quinta-feira, setembro 25, 2003

Voluntarismo Político

Pacheco Pereira considera hoje no Público...
(Começa a preocupar-me verdadeiramente estar sempre a comentar os mesmos «opinion makers». Fico na dúvida se será uma obsessão ou começa a haver mesmo um deserto de ideias no horizonte.)
Pacheco Pereira considera hoje no Público que o Presidente Jorge Sampaio, na sua passagem pela Assembleia Geral das Nações Unidas, ao comparar a luta contra o terrorismo com a luta contra a SIDA, é infeliz e despropositado.

Acrescenta, « as duas coisas, sida e terrorismo, não são comparáveis. O terrorismo é resultado de um voluntarismo político, tem responsáveis claramente identificados, vem do tecido político internacional; enquanto a sida é uma doença que, mesmo que se critique a escassez dos esforços para a combater, é um fenómeno natural e social».

E termina concluindo que «O combate contra a epidemia da sida nunca será o beneficiário directo ou indirecto da secundarização da luta contra o terrorismo. Um mundo instável e perigoso é o melhor terreno para a proliferação da sida, particularmente em sítios como a África, onde a doença está inscrita profundamente na sociedade, sendo um factor de depressão económica e social»

O que julgo estar implícito nas palavras de Jorge Sampaio é que, no mundo de hoje, onde a clivagem entre os hemisférios Norte e Sul é cada vez maior, não basta agir sobre as consequências imediatas deste desequilíbrio, onde o terrorismo internacional parece ser cada vez mais a sua face mais visível, mas é necessário também combater as suas causas. E aqui a SIDA, e a falta de apoio do «mundo ocidental» ao combate deste flagelo nos países mais afectados, surge em primeiro plano.

Todos sabemos que a SIDA e o terrorismo não são comparáveis.
Tal como a dívida externa do Terceiro Mundo não é comparável à dívida externa dos próprios EUA.
Mas também todos sabemos a forma como a SIDA afecta os países do Terceiro Mundo, em particular no continente africano, como muito bem referia PP.
Existem também todos os outros problemas ligados ao apoio que é dado ao desenvolvimento destes países (leia-se Stiglitz), de que tem resultado um desgaste permanente da imagem das organizações internacionais que actuam nesta área.

Mas numa altura em que o Presidente Bush pede ao Congresso Norte-Americano um orçamento adicional de 87 biliões de dólares (!) para continuar a financiar as operações militares no Iraque, é preciso sublinhar que a luta contra o terrorismo, nos pressupostos em que está a ser feita, tem como beneficiários imediatos toda a indústria do armamento, assente nos países desenvolvidos, a começar nos próprios EUA (receita de política económica claramente Keynesiana, que os americanos sempre gostaram de utilizar).

Talvez a utilização de uma pequena parte desta verba no combate à SIDA fizesse mais pela paz, ao enfraquecer o «voluntarismo político» que sustenta o terrorismo, e que levou nomeadamente à morte de Sérgio Vieira de Melo.

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