A discussão entre
Daniel Oliveira e
Vital Moreira está ao rubro. O primeiro lança ao segundo
algumas questões.
E não resisto a entrar na discussão.
1. O Governo não está a reduzir a rede de cuidados do Estado, mas a racionalizá-la e optimizá-la. Mas, claro, para o BE as despesas que se lixem, e até podemos estar falidos só para se dizer que o Estado está em todo o lado.
2. Antes de mais, classes sociais é algo que já não existe. Falar nisso é um anacronismo absoluto. O que existem são pessoas com mais e com menos dinheiro, ponto.
3. O princípio da igualdade é não só aritmético mas também geométrico. E com os recursos disponíveis há que tomar opções, havendo obviamente prioridade para que os cidadãos com menores rendimentos possam ter cuidados de saúde gratuitos. Mas, como sempre, a extrema-direita caviar está-se pouco borrifando para os mais pobres.
4. E mais, uma política de direita na saúde seria a privatização do sector. O fim da sustentabilidade do sistema através dos impostos (que incluem as mais-valias, as contribuições das empresas, etc.) para ser apenas através de um seguro individual.
5. Uma política de direita em toda a educação seria a privatização e a implantação do horrível sistema de vouchers. Um sistema de empréstimos consiste em dar oportunidades a quem noutras circunstâncias teria que deixar de estudar ou ser desde logo trabalhador-estudante. Para mais, os "privilegiados" não recorrerão a tal sistema.
6. Ah, e é claro, já cá faltava a tão cripto-marxista lógica de que os cursos a valorizar nunca são os de retorno económico...e que por não darem grande retorno são mais belos por natureza...o elogio da fútil contemplação e etc...
7. De facto o que o Daniel diz sobre as relações de trabalho poderia ser uma política de direita. Mas o raciocínio está errado. Porque parte de uma lógica de que tudo o que seja supostamente prejudicial ao trabalhador é de direita, e que só é de esquerda o que lhe seja supostamente benéfico. Mas isso é errado, senão vejamos. Liberalização dos despedimentos (para além de inconstitucional) é claramente de direita, mas agilização do processo disciplinar certamente não o é. E é uma mentira das mais ofensivas dizer que o Governo tem trabalhado no sentido de reduzir os diretios sindicais e destruir a contratação colectiva.
8. Aqui a diferença é outra. Depois da política de extrema-direita do dirigismo cultural, desde 1974 temos permanentemente tido uma política de inspiração marxista nessa área, numa lógica que há que educar o gosto do povo para gostar do erudito e de que a cultura erudita vale mais que a popular. Ora, essa política, como já aqui escrevi várias vezes, é profundamente anti-democrática, por não dar igual valor a todos e quaisquer gostos. Aqui a questão não é de esquerda nem de direita: é de democracia contra totalitarismo cultural. E a única solução democrática é pura e simplesmente abolir totalmente os subsídios.
9. O que se diz ser uma política de direita na segurança social nem eu alguma vez ouvi alguma pessoa de direita defender...
10. Sobre a diplomacia, é melhor nem dizer mais nada sobre a reles insinuação que é feita.
11. Chamar grandes obras de regime a investimentos absolutamente necessários é típico da visão miserabilista dos marxistas.
12. Abandono dos transportes públicos não é de esquerda nem de direita. É pura estupidez. E os únicos Governos cuja orientação foi nesse sentido foram os de Cavaco.
13. Diminuição das liberdades e garantias não é de direita. É de extrema-direita. E de extrema-esquerda. E sem surpresa vejo o BE a associar-se à histeria da direita anarco-capitalista. O que nem é uma surpresa, tendo em conta as raízes anarquistas que bem existem no Bloco, e que o anarquismo é o filho dilecto do liberalismo clássico.
14. Em qualquer circunstância a diminuição da despesa deve ser uma prioridade absoluta. Pela simples razão que o povo não pode andar a suportar despesas desnecessárias.