terça-feira, junho 07, 2005

Um Oásis



A 21/10/03 escrevi num post intitulado «Consumo e Consumismo (II)», o seguinte:

«Do consumismo resultou, por outro lado, o fenómeno de sobre-endividamento das famílias, tão consentâneo com o "povo de pobres com mentalidade de ricos" que Eduardo Lourenço falava.

Curiosamente, este sobre-endividamento das famílias reflectiu-se num sobre-endividamento do sector bancário junto do exterior. Quem não se lembra da guerra aberta entre os diferentes bancos para concederem crédito à habitação? E neste caso foi o sector privado que optou por esta política em espiral, sector que, de acordo com as noções mais neo-clássicas, deveria ser capaz de tomar as decisões mais racionais, ao contrário do sector público. Como resultado, as acções dos vários bancos conseguiram bater todos os seus mínimos históricos, já bem depois do mesmo se ter verificado nos outros sectores da economia. (...)

Dois anos depois, o que se constata é que os portugueses continuam endividados, com menor poder de compra, mas o sector bancário, esse grande viveiro de quadros governamentais, já recuperou da situação em que estava.»


Os gráficos acima, retirados do site http://pt.portaldebolsa.com, mostram a evolução nos dois últimos anos das acções dos quatro bancos cotados na bolsa: BCP, BES, BPI e BTA.

Se eu tivesse tido dinheiro para investir na bolsa, por exemplo, há um ano e, contra todas as teorias de diversificação do portfólio, tivesse comprado apenas acções deste quatro bancos, teria tido uma valorização do meu capital de, pelo menos, 15% (confesso que não me dei ao trabalho de fazer as contas exactas).

Ou seja, o ritmo de crescimento do sector bancário, nos últimos 3 anos, foi muito superior ao ritmo de crescimento(!) da economia portuguesa.

Serve todo este raciocínio para chegar a duas conclusões:

1 - Quando João Salgueiro, em defesa da Banca nacional, perante eventuais medidas fiscais a serem aplicadas aos Bancos, vem argumentar a existência de uma discricionariedade inexplicável perante o sector bancário, verifica-se que o sector bancário é um sector atípico na economia portuguesa;

2 - Quando Manuela Ferreira Leite adoptou o conjunto de medidas restritivas que representaram uma travagem a fundo no Consumo Privado, defendi que o único sector que poderia beneficiar destas medidas era o sector bancário, nomeadamente pelos níveis de endividamento acima escrito.
Pelos vistos...

6 Comentários:

Às 07 junho, 2005 17:17 , Anonymous Anónimo disse...

V. Ex.cia que me desculpe uma vez mais, mas afinal porque é que os bancos estão bem? Será legítimo concluir que é devido ao facto de o Zé estar mal? Pois eu acho que não!!! É uma corja de malandros, isso é que é. Que trabalhem como os homens de sucesso criados nos viveiros de quadros governamentais! Ou serão, pelo contrário, viveiros de parasitas como pensa o Zé? Cambada de invejosos, é o que eles são!

 
Às 07 junho, 2005 17:24 , Anonymous Anónimo disse...

Ah! Que distracção a minha! Se os bancos estão melhor que o Zé, porque é que o governo não lhes aumenta os impostos para com isso pagar o défice? Não acha uma óptima ideia?

 
Às 07 junho, 2005 19:39 , Blogger AA disse...

Podemos argumentar que o Estado não tem feito grande esforço para acompanhar o crescimento sofrido da economia, antes pelo contrário.

 
Às 07 junho, 2005 20:21 , Blogger Mario Garcia disse...

A banca beneficiou da 'travagem' do Consumo Público e Privado para tirar 'a corda da garganta'.

Ao contrário do que agora se espera que suceda, não foi tomada nenhuma medida fiscal na altura que afectasse a banca, muito antes pelo contrário.
O discurso e a política da 'tanga' permitiram também o aumento da Poupança (não só das famílias mas principalmente das empresas que, perante um cenário negativo não procederam a investimentos), o q veio a recuperar os rácios de solvabilidade dos bancos.

Se por acaso discordar desta análise, gostaria que a rebatesse com argumentos técnicos.

 
Às 07 junho, 2005 21:53 , Anonymous Anónimo disse...

Concordo em absoluto! A banca arrecadou cerca de 47% de lucros e beneficiou de isenção fiscal.
Quanto às poupanças, são de louvar! Muitas delas servirão para colocar como administrador da empresa, de quem ainda consegue poupar, alguém que um dia, em nome da capitalização, o despedirá!

 
Às 07 junho, 2005 23:16 , Anonymous Anónimo disse...

Se V. Ex.cia se refere à minha pessoa para uma discussão técnica, creio que está muito equivocado. Não percebo nada de economia, limito-me a pagar ao estado quase tudo o que dele recebo. Sou um simples alibi para as despesas públicas, sujeito-me a colaborar no circo montado. Digamos que faço o mesmo papel que um taco de bola de ping-pong: dinheiro para cá, dinheiro para lá.

 

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