Aqui se vêem as verdadeiras intenções dos defensores dos vouchers.
O que querem na realidade é ter o poder de subtrair os próprios filhos ao conhecimento de várias coisas da vida, mantendo-os na ignorância e na obscuridade. Literalmente. Querem tirá-los da escola pública para os impedir de ter acesso a várias coisas que acham pecaminosas, etc. e tal.
Infelizmente, os partidos de direita vão nessa conversa, cheios de medo dos campanários.
9 Comentários:
Pedro,
Palavra de honra que tenho saudades de te ouvir dizer que "a escola só serve para preparar as pessoas para a vida profissional".
Mais, parece-me que os pais têm todo o direito a impedir que os filhos tomem conhecimento das "coisas da vida", como lhes chamas, na versão em que o Ministério da Educação as quiser ensinar.
Mais ainda, acho que a melhor maneira de se tomar conhecimento das "coisas da vida" não é numa sala de aula a ver uns slides. Eu aconselharia meios mais... performativos.
Um abraço
Errado. Ninguém é propriedade de ninguém (a consequência do que dizes é considerares os filhos propriedade dos pais).
E o Estado tem toda a obrigação de impedir que a realidade seja negada seja a quem for.
lamento que os meus filhos sejam vitimas da má educação que pedagogos como esse Donietsy lhe vão ministrando. Porque continua ele na Escola pública?
Pedro,
O teu raciocínio parte de dois pressupostos que me parecem errados:
1) Que por não serem proprietários dos filhos (o que ninguém discute) os pais não são encarregados da sua educação - o que a própria escola reconhece.
2) Que "a realidade" é uma coisa absoluta, uniforme e da qual o Estado, por inerência, tem conhecimento. Basta ler excertos de enunciados de exames nacionais do 12º ano para perceber que, por muito que os iluminados da 5 de Outubro queiram, a coisa não é bem assim.
Já agora, porque não criar escolas públicas em regime de internato compulsório e meter lá a criançada toda? Sempre se resolvia o problema da "negação" desse "bem" tão precioso que é a "realidade".
1. De encarregado de educação a proprietário vai uma ENORME distância.
2. A realidade tem coisas absolutas e uniformes e coisas que não o são. Por exemplo, não me espantava nada que perante um sistema de vouchers se desatasse a ensinar em Portugal em escolas religiosas que a teoria da evolução está errada e que o criacionismo está certo.
1. Mas em que é que a possibilidade de recusar determinados conteúdos - ou, mais exactamente, determinadas abordagens a determinados conteúdos (porque parece-me que é isso que se está a discutir) - faz dos pais proprietários dos filhos? Se a possibilidade de ter um direito de veto limitado sobre a formação de alguém faz com que se esteja a agir como um "proprietário", o que dizer da posição do Ministério?
2. Também concordo. Agora, quais é que são as absolutas e uniformes? Eu não sei, e não me parece que tu saibas. Nem ninguém. Nem os senhores do MNE que fazem os programas. Porque é que havemos de sujeitar toda a gente àquilo que um grupo (que nem é, social e ideologicamente, dos mais heterogéneos) acham que é "absoluto e uniforme"?
3. E qual é o mal de uma escola privada, financiada pela Opus "e tudo e tudo e tudo", ensinar o criacionismo aos alunos? Estes ficam pior preparados para a vida profissional - pelo menos na área das Ciências :) - mas e então? A escola pública prepara todos os alunos de igual modo? Acho que, tendo ambos andado em escolas públicas, sabemos demasiado bem a resposta. Acho que, desigualdade por desigualdade, mais vale confiarmos que um pai terá todo o interesse no sucesso dos filhos e deixar as famílias escolher.
1. A Opus Dei devia ser proibida, ponto final parágrafo.
2. Eu não quero uma sociedade obscurantista. Nem mentirosa. Nem posso admitir que se dê relevância científica a teorias religiosas.
3. Essa de que os pais querem o melhor para os filhos é uma grande treta. Para além de as pessoas terem filhos pelo capricho (caríssimo) de ouvir "papá" e "mamã" e a julgarem que vão ser sempre "uma coisa assim querida" como se não fossem pessoas que crescessem, a realidade é que as pessoas têm filhos também para depois se andarem a tentar promover pessoalmente gabando-se do que eles fazem.
Logo, em termos públicos não é possível confiar nas escolhas dos pais em termos de educação em termos tão amplos.
4. Essa comparação que fazes em 1. é absurda, se tivesse alguma lógica não existia Estado, ponto.
5. Tudo o que é científico é absoluto e uniforme.
1. E a Maçonaria? E os Rotários? E o Lion's Club? Qual é a regra, só podem existir associações cujos fins tu subscreves?
2. Eu também não quero uma sociedade obscurantista. Mas acho que o que propões conduz precisamente a isso - a indiscutibilidade de uma determinada concepção do mundo conduz ao obscurantismo. Não sou, como saberás, adepto do criacionismo, mas se há quem seja, não tenho nada contra. Se o querem ensinar, e se há quem o queira aprender, problema deles. As pessoas não ficam todas preparadas da mesma maneira, pois não, mas volto a perguntar - a escola pública prepara todos da mesma maneira?
3. Passando por cima das tuas certezas (isso deve ser aquilo a que chamas "matéria científica", hás de me indicar onde é que foste buscar esse estudo) a respeito das motivações do Ser Humano para procriar, aquilo que afirmas vem dar-me razão.
A ser verdade (o que se admite sem se conceder) que um dos motivos que leva as pessoas a ter filhos é a possibilidade de fazerem seu o sucesso deles, mais uma razão para terem todo o interesse no sucesso dos filhos, ou não? E como o sucesso passa, em 99% dos casos - acho que não discordarás - pela qualidade da educação recebida, os pais terão, consequentemente, todo o interesse em que os filhos tenham acesso à melhor educação possível. Isto parece-me evidente.
4. Errado. Por dois motivos: Primeiro, eu não disse que o Ministério agia como proprietário de quem quer que fosse - o meu ponto era só que os pais também não.
Segundo, as funções do Estado não foram sempre as mesmas em todos os lugares e/ou em todos os momentos. Achar que o Estado não deve OBRIGAR todas as crianças num determinado território a estudar um determinado programa e que deve haver escolas não estatais que apresentem propostas alternativas (ainda que, ou principalmente, com forte componente de valores alternativos aos de quem dirige a educação estatal naquele momento) não é necessariamente ser-se contra o Estado "per si". É ter-se lido o Huxley, por exemplo. A alternativa ao modelo actual não tem de ser uma anarquia ou uma minarquia.
5. Teoria geocêntrica, Terra Plana, Teoria da Relatividade... tudo isto já foi "absoluto e uniforme". Hoje em dia, está completamente errado ou, neste último caso, está a ser revisto. Imagina o que é que será "absoluto e uniforme" daqui a 200 anos.
Mais, o próprio progresso, parece-me, tem muito a dever à diversidade no conhecimento disponível em cada momento, à quantidade de coisas que "se sabem" (ainda que nem todos as saibam). E isto é favorecido pela existência de várias alternativas ao nível da aquisição de conhecimentos. Não digo que uma sociedade onde todos estudassem o mesmo não seria capaz de inovar em nada, mas creio - e é só uma opinião - que há mais inovação onde se sabem mais coisas diferentes.
A educação orbigatória existe para limitar o poder dos pais na educação dos filhos, e isso pode subverter-se com uma educação privada onde o criacionismo é ensinado, se não como teoria especulativo-teológica baseada na crença.
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