quarta-feira, outubro 22, 2003

Consumo e Consumismo (II)

A distinção entre Consumo e consumismo é importante.

Quando se analisa o último período em que se verificou um crescimento da economia portuguesa, constata-se que o Consumo das famílias foi um dos motores deste crescimento. O outro foi sem dúvida o Consumo Público (para os amigos, ‘G’), representando a despesa global do Estado.

Do consumismo resultou, por outro lado, o fenómeno de sobre-endividamento das famílias, tão consentâneo com o «povo de pobres com mentalidade de ricos» que Eduardo Lourenço falava.

Curiosamente, este sobre-endividamento das famílias reflectiu-se num sobre-endividamento do sector bancário junto do exterior. Quem não se lembra da guerra aberta entre os diferentes bancos para concederem crédito à habitação? E neste caso foi o sector privado que optou por esta política em espiral, sector que, de acordo com as noções mais neo-clássicas, deveria ser capaz de tomar as decisões mais racionais, ao contrário do sector público. Como resultado, as acções dos vários bancos conseguiram bater todos os seus mínimos históricos, já bem depois do mesmo se ter verificado nos outros sectores da economia.

Para que serve todo este raciocínio, de distinguir o consumo do consumismo e alguns dos seus efeitos?

É que quando se analisa a política económica implementada pelo actual governo, a contracção da procura interna, em particular do Consumo Privado, é um dos principais indicadores-chave, tendo sido claramente assumida como variável instrumental para a contenção do Défice Orçamental.
Os argumentos políticos utilizados para justificar esta estratégia económica-financeira, para além do fantasma do legado socialista, e da obrigatoriedade de cumprir o limite do défice orçamental, tentam apelar ao senso comum dos portugueses, explicando que o País passou por uma fase consumista, em que se gastou mais do que se tinha, estando os portugueses endividados, etc

Dois anos depois, o que se constata é que os portugueses continuam endividados, com menor poder de compra, mas o sector bancário, esse grande viveiro de quadros governamentais, já recuperou da situação em que estava.


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