quinta-feira, outubro 23, 2003

As Frases Assassinas

Ainda sobre a carta aberta que Manuel Maria Carrilho, há uma frase que gostaria particularmente de comentar:

«O que parece, é que se esqueceu que as responsabilidades nucleares de um partido político, e em particular dos seus dirigentes, são sempre para com o país e para com os seus problemas e anseios. É esse o sentido do compromisso que, desde 1973, o PS tem mantido e aprofundado com os portugueses: os «combates da vida» do PS foram sempre os combates pela emancipação e pelo desenvolvimento do País.»

Todos os políticos acabam por dizer aquilo a que já nos habituámos a apelidar de ‘frases assassinas’, que pela sua infelicidade e o seu contexto, acabam por ter um efeito marcante e duradouro.
Para alguns, a de António Guterres foi a dislexia numérica acerca do PIB, a parecer confirmar o seu apelido de ‘Picareta Falante’.
Para mim e para muitos outros terá sido sem dúvida o ‘no job for the boys’, que enfraqueceu desde o início aquilo a que formalmente foi o Governo de António Guterres com apoio Parlamentar do PS.

Diga-se ainda que, enquanto o PS se recusar a fazer a análise do período guterrista, dificilmente estará verdadeiramente preparado para olhar em frente.

No caso de Ferro Rodrigues, a quebra do segredo de justiça e a comunicação social têm tentado promover o «estou-me cagando para o segredo de justiça» como frase mortal.
Porém, a ‘frase assassina’ de Ferro Rodrigues, tal como Manuel Maria Carrilho aborda 'en passage', foi quando disse que o «combate da sua vida» seria desvendar a cabala urdida para o destruir a si, à Direcção do PS, e ao próprio PS por arrastamento.

Manuel Maria Carrilho teve a coragem de anunciar o fim do guterrismo com vários meses de antecedência, numa altura que provavelmente só ele e o próprio António Guterres o pressentiriam.
Então sofreu os mais fortes ataques daqueles que, posteriormente, tiveram de lhe conceder razão em silêncio.

Na sua carta aberta de hoje, Manuel Maria Carrilho não vem anunciar o fim do Ferrismo.

Se o fizesse, não seria sequer original.

Contudo, se a opção da actual Direcção do PS, em especial na reunião da Comissão Política de hoje (tal como no passado, com a cumplicidade dos presentes), voltar a ser a eleição de Manuel Maria Carrilho como o inimigo interno, alvo de entretenimento a abater, sem sequer se debruçar sobre os dois terços do documento que procuram relançar o futuro, desta vez já não será a liderança do Governo que se perderá.

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