segunda-feira, novembro 17, 2003

O Jornalismo é Um Jogo?

«A Política como um Jogo» é o título da crónica de Estrela Serrano no «DN».

E o jogo vem todo a propósito de Manuel Maria Carrilho e António Brotas terem ambos escrito uma carta aberta aos Militantes do PS tendo em vista a promoção do debate à volta da última Comissão Nacional do PS e, enquanto a carta de Manuel Maria Carrilho foi capa e destaque da edição do «DN», a de António Brotas ficou reservada para ser parcialmente publicada no correio dos leitores, com o devido atraso face à «lista de espera».

A cronista assinala que «carta aberta de M. M. Carrilho, quer pelo alcance do seu conteúdo, quer pela notoriedade do seu autor, se revestia de indiscutível interesse público», e que «o facto de o documento ter sido cedido, em exclusivo, ao DN para publicação no próprio dia da realização de uma Comissão Nacional do PS considerada decisiva para o futuro da liderança do secretário geral, constituía uma 'mais valia' para o jornal e daí o destaque que lhe foi conferido - a quase totalidade da primeira página»

Por outro lado, «a contribuição pública que A. Brotas pretendia dar ao debate aberto pela carta de M. M. Carrilho, como outras que eventualmente surgissem, faria todo o sentido se o objectivo do jornal, ao publicá-la, tivesse sido abrir uma discussão pública para esclarecimento dos cidadãos sobre 'o funcionamento interno dos partidos portugueses' como sugere A. Brotas. Essa teria sido, aliás, uma maneira de o DN servir e apoiar um debate político de interesse público.
Mas não era esse o objectivo.»

Depreende-se pois que o único objectivo do «DN» seria, afinal, vender jornais.
Ou, haveria mais algum objectivo escondido, porventura encomendado?

Eis um excelente exemplo do que o jornalismo hoje.

Sendo normalmente António Brotas, no mínimo, tão polémico como Manuel Maria Carrilho, tem atrás de sim uma vida e um curriculum político que começou vem interruptamente desde a oposição ao Antigo Regime.

Para além disso, ao contrário de Manuel Maria Carrilho, António Brotas já se candidatou a Secretário-Geral do PS (aliás, já se candidatou a quase todos os órgãos do PS, pois esta é a única forma de conseguir intervir internamente). A sua opinião não é de interesse público?
Não, porque não aparece na Televisão.
E Manuel Maria Carrilho tem estado na moda
.

Não penso que António Brotas devesse ter sido capa do «DN», da mesma forma que me pareceu excessiva a atenção dada a Manuel Maria Carrilho.

E como não está aqui em causa o conteúdo de nenhuma das duas cartas abertas, formalmente este é um bom caso para vermos os critérios editoriais do nosso jornalismo, aliás como referia Augusto Santos Silva recentemente.

(O que me leva também a questionar a razão de Luís Delgado manter a sua coluna no «DN». Há interesse público? Ou publicamente conhecido?)

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