Após ler
isto,
isto e
isto, sinto-me na obrigação de fazer mais algumas considerações:
1. Agora diz que talvez saia do PS. Faça o favor. Serventia da casa. Já lá está a mais desde 1989, quando por sua vontade as nacionalizações de 1974-75 continuariam a ser "conquistas irreversíveis da classes trabalhadoras". Alegre votou contra a retirada desse preceito da Constituição. Como é que algum verdadeiro socialista o segue é para mim um enigma incompreensível.
2. MA não tem qualquer tipo de moral para falar em sensibilidade social. Nunca se preocupou e agora é que está supostamente preocupado ? Alguma vez o viram fazer algum discurso em que efectivamente mostrasse preocupação com as maiores necessidades dos Portugueses ? Com os mais pobres ? Com as situações sociais a que há que acorrer prioritariamente ?
3. Pouco depois se vê que não quer saber dos mais pobres para nada. Só quer saber dos funcionários públicos e da classe média. Antes de mais, qualquer pessoa no seu perfeito juízo sabe que classes sociais é algo que o Estado Social extinguiu. A noção de classes sociais pertence a outros tempos (aliás, basta ver o artigo de Pedro Lomba que linkei no post anterior) e actualmente há pura e simplesmente pessoas com mais e com menos dinheiro. Mas indo ao essencial: não há paciência para esta obsessão com os funcionários públicos. Então e os do sector privado, são menos que os funcionários públicos porquê ? Este raciocínio só se pode explicar por se considerar que o trabalho do Estado e para o Estado é por natureza mais digno que o prestado para o sector privado. Ou seja: marxismo puro e duro.
4. Já cá faltava a demagogia barata da corrupção e da promiscuidade entre política e negócios. Mas isso a existir é só de agora ? Muito honestamente, dá mesmo o ar de quem queria ganhar dinheiro nuns esquemas, não conseguiu e agora faz-se passar por virgem ofendida.
5. De facto a blogosfera de direita tem alguma (para não dizer bastante) razão quando afirma que a comunicação social portuguesa está minada pelo BE. Aliás, para sermos rigorosos, se toda a comunicação social mainstream portuguesa está nas mãos da direita em sede de propriedade, uma percentagem enorme de jornalistas é militante ou simpatizante do BE. Tudo a beneficiar a direita e o BE, portanto.
Mas falo disso pela simples razão que é irritante a forma como se deixa passar a linguagem pretendida pelos organizadores do tal comício, com a utilizando da expressão "as esquerdas". Não aceito que se tente (como é o hábito do BE, diga-se) a apropriação de uma expressão que não lhes pertence. E que não lhes pertence em nada. Aliás, eu que sou de esquerda não quero cá confusões nem misturas com a extrema-esquerda. E é no mínimo lamentável essa tentativa de excluir o PCP, que já cá anda há muitos anos e, ao contrário do BE, e apesar de todos os defeitos que tem, não deixa de ser uma força política coerente e que apresenta soluções fundamentadas e (no limite da ideologia que defende) construtivas. Por exemplo, alguém ouviu o PCP defender explicitamente nacionalizações tal como MA defendeu terça-feira ? Não.
E, já agora, dizer que "abriram-se as portas para as forças de esquerda" é literalmente dizer preto no branco que só o BE é de esquerda. Aguarda-se serenamente o contra-ataque do PCP. Que virá. O PS perante tamanhos disparates só tem que trabalhar e colocar em prática o seu programa de Governo. Sem deixar de ter em atenção, contudo, que uma mentira contada 1000 vezes pode ser considerada verdade.
6. A exaltação da festa, das canções e da imprudência revela um lirismo inaceitável. O que é importante para MA é cantar-se canções em conjunto e sentir-se um espírito de comunhão e fraternidade. Ora, isso é uma missa. Isso é esperar que desses momentos em conjunto saia a salvação. Política não é religião. É resolver. É trabalhar. Como disse Jeffrey Archer na boca de Simon Kerslake, sem poder não é possível servir.
7. Modelo económico esgotado ? Esgotado e morto está o marxista.
Ainda a propósito dessa iniciativa, o João Rodrigues (do BE, diga-se) entrou em estado de euforia e produziu
algumas considerações para futuro. Ora eu também queria muita coisa. E essas ideias têm um lugar: o caixote do lixo ideológico e político, porque:
1. O Estado Social é uma realidade e assim continuará a ser dependendo do PS, e, em bom rigor, muito PSD concorda com a sua existência.
2. Os serviços públicos administrativos são uma necessidade que só os ultra-ultra-liberais põem em causa.
3. Como atrás referi, a dignidade dos profissionais do sector público não pode ser superior (nem inferior) à dos do sector privado.
4. Em Portugal existe emprego com direitos, o problema está na atitude das pessoas que não os exercem e acham sempre que são umas vítimas.
5. Considerar que o espaço público está atrofiado denota uma mentalidade estatista e desresponsabilizadora que só trouxe a quem teve que lidar com governos que a possuíssem pobreza e opressão.
6. As desigualdades económicas só são um problema na medida em que impeçam o exercício de direitos, o que em Portugal, país desenvolvido, é algo de muito residual. Ah, esqueci-me que pela cartilha do JR é melhor todos termos 40 do que uns terem 200 outros 150 outros 100 e outros 70...
7. Duvido que haja país mais livre que Portugal em termos de autonomia e florescimento individuais.
8. O JR não sabe o que é socialismo, e agarra-se à definição que o horrível Marx deu a tal palavra. Esse Marx que segue e que é ideologicamente responsável por milhões e milhões de mortos como nenhum outro. E que acima de tudo é o maior semeador de ódio e de inveja que a Humanidade alguma vez conheceu.