quarta-feira, outubro 22, 2003

Consumo e Consumismo (III)

Volto à questão do Consumo, do consumismo e da política económica-financeira deste Governo (expressão em que insisto, pois a inexistência de quaisquer opções políticas do Ministério da Economia explica-se pela sua total dependência da política do Ministério das Finanças).

A «pesada herança do Governo Socialista» serviu de pretexto para arrumar vários capítulos do programa eleitoral do PSD (como aquele onde era prometido baixar de imediato os impostos).

Perante a restrição religiosamente assumida de manter nominalmente o valor do Défice Orçamental (advérbio de modo nada inocente, e que nos levaria a uma outra discussão), o Governo de Manuela Ferreira Leite apostou, como motores da nossa recuperação económica, na dinamização das nossas exportações e na captação de Investimento Directo Externo. Foi nesta estratégia que, entretanto, Miguel Cadilhe foi devidamente embrulhado.

Entretanto, o novo rumo da política económica-fiscal ficou bem patente no aumento do IVA para 19%, que tendo gerado receitas fiscais imediatas, acabou por contribuir para a contracção da procura interna, e para a redução do volume global das receitas fiscais do IVA (o chamado crowding-out fiscal, que vem explicado em qualquer manual de economia). Ou pelo congelamento dos salários da função pública, e por acréscimo, dos salários de boa parte do sector privado, que provocou uma perda de poder de compra real (na proporção da taxa de inflação), e consequentemente, na procura interna.

Em resumo, na confusão entre consumo e consumismo, crise económica e desequilíbrio orçamental («o célebre discurso da tanga»), o Governo abandonou totalmente o seu papel na dinamização directa da economia (recomendável num contexto contra-ciclíco, como mostra paradoxalmente a Administração Bush), abdicando quase por completo do Investimento Público, e assumindo uma política fiscal que acelerou a contracção da procura interna, numa atitude sem paralelo em nenhum Estado-Membro (nem mesmo na tão badalada Irlanda).

E apesar de anteriormente ter negado qualquer relação da deterioração da situação económica portuguesa com a evolução dos nosso principais parceiros comerciais europeus, muito em particular a Alemanha, país com o qual temos um grau de abertura comercial significativo, o Governo acabou por optar por uma estratégia de retoma da economia portuguesa totalmente exógena, dependente da evolução da economia europeia, quer pelo referido aumento das exportações como do Investimento Externo.

Ironicamente, é exactamente a economia Alemã que tarda em reagir, deixando de rastos todas as previsões de Manuela Ferreira Leite.

Finalmente, voltando ao consumismo e à «imperativa» «regra do parecer», tudo indica que os portugueses evitem ao máximo cortar nesta componente do Consumo, que é normalmente constituída por importações (dos automóveis, às ‘marcas’ de roupa).

Ou o Governo não sabe em que País vive, ou nunca esteve muito preocupado com isso.
O País é que vai sofrendo as consequências.



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