quinta-feira, outubro 23, 2003

A Carta Aberta

É inevitável proceder ao comentário da carta aberta que Manuel Maria Carrilho (MMC) endereçou hoje aos socialistas através do DN.

A carta poderá ser dividida em três partes: o diagnóstico da situação do PS, a descrição dos dois anos de Governo de direita, e as propostas para que o PS possa formular um projecto alternativo a apresentar aos portugueses.

No diagnóstico à situação do PS, não foi obviamente necessário que MMC fosse muito longe.

Dizer que: «(...)não foi inteligente, nem prudente, nem responsável, colocar o PS, que é - pelo seu passado político, pelo seu significado democrático e pela sua expressão eleitoral - um partido chave da democracia portuguesa, na órbita de um processo judicial a que ele é inteiramente alheio.»

Ou que o caminho escolhido nos últimos meses pela Direcção do PS «(...) alimentando a confusão entre relações pessoais e funções institucionais, arrastou o partido para uma cascata de passos em falso, levando a que se fragilizasse seriamente o PS, que desde então se mostra condicionado por uma inércia bloqueadora, e inequivocamente diminuído em termos de acção política.»

São simples constatações de facto.

No ataque à acção governativa PSD/PP, a carta aberta vai bastante mais longe, ao fazer o diagnóstico da situação extremamente grave que vive o País, a reboque da «cassete deficista» do Governo, acentuando a necessidade imperativa de proceder ao «combate à direita», cuja acção lucidamente descreve:

«o Governo de Durão Barroso revelou-se, neste período de já mais de ano e meio de funções, um Executivo impreparado, incompetente e incapaz que, não sendo portador, nem de mensagens positivas que mobilizem o País, nem de soluções para os seus problemas, lançou Portugal num estado de desânimo que tem multiplicado as nossas dificuldades em quase todos os sectores.»

«Este Governo tem, de facto, agravado as desigualdades que persistem no país, governando para clientelas, estimulando a fractura social, estigmatizando diversas classes profissionais e enfraquecendo a coesão social. Esta não foi, não é nem será nunca a forma de governar do Partido Socialista.»

A terceira parte olha para o futuro, e no bom estilo dos projectos de renovação da actual esquerda europeia (veja-se o Congresso do PSF), MMC apela à descoberta de novas causas, que permitam ao PS renovar o seu discurso, combater o Governo, e mobilizar o País.

«É preciso dizê-lo claramente: o nosso adversário não é nenhum personagem sem rosto que andaria por aí a mexer os cordelinhos de uma qualquer conspiração, e que remeteria para uma espécie de mundo paralelo ao nosso. Não, o nosso adversário é o atraso do país e a incapacidade da actual maioria para o debelar e ultrapassar.»

É importante dizer que, independentemente do que dirigentes e comentadores políticos venham dizer, o que MMC escreveu hoje vai em grande parte de encontro com o que muitos militantes e simpatizantes socialistas já pensavam há já algum tempo.

A defesa, no final, da realização de um Congresso Extraordinário é a consequência lógica de todo o seu raciocínio.

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