terça-feira, outubro 14, 2003

Sal e Pimenta

Ana Gomes, veio questionar o PGR sobre a eventual existência de averiguações no caso da notícia publicada em Junho na revista francesa ?Le Point?, que indicava a existência de dois ministros pedófilos no Governo português.

Questionou Ana Gomes em concreto o seguinte:

"A revista 'Le Point', francesa, trazia um artigo, assinado por dois jornalistas, um português e outro francês, a dizer que neste Governo havia dois ministros pedófilos. Há alguma investigação em curso sobre isso? Se falamos em politização, então porque é que não há? A quem compete? Não é à procuradoria-geral da República? Eu gostava de saber se existe. Eu hei-de fazer esta pergunta mais vezes nos próximos dias."

"Não quero sequer acreditar que o que foi afirmado na revista 'Le Point' seja verdade. Só que o que foi dito é tão grave que deve ser investigado. O que me espanta é que ninguém diga nada. Porque é que ninguém diz nada?",

Mais uma vez, caiu o Carmo e a Trindade.

José Manuel Fernandes, como não poderia deixar de ser, vem novamente acusar Ana Gomes de «populismo mais incendiário», considerando que as suas declarações «causam natural embaraço ao PS e acentuam uma deriva perigosa quer para o partido, quer para a saúde democrática das nossas instituições: o choque frontal entre a principal força da oposição e o Ministério Público».

No seu jornal pode-se ler também que «o teor e o tom das declarações da ex-embaixadora Portugal em Jacarta não agradaram, porém, à totalidade da direcção socialista e causaram mesmo embaraço a alguns dirigentes do partido», e que a PGR já em Junho havia considerado a reportagem em questão como "uma notícia insusceptível de ser considerada uma denúncia crime".

A chuva de críticas vindas da órbita da maioria governativa ao tom "destemperado? de Ana Gomes já começa a ser um hábito. Como é o caso das críticas do Deputado Guilherme Silva, conhecido pelo seu estilo parlamentar e pela sua contenção verbal (na boa escola de Alberto João Jardim). Ou de tantos outros, aparentemente chocados com a forma acutilante de Ana Gomes, que procuram conotá-la com o seu passado político em águas mais radicais, talvez como forma de exorcizar o próprio passado político do actual Primeiro Ministro, cujas reminiscências são bem patentes na forma das suas intervenções em debates parlamentares.

Mas o problema do PS não é o «tom» de Ana Gomes.
Se o PS tivesse mais quatro ou cinco figuras a intervir no mesmo «tom» sobre os sucessivos escândalos deste Governo, ou a denunciar os vários exemplos da sua manifesta incompetência governativa, Ana Gomes não surgiria isolada.


E talvez houvesse a convicção na opinião pública que o PS estaria a exercer as suas funções enquanto oposição, representativa de uma fatia considerável do eleitorado, em vez de estar atrelado ao andamento do ano judicial e às decisões dos tribunais nas suas várias instâncias.

O «tom destemperado» é claramente do PS.
Falta-lhe sal, pimenta e tudo o resto.



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