terça-feira, novembro 11, 2003

A Informalidade Económica

José Diogo Madeira, no Editorial da novíssima revista PRÉMIO, escreve sobre a informalidade, um dos tópicos que o recente Relatório Mckinsey veio apontar como obstáculo ao aumento da produtividade no País.

Sob o sugestivo título «É pá, façam-me um favor», Diogo Madeira define informalidade económica como «o conjunto de práticas de economia paralela que se traduzem na evasão às obrigações fiscais e sociais», manifestando-se «em múltiplas dimensões: incumprimento de horários, escolha de fornecedores com base em relações pessoais, contratação de funcionários por recomendação, não facturação de bens e serviços», em suma, «uma bola de neve de pequenas facilidades e cumplicidades, em que vamos vivendo por conveniência e necessidade».

Diz também que segundo a Mckinsey, «esta informalidade é responsável por 28% do diferencial de produtividade entre Portugal e os cinco países europeus mais produtivos (Bélgica, Holanda, Itália, França e Alemanha)».

O Relatório Mckinsey não deixa de ter algumas semelhança contextuais com o Relatório Porter, da década de 90, fazendo lembrar aquela máxima de que:

'Um consultor é aquela pessoa que é paga para nos tirar o relógio e dizer-nos as horas'

Mas, como quase tudo na vida, a informalidade económica também poderá ser um factor de produtividade. Não, claro está, ao nível da «evasão às obrigações fiscais e sociais».
Mas ao nível da capacidade de relacionamento informal entre pessoas, ou a abertura de raciocínio, tão característicos do temperamento latino, que duvido que a Mckinsey tenha mesurado.

Na minha actividade profissional, tenho a oportunidade de me relacionar com vários países (alguns daqueles mais produtivos).
E tenho assistido onde, em situações análogas, a nossa capacidade de reanalisar criativamente as normas tradicionais instituídas por forma a atingir um objectivo (a minha definição de 'desenrascanço'), impensável numa estrutura mental da Europa Central, nos dispara em termos de produtividade.

Diogo Madeira também lembra que «estes estudos valem o que valem».
Também por isso, costumo ficar de pé atrás com estes Relatórios, normalmente feitos de fora para dentro, em que a matriz cultural é logo à partida diferente, correndo o risco de enviesar algumas conclusões.

Que temos muito que evoluir em hábitos de trabalho para alcançar uma maior produtividade, é algo que o 'relógio português' marca há muito tempo.

Mas estes fundamentalismos evolutivos, marcados normalmente por referências anglo-saxónicas, tendem a esquecer alguns pontos fortes da nossa idiossincrasia centenária, fruto de uma mistura cultural mediterrânica muito própria.

Se preferirem a linguagem Matrix:

'You must face the reality. There is no spoon'

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