Os Órfãos do PS
«Que o português médio conhece mal a sua terra - inclusivé aquela que habita e tem por sua em sentido próprio - é um facto que revela de um mais genérico comportamento nacional, o de viver mais a sua existência do que compreendê-la»
Serve esta reflexão de Eduardo Lourenço como introdução à forma como se tenta compreender o PS, tanto de fora para dentro, como dentro do próprio partido.
O PS costuma ser visto como um agregado de grupos, grupúsculos, famílias, tendências ou correntes internas: Sampaístas, Ferristas, Guterristas, Soaristas, etc.
A comunicação social faz eco desta realidade virtual.
Procura os personagens mais conhecidos, e faz eco das suas posições e opiniões, e quanto mais polémicas melhor. A descrição de movimentações e conspirações, a favor e contra algo, ao nível regional ou nacional, dá a entender que hordas de socialistas se agitam para combates internos (as tais ?contagens de espingardas?).
Estes mesmos personagens principais ficam obsessivamente preocupados com o que ouvem da comunicação social que alimentam, entrando num circuito fechado que em alguns casos já degenerou em paranóia.
Esta paranóia, cujo expoente máximo é a comparação de índices de popularidade nas sondagens, faz com que os ditos personagens optem por formas de comunicação dirigidas aos seus pares e não à base social do PS (para não falar naqueles que falam simplesmente para se ouvirem a si próprios).
Porém, esta imagem de que os socialistas se entretêm, no seu conjunto, nestas movimentações e questiúnculas internas, em vez de se preocuparem com o País (o que neste caso seria fazer o seu papel de principal partido da oposição a este Governo), é duplamente penalizante para o PS.
Em primeiro lugar porque descredibiliza o Partido Socialista e a política em geral.
Em segundo lugar, porque esta imagem em si é falsa.
Na realidade, o Partido Socialista deve ter (ainda) neste momento algumas dezenas de milhares de militantes, e a ideia que todos eles estão muito bem arrumadinhos e acantonados é irreal.
Os 'istas' são cada vez menos e, tal como acontece com os simpatizantes socialistas, os próprios militantes têm cada vez mais dificuldade em se reconhecerem em lideranças (potenciais ou eventuais). Foram os esquecidos num processo de mediatização da política, onde ninguém está interessado em saber o que pensam.
Como bom exemplo, temos a argumentação de que um Congresso Extraordinário do PS não faz qualquer sentido porque não existe uma alternativa à liderança de Ferro Rodrigues.
E os militantes?
Ninguém estará interessado em saber o que acham da actual estratégia do Partido?
O que acham da situação do País, e da melhor alternativa à governação da Direita?
E enquanto o Governo de Durão Barroso continua a fazer o que quer, num mar de incompetência, descaramento e imoralidade, os socialistas assistem estarrecidos e impotentes à inoperância do seu Partido.
São cada vez mais os órfãos no PS.
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