Os 30 anos das independências de África
No âmbito do tema «Os 30 anos das independências de África», o DN trás hoje uma entrevista com Almeida Santos, «o homem que, em nome de Portugal, negociou as independências de África».
Uma entrevista obrigatória principalmente para aqueles que ainda alimentam ódios antigos a Almeida Santos (alargados, por simpatia, a Mário Soares).
Eis alguns excertos:
«A razão principal que determinou a maneira como decorreu a descolonização foi o facto de termos descolonizado tarde e a más horas e ao fim de dez anos de guerra.»
«Mas a verdade é que, em relação ao colonialismo e em relação à descolonização, a culpa é mais repartida do que se julga. Todos os indivíduos que estiveram com o Salazar não têm culpa da descolonização e da guerra? Todos os indivíduos que lhe bateram palmas, que lhe deram apoio, não têm? Aqueles que depois disseram que sempre foram o que nunca não tinham sido, não têm culpa nenhuma? É evidente que a culpa é muito mais partilhada do que se julga. (...) Uma vez, um velho amigo, colega meu de Lourenço Marques, avô do Francisco Louçã, um grande resistente, entrou-me pelo escritório adentro e disse-me assim "Eu quero ser preso." "O senhor quer o quê?", disse-lhe eu. "Quero ser preso, você ouviu muito bem." "Mas quer ser preso porquê, homem?", insisti. "Quero ser preso porque se eu estou em liberdade com um regime como este, é porque não fiz aquilo que devia, não resisti aquilo que devia ter resistido".»
«É hoje um homem de consciência tranquila quanto à descolonização?
Fui o único político português que negociou e assinou todos os acordos da descolonização. Vivi-os por dentro. Todas as tragédias, dramas, etc. E uma das coisas que eu digo é isto responsabilidades, tenho que ter. Pelas funções que exerci, é evidente que teria sempre que ter. Culpas: zero. Nada. Não me pesa a consciência de ter feito alguma coisa com a consciência de que estava errada e que, apesar de tudo, não a corrigi. Ah, isso não. Posso garantir. Tenho a consciência tranquila.»
7 Comentários:
A consciência não lhe pesa ao fim destes anos todos...
Assustador, não é?
Não lhe pesa o quê, exactamente?
Confesso q nunca percebi este tipo de acusações veladas, nutridas por um ódio irracional tal mal direccionado.
Não deviam rogar pragas ao 'Botas'?
Porra, toda a gente que veio de Moçambique tem como desejo que um TIR passe por cima do Almeida Santos, o único 'retornado' que não sofreu com a descolonização...
Viveu o drama de ter que embarcar todos os seus bens à frente dos refugiados, que convinhamos é um drama...
Não é ódio irracional, Mário. Não o tenho por ninguém, muito menos pelo Almeida Santos.
E tens razão, Monsenhor. Este post envergonha a direita portuguesa. Pelo menos aquela que sofreu na pele a descolonização. E esqueçam lá o botas, que o homem já estava morto e enterrado muitos anos antes da descolonização.
Não compreendo porque é que pessoas inteligentes continuam a demagogia de associar quem é de direita a Salazar. Só por má-fé, falta de argumentos ou ambos.
Caro Bekx, é fundamental um esclarecimento:
Eu associei o 'botas' à guerra colonial e a subsequente descolonização, e não à direita.
Mas sempre que a direita o 'lava' das suas responsabilidades, pôe-se, sem dúvida, 'a jeito' para enfiar o barrete.
A grande dúvida histórica consiste em saber porquê a guerra colonial e não uma Commonwealth à portuguesa.
E esta decisão foi tomada por um Salazar muito bem vivo.
Não pretendo lavar as responsabilidades de ninguém, muito menos de um ditador. Como bem dizes, a decisão foi tomada por um Salazar muito bem vivo.
Siplesmente, isto não invalida e não justifica o papel dos que se lhe seguiram e que tomaram em mãos o processo.
O que me envergonha é precisamente a fuga de Almeida Santos e companhia à sua quota-parte (ainda assim grande) de responsabilidade.
Sagaz, Almeida está já a escrever o que quer que outrem retenha da(s) sua(s) memória(s). Por isso - caro escriba Garcia -, o palavreado de Santos só nos traz o que de embaraçoso deixa para trás...
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