«O Primeiro Poder»
Augusto Santos Silva, na sua incontornável coluna ao sábado no «Público», dissertou recentemente acerca da relação entre a política e a comunicação social, sob o significativo título que agora plagio.
Correndo o risco de prejudicar a clareza de raciocínio a que Augusto Santos Silva já nos habituou, não resisto a citar alguns excertos do seu artigo:
«Não existe prática política que não se confronte com o universo dos media, não há produção mediática de realidade na esfera pública que não assuma contornos e efeitos políticos»
«Falar de campo político-mediático não é pôr em dúvida a independência dos jornalistas ou ignorar o que opõe entidades como as empresas de comunicação e os partidos e demais instituições públicas»
Lembra também que «os lugares de maior influência política estão nas colunas editoriais dos jornais ou no alinhamento dos telejornais, que a frequência e as condições de acesso aos programas de grande audiência ('talk shows', debates desportivos, noticiários, entrevistas públicas ou intimistas) são determinantes para a notoriedade política, que a forma como os media mostram fisicamente os líderes pode catapultar ou liquidar carreiras.»
E avisa sobre a «recomposição geral do campo mediático-político», a começar pela concentração empresarial, e cujo efeito mais evidente parece ser «o controlo da direita sobre posições chave do sistema, quer através de nomeações governamentais directas, como na Lusa, quer através do universo Lusomundo, designadamente com a nova direcção do DN e as transferências para o JN, e o sinal amarelo levantado à TSF, na sequência da demissão de Carlos Andrade»
A influência dos jornais e das televisões (ou de rádios como a TSF) na mediação do discurso político não é de agora. Desde que o espectro televisivo se alargou a quatro canais, todos os agentes políticos procuram fazer intervenções às 20h00, para poder entrar em directo na casa dos portugueses.
E o que Augusto Santos Silva vem também assinalar, acerca da recomposição geral do campo mediático-político, já está em curso há mais de uma década.
Contudo, se a concentração do capital na área dos media poderá trazer repercussões ao nível da concorrência do mercado, a sua influência directa na qualidade da informação produzida já não é assim tão líquida. E a prová-lo está a tomada de posição da redacção do DN sobre a nomeação de Fernando Lima para novo Director.
No entanto, se há algo que todo o processo da Casa Pia veio mostrar é a dificuldade que alguns jornalistas têm em distinguir a fronteira entre informação e sensacionalismo.
Por onde andarão os valores de ética no jornalismo nacional?
Diz-se que «o poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente»
Estão os nossos jornalistas preparados para assumir «O Primeiro Poder»?
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