Da Queda à Ascensão ?
Nesta altura conturbada, é preciso deixar bem claro que o sentimento de orfandade dos militantes e simpatizantes do PS que já tive oportunidade de descrever («Os Órfãos do PS»), não é um fenómeno novo.
É também preciso deixar a ressalva que, quem participa e acompanha mais de perto o fenómeno político, tem um ponto de vista normalmente diferente daqueles que se colocam de fora, e aceitam a política mediada pela comunicação social, e em particular pelos diferentes comentadores de serviço.
Aqui, a imagem prevalecente coloca a política e os políticos algures entre os criminosos de delito comum e os exemplares cidadãos que conseguem ludibriar o fisco.
Aliás, esta diferença de perspectiva começa a ser de tal forma abissal que acaba por se traduzir no alheamento generalizado e no progressivo aumento da abstenção.
A Ascensão e Queda de Guterres
Vejamos um caso concreto onde ambos os pontos de vista colidem.
Por exemplo, a realização dos Estados Gerais por António Guterres (a que se associou a inexplicável frase 'no job for the boys'), que terá sido paradoxalmente o primeiro passo para a sua ascensão a Primeiro-Ministro, e o primeiro passo para a sua queda.
As reacções negativas que 'algum' PS na altura manifestou a esta genial operação de marketing político, foi interpretada pelos media e transmitida para a opinião pública ao nível do clientelismo e do tachismo ('Estão com medo que lhes roubem o Tacho!').
Porém, internamente, toda esta mise en scene nunca poderia cair bem no Partido.
Como explicar aos quadros de um partido político da dimensão do PS, que é necessário consultar todo um conjunto de pessoas fora do partido, tanto para fazer o programa do Governo como para nele participar?
Quadros estes que, provavelmente, ao longo dos seus anos de militância partidária, nunca foram consultados sobre qualquer assunto, técnica e politicamente, pela oligarquia esclarecida, mas afinal não o suficiente para a formar um Governo.
O fosso criado entre os quadros do PS e o Governo de António Guterres são uma das causa principais da sua queda. Enquanto não houver uma clara reflexão sobre este assunto, o PS não estará preparado para ser alternativa de Governo.
O Papel de Jorge Coelho
Para quem está completamente fora das questões políticas, não consegue perceber por que razão Jorge Coelho goza hoje de uma simpatia quase unânime junto dos militantes do PS. Para esses, Jorge Coelho é prejurativamente 'o homem do aparelho'.
Porém, enquanto António Guterres nomeava Ministros sem qual afinidade política/ideológica com o PS (quem não se lembra de, por exemplo, Sousa Franco ou Veiga Simão), Jorge Coelho foi sempre a pessoa que se desmultiplicou pela estrutura do Partido, mantendo o contacto permanente tanto com dirigentes como com militantes.
Enquanto José Sócrates, Manuel Maria Carrilho ou João Soares aparecem aos socialistas na televisão ou nos jornais, Jorge Coelho sempre foi alguém de carne e osso, que aceitou o tal papel de 'homem na sombra', para que muitos ministros se pudessem estar 'cagando' para o Partido (expressão hoje muito em voga).
Jorge Coelho sobreviveu ao guterrismo, à crise Ferrista e, felizmente, a outras questões ainda mais complicadas. E num processo de redefinição da sua imagem política, para grande surpresa de alguns, Jorge Coelho veio provar que, jogando no mesmo tabuleiro mediático (jornais e televisão), afinal conseguia ter um protagonismo político ímpar.
Se há algo que os militantes do PS sabem é que poderão contar sempre com Jorge Coelho e que ele terá sempre um papel unificador no futuro do PS, seja qual for as soluções que estiverem em cima da mesa.
Desenganem-se pois todos aqueles que esperam por uma guerra civil, fratricida, no estertor do Ferrismo.
Podem parar de esfregar as mãos.
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