segunda-feira, julho 04, 2005

Férias Autárquicas

O jornal «Público» apresenta hoje como título de 1ª página «Autárquicas dão um mês de "férias" a meio milhão de portugueses».

A SIC faz eco destas "férias" no seu Jornal da Noite.
O Telejornal da RTP é mais comedido, apresentando várias perspectivas sobre este assunto.
A TVI fala de 'revolta' e 'privilégio'.

O "mês de férias" a que o «Público» se refere consiste na dispensa que a lei eleitoral que concede a todos os candidatos às Eleições Autárquicas no mês que antecede o acto eleitoral. Dispensa esta suportada na totalidade pelas respectivas entidades empregadoras.
Mas na realidade, a esmagadora maioria destes portugueses não vão gozar um mês de férias, vão estar envolvidos nos milhares de campanhas eleitorais pelo nosso País fora.

Nas Eleições Autárquicas de 2001 foram apresentadas listas em 308 Concelhos e em 4.252 Freguesias!
Votaram em 2001 60% dos eleitores (quase 5 milhões e meio de portugueses).

Tratar como "férias" o envolvimento de meio milhão de portugueses durante um mês, de 4 em 4 anos, na discussão das questões dos órgãos autárquicos a que se candidatam, é demagógico e sensacionalista.
Se tal não fosse possível, ou se esta dispensa não fosse suportada pelas entidades empregadoras, apenas uma pequena minoria estaria em condições de se propor para desempenhar cargos nas autarquias locais.

As entidades empregadoras, pela voz do patrão dos patrões, exige medidas do Governo por forma a que a actividade empresarial não seja tão 'gravemente' afectada, no mesmo tom que os vários patrões irão a seguir exigir muita coisa a Câmaras Municipais e Freguesias.
(Não deviam estar mais preocupados com as "férias" resultantes das "baixas fraudulentas"?)

O jornal «Público», ao cavalgar a onda de ataque aos supostos privilégios à chamada classe política, prestou hoje um mau serviço à democracia portuguesa.
Se a tendência continuar, cada vez menos cidadãos portugueses envolver-se-ão na actividade política.
Quando só houver um, significa que estaremos numa Ditadura.


(Parece que o PS quer restringir o período de dispensa aos 15 dias referentes ao período de campanha eleitoral. É, mais uma vez, aquela atitude envergonhada e comprometida, em busca do damage control.
Enfim, é o Descrédito...)

2 Comentários:

Às 05 julho, 2005 08:16 , Blogger Filipe Gil disse...

Desculpem, mas não brinquem com o Zé Povinho. Enquanto 1 milhão de portugueses ficam em casa a discutir listas e politiquices, os outros têm que trabalhar por vezes a dobrar. Que raio de Democracia é esta.
Obviamente que concordo com algum tempo de férias. Mas um mês é completo exagero. O país não se pode dar ao luxo de uma coisas dessas.
Continuamos a bater na mesma tecla que afecta a sociedade portuguesa. Uns com todas as regalias e outros só com deveres.

 
Às 05 julho, 2005 09:07 , Blogger Pedro Sá disse...

O que é um facto é que o projecto de lei do PS já aprovado na generalidade, e que por outras razões tenho comigo, já previa a redução para 15 dias.

Importante é não se efectivar nenhuma norma do tipo da do Código do Trabalho, a qual literalmente impediria os candidatos de estar a 100% em campanha eleitoral.

Por mim, da experiência que tive há 4 anos, considero os 30 dias a melhor solução. Quem na Assembleia da República acha que é demais é porque nunca teve que fazer campanha eleitoral em condições iguais às dos candidatos às autarquias. Pois, claro, a Assembleia até pára nestas alturas...assim também eu.

Quanto ao que escreveste Filipe, lamento mas é um chorrilho de disparates e produto de um raciocínio completamente viciado de lógica anti-política, pelas seguintes razões:

a) a grande maioria dos candidatos não goza os 30 dias por inteiro, gozando parte deles ou mesmo não os gozando tendo em conta o tipo de responsabilidade profissional que tem. No meu caso concreto pude e poderia fazê-lo, bastando para o efeito prever a situação com antecedência e impedir que surjam situações com prazos para essa altura;

b) por essa altura, as listas já estão discutidas e aprovadas;

c) dizer que as campanhas autárquicas são politiquices e não política revela uma ideia de democracia verdadeiramente assustadora - o que vais propor a seguir, o fim da democracia local ou a proibição dos partidos nas autarquias ?

d) listas e politiquices fazem parte da democracia - só em partidos não democráticos (e, e...) é que esses problemas não existem;

e) isto não são férias nem regalias, é a mais pura e elementar justiça e condição de exercício de direitos políticos;

f) obviamente, os direitos de participação cívica e política são muito mais importantes que o estado da economia. E pensar o contrário é ser, no mínimo, da direita ultra-liberal;

g) regalias...a sério que usares essa expressão não é para eu morrer a rir ? Muito mais descansada é a vida na grande maioria dos empregos (até me arriscava a dizer em todos ou em quase todos) do que a vida de campanha eleitoral, onde se trabalha dias seguidos por vezes às 13 e 14 horas por dia e a um ritmo e com um stress alucinantes.

 

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