para o desenvolvimento do país.

Agora que tanto se fala de revisão constitucional, é altura do PS e do PSD terem a coragem de fazer uma alteração óbvia, num acordo de regime que permita uma instalação sustentada e um mapa que não permita pretextos.
E essa alteração é a possibilidade de as regiões administrativas serem instituídas por lei aprovada por maioria de 2/3 dos Deputados à Assembleia da República.

Sustentável, Equilibrado e Estruturante !

quinta-feira, julho 03, 2003

O PS precisa de outro lider...

Em primeiro lugar quero constatar o facto de que assim o PS não vai longe, já todos o perceberam mas ainda poucos o assumiram, e afinal é a atitude correcta a ter. O problema começou logo aquando da sucessão de António Guterres e do desnorte que causou a sua saida abrupta. Eu que eu me pergunto é o porquê desse desnorte. Não concebo que num país democrático e de alternância partidária no governo, um partido se preocupe tanto aquando da sua saida do governo e e que isso cause tanto desgaste interno. Mas mais grave é que ao final de ano e meio ainda ninguém percebido que assim não se vai lá. Mais grave é a impotência para travar o estado do PS, grave é a passividade com que questões importantes se tratam. Grave é a constante fuga a questões que convinham esclarecer. Grave é a não assunção de uma politica de futuro. Estamos a tocar um instrumento em tons todos eles "graves". Custa chegar a casa, ligar a tv, e ver mais um tiro no pé do PS. Mas custa não só aos militantes como aos simpatizantes. Assim não se cativam votos, assim não se responde às necessidades dum país. Defendo para este PS um lider jovem, dinamico, com presença, que cative simpatias e em que as pessoas se habituaram a ver uma pessoa responsavel. O conceito de lider partidário mudou, e ainda ninguem se deu conta. Hoje não se querem lideres do antigamente, hoje querem-se pessoas jovens e com imagem, que vendam jovialidade e atitude. A mudança urge.

Uma palavra para o José Lamego. Espero que ele aceite o lugar para o qual foi convidado. É um lugar honroso para alguém com muita categoria em Relações Internacionais. Chega de tentar prender as pessoas só porque são militantes de um partido. Ainda por cima não estamos a falar de um cargo eminentemente politico, mas sim de representação do país. É uma excelente oportunidade e o PS só deveria ficar contente por ter alguém como o José Lamego nos seus quadros.

Disse.

Na mouche !

Escreveu Helena Matos no PÚBLICO este sábado: "Esta crise do PS só se resolverá no dia em que este partido abandonar aquele estilo nacional-porreiraço do "nós somos os bonzinhos mais bonzinhos de todos porque não caímos nem nos pecados do capital nem nas teias do estalinismo". E sobretudo há que ter a coragem no Largo do Rato de dizer adeus ao politicamente correcto".

BINGO !

E acrescento eu, de dizer adeus à atitude de levar estalos e dar a outra face. E à lógica de ter de se ser o defensor dos coitadinhos, absolutamente impensável a um partido que se deseja maioritário.



Cultura e Mentalidades

I

Francisco Sarsfield Cabral disse ontem que "por muito que a civilização do audiovisual haja trazido novas formas de comunicação, custa-me a aceitar um mundo sem o texto escrito e a reflexividade que só ele permite".

Em primeiro lugar, ao menos FSC não é extremista como Eduardo Prado Coelho. Este é-o ao ponto de criticar os e-books, por só o livro impresso permitir essa atitude reflexiva que tanto ama.

Mas ! FSC esquece-se da absoluta complementaridade entre todas as formas de expressão. O audiovisual não substitui o livro. Ambos são usados com funções diferentes. Um e-book é, aliás, normalmente impresso pelo seu leitor. Eu por exemplo detesto ler livros no computador. Algo falta. Embora as pessoas estejam no mais absoluto direito de o preferirem.

Já cansa esta defesa de um modelo cultural absolutamente bacoco. Que está totalmente fora dos quadros da sociedade actual. Até porque qualquer indivíduo está no seu direito de não querer ter qualquer atitude reflexiva a ler.

Desse modelo de imposição de uma matriz cultural única já vou falar de seguida.

II

Enviaram-me um manifesto pelo teatro. Já calculava ler nele algumas aberrações, todas elas impregnadíssimas desse espírito horroroso que domina o meio cultural e educativo. Se bem se lembram, fomos todos educados de forma a que pensássemos "por muito que eu tenha as minhas opções e gostos pessoais, não é disto que eu deveria gostar e ouvir". Há toda uma endoutrinação para que, por exemplo no plano musical, se tenha a ideia de que a música erudita é boa e o que normalmente ouvimos não presta, por ser popular, logo inferior.

Ou seja, é a transplantação total do ridículo modelo francês, endeusado como "excepção cultural". Um modelo em que só certas formas de expressão cultural são consideradas cultura, e, mais, diz-se explicitamente que outras nunca poderiam sê-lo. Um modelo que esquece a definição antropológica de cultura, como tudo aquilo que é produzido pelo homem.

E, mais grave, onde tem que haver subsídios estatais para tudo. Não só este péssimo hábito dos subsídios públicos deveria desaparecer (JÁ) da sociedade
portuguesa, onde endemicamente não se arrisca nem avança porque se espera pelos dinheiros do Estado. Nesta área a situação é particularmente gritante.

Há dinheiros para artes plásticas (eruditas, claro), ópera, teatro, cinema, etc. Tudo o que tenha expressão de massas ou popular é absolutamente discriminado. Por exemplo, em que medida uma orquestra poderá ser superior a um graffiti ? O único argumento que já me apresentaram em contrário foi o estudo que as pessoas tiveram para lá chegar. Mas, não só um graffiti de qualidade exige anos de prática (e talento), como também o argumento do estudo é absolutamente falaccioso. Porque há escolas para umas coisas e não há para outras. Etc. Etc.

Parece existir uma Portaria que reconhece que "o subsídio à actividade teatral de iniciativa não governamental, bem como à actividade cultural em geral, é um direito dos cidadãos". Os peticionantes até dizem que é serviço público.
Essa Portaria não merece existir. Direito ??? É público que muita gente ligada ao teatro se acha suprasumo devido a isso, mas presunção e água benta....

Em qualquer caso, existir um direito genérico ao subsídio é algo de extremamente grave. É o esbanjar de dinheiros públicos em actividades que nada dizem ao povo em geral. Actividades por natureza minoritárias, e das quais a comunidade nada beneficia. Se tiverem que descontinuar a sua actividade por falta de subsídios, é da vida. Vivam com o dinheiro que arranjarem e façam produções com isso. É o que toda a gente faz na sua vida pessoal. Mudem de actividade. Tenham imaginação, algo que tanto se gabam de possuir.

Mais grave. Têm o descaramento de dizer que o exercício da democracia tem lugar "quando as mais vastas camadas das populações têm acesso à cultura".
Cá está a tal mentalidade de quem se acha os grandes educadores do povo. Absolutamente ditatorial. "Ou é disto que gostam ou o vosso gosto tem de ser ensinado", pior, "O que nós fazemos é cultura, e do que vocês gostam não é".
É claramente esta a mentalidade.

Aliás, dizem depois disso que "Se no nosso país não há um público mais vasto para o teatro (...)". Claro, claro, o povo tem que ser como suas excelências desejariam, a ter os mesmos gostos que meia dúzia de pseudoiluminados. As pessoas por natureza deveriam ir ao teatro e gostar. Etc.

Tudo isto é verdadeiramente lamentável. Pena é que a esquerda democrática ainda não se tenha libertado deste modelo de matriz francesa. A sociedade actual exige uma perspectiva verdadeiramente democrática. Que não se arrogue o direito de querer "educar" e condicionar os gostos das pessoas. Que permita à cultura tomar o seu ritmo espontâneo sem quaisquer condicionantes e apoios que destruam essa espontaneidade.

Aliás, só um sistema assente na absoluta igualdade entre as formas de expressão cultural permitirá retirar as formas eruditas do circuito fechado (eu diria mais, GHETTO) em que se encontram.

Por isso, a solução é só uma. Acabar de vez com todos os subsídios públicos à cultura, excepção feita às actividades de natureza etnográfica (por motivos ÓBVIOS), a conceder neste caso pelas autarquias locais.

Solução liberalizante ? Talvez. Até porque a consequência é a mesma de uma visão neoliberal. Mas os pressupostos em que esta minha posição assenta são radicalmente diferentes, porque a cultura ao povo pertence e não a meia dúzia de pseudointelectuais que se arrogam o direito de querer julgar e condicionar os gostos alheios.
Gostos discutem-se, mas respeitam-se.












quarta-feira, julho 02, 2003

Liberdade de educação

O que me admiraria seria ninguém falar do assunto.

A direita liberal-conservadora volta ao ataque. No seu editorial de hoje, José Manuel Fernandes critica que a proposta de Lei de Bases da Educação do Governo não dê maior relevância a esse princípio, admitindo no entanto que não há condições para a implementação de um sistema de vouchers, algo mais conhecido por cheque-ensino.

O que é este sistema já nós conhecemos. O que me deixa verdadeiramente espantado é considerar-se que o sistema actual baseado no Ensino Público e na contribuição de todos para ele não garante a liberdade de educação. Quem o considere esquece-se certamente dos inúmeros estabelecimentos de ensino particular e cooperativo que existem, e que certamente têm procura, caso contrário não sobreviveriam.

O objectivo último deste raciocínio é mais claro que a água da mais pura fonte. É fazer com que a opção pelo ensino particular e cooperativo elimine as obrigações financeiras perante o Estado nessa matéria. Que por pagar o privado, não tem que pagar o público.

Não vou aqui repetir todos os argumentos absolutamente válidos que contra este sistema existem. Embora dê especial relevância à escola onde pessoas bem diferentes se cruzam e conhecem, tornando a vivência de todos cada vez mais rica. Outros certamente preferem ter em casa máquinas de estudar em vez de filhos, e pessoas totalmente imaturas e impreparadas para uma vida adulta. Para asneiras nesse sentido, já chegou a reforma iniciada por Roberto Carneiro.

Preocupam-me hoje sobretudo as consequências ao nível do pensamento e da coisa pública. Se quem usar uma educação privada não quer pagar a pública, e já se adivinha semelhante pensamento para a segurança social, segue-se a saúde, etc. etc. Para além de isto constituir uma manifestação do mais estúpido egoísmo revelador de uma mentalidade selvaticamente ultraliberal, está-se mesmo a ver que isto ainda vai parar em quem defenda o fim dos impostos directos e, consequentemente, da progressividade fiscal. Porque "não tenho que pagar os gastos dos outros".

Essa perfeita ignomínia, se levada à prática, só tem uma consequência. Pobreza. O bem-estar social generalizado da Europa desde o final da II Guerra deve-se fundamentalmente à prioridade desde sempre dada à coesão social por socialistas e democratas-cristãos. Mas esses ultraliberais querem uma selva onde todos estejam absolutamente desprotegidos. Não é por acaso que começam a aparecer os democratas-cristãos de esquerda, tais como Prodi e Rutelli.

É bom que se perceba o fim último onde se quer chegar, que começa sob essa capa da "liberdade de educação". E ter em linha de conta que há que ser rigoroso e relançar a qualidade e a vantagem do ensino público. Pois caso contrário, tal como acontece há 20 anos, continuará a esquerda numa posição meramente defensiva perante os avanços neoliberais.

Essa posição é absolutamente inadmissível. Ser de esquerda exige uma atitude combativa e de resposta aos problemas. Este mundo exige novas soluções, também ao nível da Educação.
E a elas voltarei num próximo post.

Boa Tarde. aconselho a todos os membros deste blog, socialistas ou não, a lerem o que a Clara Ferreira Alves escreveu no último Expresso. Mais propriamente na revista Única. Excelente, e com o qual partilho em 100% a opinião dela.
FG

Ressaca, Europa e resultados escolares

I

Hoje é dia de ressaca em Fátima e Canas de Senhorim. Pena que não seja também em Esmoriz, Samora Correia e Tocha. Não há a razoabilidade de se criarem agora uma série de municípios e não termos mais problemas com isso durante décadas.

II

Atenção ao artigo do Prof. Jorge Miranda hoje no PÚBLICO. Denuncia uma série de incongruências relativas ao projecto de tratado de suposta natureza constitucional. E considera, correctamente, que a primazia das leis europeias sobre as nacionais apenas se verifica ao nível da legislação ordinária, não podendo obviamente terem as Constituições nacionais valor inferior ao das resoluções normativas da UE. Aliás, esse primado, diz o Professor da Faculdade de Direito, não existe nem nos Estados federais.

É importante esta chamada de atenção, vinda de alguém que também acredita na Europa, embora dê excessiva importância, em meu entender, aos espaços atlântico e lusófono. De quem defende razoabilidade, e não alinha nem pelo alarmismo pessimista de um Vital Moreira nem pelas alarvidades ultrafederalistas. Portugal é e continuará a ser um Estado independente no quadro da União Europeia.


III

Também hoje é referido um estudo sobre diferenças de género em termos de resultados escolares. Nada de novo. Preponderância masculina nas ciências e feminina nas humanidades.

Ao menos o estudo não toma posição quanto à leitura, i.e., não critica o género masculino por preferir ler jornais e banda desenhada quando as mulheres preferem ler ficção e revistas. Já chega o tormento que é neste país achar-se que quem não ler ficção não vai a lado nenhum. Por mim, quantas vezes a "História da Galiza" de Ramón Villares às ficções da moda....

Aliás, há estudos que indicam uma das razões dessa décalage a nível da língua materna. Nos países de cultura ocidental, todo o ensino da mesma é baseado em textos de ficção. E tudo o resto é posto para segundo plano. A consequência é, tendo em conta as características particulares dos cérebros masculino e feminino, um benefício para as mulheres.

Na escola primária fui dos poucos portugueses da minha geração a ter um professor. Vital de Melo de seu nome, ao que sei entretanto falecido. E estávamos em 1983, e o ditado foi a notícia de jornal sobre a final da Taça UEFA Benfica - Anderlecht que se realizava nessa noite no agora demolido Estádio da Luz. Nunca me esquecerei de que protestei furiosamente por o ditado não incluir os nomes dos jogadores do clube belga, os quais sabia eu muito bem !

Como calculam, um ditado sobre futebol é bem mais interessante do que sobre passarinhos. Também não me esqueço de um texto qualquer sobre estações do ano no 5º ou 6º ano em que o escolhido pela professora de Português foi um qualquer da Primavera, bichinhos e florzinhas. Eu entretanto tirei as minhas conclusões.

terça-feira, julho 01, 2003

Os Novos Municípios

Parece que vamos passar a ter 312 municípios. Fátima, Esmoriz, Samora Correia e Canas de Senhorim. E talvez Tocha, também.

Curiosamente, nenhum deles nas áreas metropolitanas, onde a necessidade é muito maior. Ermesinde e Rio Tinto na AMP. Queluz, Sacavém, Carnaxide e Costa da Caparica, e eventualmente Alverca e Amora, na AML.

E aproveito a oportunidade para falar de um desses casos, que é liminarmente uma questão de Justiça e de bom senso. Carnaxide foi durante 14 anos a maior freguesia da Europa. Já no início dos anos 80, depois da Amadora ter sido elevada a concelho, muito se falou no assunto, entretanto adormecido nas páginas dos jornais. Porque na vontade das pessoas não morreu.

Os cidadãos residentes em Carnaxide, Linda-a-Velha, Algés, Queijas, Cruz Quebrada, Dafundo, Linda-a-Pastora, Miraflores, Outurela, Portela e Gandarela não têm qualquer ligação a Oeiras. Toda a sua vida é feita entre estas localidades e Lisboa. Aliás, se bem que Queijas e Linda-a-Pastora já se situem a poente do Rio Jamor, este e o Estádio Nacional constituem uma fronteira natural para toda a zona, essa sim, ligada a Oeiras. Quer por razões óbvias, como Caxias e Paço de Arcos, quer por razões históricas, como Barcarena. Ainda que não seja chocante a divisão desta freguesia de modo a que uma nova freguesia de Valejas seja integrada no município de Carnaxide, dada a ligação que sempre existiu entre estas localidades.

Por outro lado, demonstra-se a absoluta descontinuidade que existe entre Alfragide e todo o restante município da Amadora. Em termos urbanísticos, sociológicos, arrisco-me a dizer a todos os níveis. E Alfragide está mais perto de Carnaxide que da Amadora ! Isto sem esquecer que o próprio IC19 serve de fronteira entre Alfragide e a Buraca. A única maior ligação que existe é em termos de rede de transportes públicos ! Nada que a VIMECA não possa resolver.

Mas o mais importante são as pessoas. Não faz qualquer sentido obrigar mais de 100.000 pessoas a ter uma ligação que na realidade não existe. Temos de saber compreender as evoluções ocorridas e agir em nome da população. Criar o novo município de Carnaxide é actuar de modo a possibilitar uma gestão mais aproximada. Para mais quando 18 anos de Câmara PSD têm cada vez mais centrado toda a acção municipal em Oeiras.

Pode-se perguntar: porquê Carnaxide e porque não Algés ou Linda-a-Velha ? Duas ordens de razões. Em primeiro lugar, parece-me que o fundamental é que a toda esta zona corresponda um município. A escolha de Carnaxide deve-se a ser sede de freguesia muito antes das restantes localidades o serem. Sem esquecer que nos últimos censos a freguesia de Carnaxide é já a maior de entre as seis abrangidas. E esta escolha tem em conta também não só evitar disputas sobre qual a localidade sede de concelho.

E um melhor futuro de quem vive nesta área que sem ser suburbana também não é exactamente urbana assim o exige !

Por isso só há uma escolha. CARNAXIDE A CONCELHO !