sexta-feira, outubro 26, 2007

Aqui se vêem as verdadeiras intenções dos defensores dos vouchers.

O que querem na realidade é ter o poder de subtrair os próprios filhos ao conhecimento de várias coisas da vida, mantendo-os na ignorância e na obscuridade. Literalmente. Querem tirá-los da escola pública para os impedir de ter acesso a várias coisas que acham pecaminosas, etc. e tal.

Infelizmente, os partidos de direita vão nessa conversa, cheios de medo dos campanários.

9 Comentários:

Às 26 outubro, 2007 18:29 , Anonymous Anónimo disse...

Pedro,

Palavra de honra que tenho saudades de te ouvir dizer que "a escola só serve para preparar as pessoas para a vida profissional".

Mais, parece-me que os pais têm todo o direito a impedir que os filhos tomem conhecimento das "coisas da vida", como lhes chamas, na versão em que o Ministério da Educação as quiser ensinar.

Mais ainda, acho que a melhor maneira de se tomar conhecimento das "coisas da vida" não é numa sala de aula a ver uns slides. Eu aconselharia meios mais... performativos.

Um abraço

 
Às 27 outubro, 2007 16:56 , Blogger Pedro Sá disse...

Errado. Ninguém é propriedade de ninguém (a consequência do que dizes é considerares os filhos propriedade dos pais).

E o Estado tem toda a obrigação de impedir que a realidade seja negada seja a quem for.

 
Às 28 outubro, 2007 00:37 , Anonymous Anónimo disse...

lamento que os meus filhos sejam vitimas da má educação que pedagogos como esse Donietsy lhe vão ministrando. Porque continua ele na Escola pública?

 
Às 28 outubro, 2007 22:37 , Blogger eskilsson disse...

Pedro,

O teu raciocínio parte de dois pressupostos que me parecem errados:

1) Que por não serem proprietários dos filhos (o que ninguém discute) os pais não são encarregados da sua educação - o que a própria escola reconhece.

2) Que "a realidade" é uma coisa absoluta, uniforme e da qual o Estado, por inerência, tem conhecimento. Basta ler excertos de enunciados de exames nacionais do 12º ano para perceber que, por muito que os iluminados da 5 de Outubro queiram, a coisa não é bem assim.

Já agora, porque não criar escolas públicas em regime de internato compulsório e meter lá a criançada toda? Sempre se resolvia o problema da "negação" desse "bem" tão precioso que é a "realidade".

 
Às 28 outubro, 2007 22:49 , Blogger Pedro Sá disse...

1. De encarregado de educação a proprietário vai uma ENORME distância.

2. A realidade tem coisas absolutas e uniformes e coisas que não o são. Por exemplo, não me espantava nada que perante um sistema de vouchers se desatasse a ensinar em Portugal em escolas religiosas que a teoria da evolução está errada e que o criacionismo está certo.

 
Às 29 outubro, 2007 00:11 , Blogger eskilsson disse...

1. Mas em que é que a possibilidade de recusar determinados conteúdos - ou, mais exactamente, determinadas abordagens a determinados conteúdos (porque parece-me que é isso que se está a discutir) - faz dos pais proprietários dos filhos? Se a possibilidade de ter um direito de veto limitado sobre a formação de alguém faz com que se esteja a agir como um "proprietário", o que dizer da posição do Ministério?

2. Também concordo. Agora, quais é que são as absolutas e uniformes? Eu não sei, e não me parece que tu saibas. Nem ninguém. Nem os senhores do MNE que fazem os programas. Porque é que havemos de sujeitar toda a gente àquilo que um grupo (que nem é, social e ideologicamente, dos mais heterogéneos) acham que é "absoluto e uniforme"?

3. E qual é o mal de uma escola privada, financiada pela Opus "e tudo e tudo e tudo", ensinar o criacionismo aos alunos? Estes ficam pior preparados para a vida profissional - pelo menos na área das Ciências :) - mas e então? A escola pública prepara todos os alunos de igual modo? Acho que, tendo ambos andado em escolas públicas, sabemos demasiado bem a resposta. Acho que, desigualdade por desigualdade, mais vale confiarmos que um pai terá todo o interesse no sucesso dos filhos e deixar as famílias escolher.

 
Às 29 outubro, 2007 09:44 , Blogger Pedro Sá disse...

1. A Opus Dei devia ser proibida, ponto final parágrafo.

2. Eu não quero uma sociedade obscurantista. Nem mentirosa. Nem posso admitir que se dê relevância científica a teorias religiosas.

3. Essa de que os pais querem o melhor para os filhos é uma grande treta. Para além de as pessoas terem filhos pelo capricho (caríssimo) de ouvir "papá" e "mamã" e a julgarem que vão ser sempre "uma coisa assim querida" como se não fossem pessoas que crescessem, a realidade é que as pessoas têm filhos também para depois se andarem a tentar promover pessoalmente gabando-se do que eles fazem.
Logo, em termos públicos não é possível confiar nas escolhas dos pais em termos de educação em termos tão amplos.

4. Essa comparação que fazes em 1. é absurda, se tivesse alguma lógica não existia Estado, ponto.

5. Tudo o que é científico é absoluto e uniforme.

 
Às 29 outubro, 2007 22:20 , Blogger eskilsson disse...

1. E a Maçonaria? E os Rotários? E o Lion's Club? Qual é a regra, só podem existir associações cujos fins tu subscreves?

2. Eu também não quero uma sociedade obscurantista. Mas acho que o que propões conduz precisamente a isso - a indiscutibilidade de uma determinada concepção do mundo conduz ao obscurantismo. Não sou, como saberás, adepto do criacionismo, mas se há quem seja, não tenho nada contra. Se o querem ensinar, e se há quem o queira aprender, problema deles. As pessoas não ficam todas preparadas da mesma maneira, pois não, mas volto a perguntar - a escola pública prepara todos da mesma maneira?

3. Passando por cima das tuas certezas (isso deve ser aquilo a que chamas "matéria científica", hás de me indicar onde é que foste buscar esse estudo) a respeito das motivações do Ser Humano para procriar, aquilo que afirmas vem dar-me razão.
A ser verdade (o que se admite sem se conceder) que um dos motivos que leva as pessoas a ter filhos é a possibilidade de fazerem seu o sucesso deles, mais uma razão para terem todo o interesse no sucesso dos filhos, ou não? E como o sucesso passa, em 99% dos casos - acho que não discordarás - pela qualidade da educação recebida, os pais terão, consequentemente, todo o interesse em que os filhos tenham acesso à melhor educação possível. Isto parece-me evidente.

4. Errado. Por dois motivos: Primeiro, eu não disse que o Ministério agia como proprietário de quem quer que fosse - o meu ponto era só que os pais também não.
Segundo, as funções do Estado não foram sempre as mesmas em todos os lugares e/ou em todos os momentos. Achar que o Estado não deve OBRIGAR todas as crianças num determinado território a estudar um determinado programa e que deve haver escolas não estatais que apresentem propostas alternativas (ainda que, ou principalmente, com forte componente de valores alternativos aos de quem dirige a educação estatal naquele momento) não é necessariamente ser-se contra o Estado "per si". É ter-se lido o Huxley, por exemplo. A alternativa ao modelo actual não tem de ser uma anarquia ou uma minarquia.

5. Teoria geocêntrica, Terra Plana, Teoria da Relatividade... tudo isto já foi "absoluto e uniforme". Hoje em dia, está completamente errado ou, neste último caso, está a ser revisto. Imagina o que é que será "absoluto e uniforme" daqui a 200 anos.
Mais, o próprio progresso, parece-me, tem muito a dever à diversidade no conhecimento disponível em cada momento, à quantidade de coisas que "se sabem" (ainda que nem todos as saibam). E isto é favorecido pela existência de várias alternativas ao nível da aquisição de conhecimentos. Não digo que uma sociedade onde todos estudassem o mesmo não seria capaz de inovar em nada, mas creio - e é só uma opinião - que há mais inovação onde se sabem mais coisas diferentes.

 
Às 30 outubro, 2007 17:10 , Blogger Gaspar LDVS disse...

A educação orbigatória existe para limitar o poder dos pais na educação dos filhos, e isso pode subverter-se com uma educação privada onde o criacionismo é ensinado, se não como teoria especulativo-teológica baseada na crença.

 

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