quarta-feira, setembro 24, 2003

A Luta de Classes como Sound Bite

Eduardo Prado Coelho escreve hoje no Público, a propósito de uma frase de Odete Santos que dizia «Na praia também existe luta de classes», considera o seguinte sobre Durão Barroso:
«quando Durão Barroso, ao encerrar a universidade de Verão, proclama que "a questão da luta de classes, que é ainda defendida por uma certa esquerda, já não terá lugar na economia dos dias de hoje", ou está a defender um dos mais estafados e antigos lugares-comuns da direita, ou se limita a um enunciado com meras funções de táctica política (inclino-me para a segunda hipótese, porque sei que se trata de um homem culto). O que podemos dizer hoje é que continuam a existir diferenças de classe, mas as formas tradicionais de luta de classes estão em vias de desaparecimento. Porque uma coisa são as classes, outra a existência de lutas de classes (embora a luta seja uma forma de construir a identidade das classes, mas não a única). »

O desaparecimento das formas tradicionais de luta de classes a que EPC se refere é constatável, por exemplo, no contínuo enfraquecimento do movimento sindical. Ou no egoísmo, cada vez mais presente na nossa sociedade, que teve como oásis o espantoso envolvimento nacional aquando da causa de Timor.

A própria «sociedade civil» (expressão que abomino), tem vindo a mostrar grande dificuldade em se organizar em torno de causas ou objectivos comuns, o que terá sido bem patente há alguns anos atrás nos Referendos então realizados. Conclui aliás EPC, «donde, existem classes, existem conflitos pontuais, mas não existe um projecto de acção política fundado em diferenças de classes (daí a forma como os partidos "pescam em todas as águas").»

A direita portuguesa, na sua ideologia de tomar o poder, costuma usar alguns lugares comuns nesta «pesca em todas as águas».
A mais descarada é quando vem defender que já não há ideologias, que já não há esquerda nem direita, slogan a roçar o: «a minha política é o trabalho»).
A utilização de velhos chavões da doutrina marxista-leninista-maoísta (que Durão Barroso e Pacheco Pereira tão bem conhecem), para atacar a esquerda, tentando colocá-la para lá do ex-Muro de Berlim, é também uma táctica recorrente. Tenta-se assim provar que a esquerda ficou no passado, não tendo soluções para os problemas actuais, pelo que não é alternativa. O que mostra a pouca ingenuidade de querer permanente caracterizar o PS de Ferro Rodrigues como um PS demasiado à esquerda, ou seja, demasiado no passado, sem «lugar na economia dos dias de hoje».

O caminho que a esquerda europeia começou forçosamente a percorrer desde a década de 90 é exactamente o de se reformular nos objectivos e no discurso, sem perder os seus princípios, ou seja, a sua identidade. A Terceira Via, por exemplo, falhou porque não cumpria este último requisito.

Cantar
«De pé ò vítimas da fome,
jamais,
jamais a servidão...»
fará sempre sentido enquanto houver fome e servidão.

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