segunda-feira, junho 06, 2005

A Democracia Pindérica

Talvez para suavizar o impacto do pacote de medidas para o combate ao défice do Orçamento de Estado (o aumento do IVA, da taxa sobre o tabaco e os combustíveis, da idade da reforma, o congelamento das 'promoções automáticas' na Função Pública, etc.), alguém teve a ideia de acrescentar o fim das 'reformas vitalícias dos políticos'.

Apesar de não existirem 'promoções automáticas' na Função Pública mas sim mudanças de escalão de 3 em 3 anos, exactamente nos casos em que não tenha ainda aberto um concurso para a promoção na carreira (é sempre necessário Concurso), ainda nenhum sindicato veio explicar este conveniente equívoco, como se houvesse algum problema de consciência ou complexo.

O mesmo se passa com a classe política.

Quem analisar os vencimentos dos titulares de cargos políticos, a começar pelo do Presidente da República, chegará à conclusão que são incrivelmente baixos atendendo à responsabilidade que neles é delegada.

Porém, quando se fala que a classe política ganha demasiado, que não são necessários tantos Deputados, nem tantos Ministros, Secretários de Estado, membros de Gabinete, todos se escondem por trás da mesma árvore duma imensa floresta chamada República, Democracia, ou simplesmemente o sistema político que tem a obrigação de nos 'bem-governar'.

Como se houvessem problemas de consciência ou complexos.

A subvenção vitalícia a que têm direito os Deputados, segundo o 'legislador', destina-se a compensar o regresso destes cidadãos à Sociedade Civil, de volta às suas carreiras profissionais, por vezes irremediavelmente adiadas.

O Governo escolheu, demagogicamente, qual aprendiz de feiticeiro, acabar com a 'vergonha' destas subvenções (de impacto financeiro praticamente nulo).

Para que a classe política 'desse o exemplo' ao País.

Mas o exemplo que dá é o de uma classe política complexada e pindérica, cada dia que passa mais à mercê das pressões económicas e da vontade do Espírito Santo.

Qualquer dia restar-nos-á um Parlamento recheado de Nunos Melo, a vociferar para as televisões impropérios contra os malandros dos políticos.


6 Comentários:

Às 07 junho, 2005 00:56 , Anonymous Anónimo disse...

Vossa Excelência tem toda a razão! A "democracia" nos moldes em que vem sendo praticada não custa quase nada. O Mira Amaral ficou com uma reforma tão irrisória da CGD que teve necessidade de um "tachinho" na EDP para sobreviver. Os milhares de deputados a auferir reformas vitalícias são uma gota no oceano dos bancos, companhias de seguros, Belmiros e quejandos. Ena pá, tanto parasita a comer à conta do Zé. Bravo!!!!!

 
Às 07 junho, 2005 15:44 , Blogger Mario Garcia disse...

Uma coisa é discutir as reformas de '0uro', que são os 'tachos' em determinadas empresas controladas pelo Estado (Ferreira do Amaral ou Fernando Gomes), outra é discutir as subvenções vitalícias de dezenas (e não milhares) de Deputados...

 
Às 07 junho, 2005 16:53 , Anonymous Anónimo disse...

V. Ex.cia que me desculpe se achava que o número de deputados a passar mais de 12 anos no hemiciclo poderia já ter ascendido à casa dos milhares. Nesse caso, ou há muito poucos deputados, ou a nossa democracia é muito jovem ainda. Espere para ver quantos vão ser daqui a mais... algum tempo! Se são tão poucos, é deixá-los porque nenhum défice poderá ser reduzido à custa das suas reformas miseráveis. É bem melhor que se tire ao Zé mais uma fatia porque milhões de fatias fazem um bolo bem grande que os tios vorazes tanto apreciam.

 
Às 07 junho, 2005 20:14 , Blogger Mario Garcia disse...

Enquanto não se perceber que a classe política em Portugal é muito mal paga, a qualidade dos políticos está condenada a degradar-se.
Qualquer bom gestor de uma empresa portuguesa (nem é preciso ir às grandes), perde (muito) dinheiro se aceitar um cargo político.
Mas a inveja nacional prefere indignar-se com as subvenções pagas aos Deputados que cumpriram 12 anos ao serviço da República (a qualidade do serviço é julgada nas eleições).
Só o que o negócio da herdade do Espírito Santo lesou ao Estado dá para pagar a esses Deputados até ao resto da vida deles, e ainda sobra qq coisinha...

 
Às 07 junho, 2005 23:56 , Anonymous Anónimo disse...

A classe política? Então é isso? Que classes há no país? A política e a apolítica?
Esta deve ser uma nova nomenclatura que tem, de certo, a ver com o complexo de alguns tios que se consideram os donos disto tudo.
Será que não quis dizer a classe dos exploradores em contraponto à dos explorados? Só que aqueles que se consideram políticos não são mais do que lacaios da verdadeira classe dos exploradores!

 
Às 08 junho, 2005 04:26 , Blogger Mario Garcia disse...

É verdade.
Enganei-me.
Há a os políticos e a 'sociedade civil'.
Os maus e os bons da fita.

 

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