quinta-feira, setembro 25, 2003

O Espelho da Sociedade em que Vivemos

O Nelson Faria, no seu Blog Veto Político, tece várias considerações interessantes sobre a realidade dos partidos políticos. Esta realidade estaria na origem da «Cacocracia», com que intitula o seu raciocínio, e que caracterizaria a nossa Democracia, onde se verifica «a subida ao poder dos partidos, invés das pessoas, a subida ao poder daqueles que dedicam vidas à estrutura e à mensagem da estrutura, entabulados por anos e anos de mensagens corrompidas assimiladas na luta dos interesses eleitorais».

Prossegue denunciando que tudo começa na «corrupção da mente e da alma de quem insiste na dedicação à política, muitas vezes com ambições altruístas ou desejos moralistas», para depois descrever cruamente o que acaba por ser o funcionamento interno dos partidos políticos, na sua pior vertente.

Discutir se esta visão do funcionamento partidário é mais ou menos correcta, ou se é aplicável a todos os partidos políticos, parece-me secundário. Assusta-me sim que, cada vez mais, este tipo de imagem seja associada à actividade política, o que infelizmente é falso.
É falso, infelizmente, porque a descrição que faz é, genericamente, aplicável a todo o tipo de organizações e instituições que temos, das empresas privadas às associações, passando pela Administração Pública.

É o espelho da sociedade em que vivemos.

A única diferença é que, ao contrário das empresas ou da Administração Pública, onde também «a gestão nepótica dos poderes torna-se inevitável como forma de recompensa pelo empenho pessoal de alguém, ou como prestação adiantada de pretensões em cima da mesa», os partidos políticos estão (em teoria?) abertos à sociedade: qualquer cidadão maior de idade pode se inscrever num partido (em vez de, por exemplo, ficar no sofá a ver o Big Brother, e a insultar os políticos nos Telejornais).

Assim, só posso concordar parcialmente com a sua conclusão de que «o real problema da política não está tanto no sistema eleitoral como nas estruturas em que é condicionada. Só a resolução dos vícios do passado irão resultar numa democracia menos falível.»

O verdadeiro problema da política portuguesa começa no alheamento das pessoas em relação aos problemas que lhe dizem respeito, passa pela falta de cultura cívica, e desagua no mar de demagogia onde os políticos são todos iguais: incompetentes, irresponsáveis, corruptos, etc.

Se os partidos são constituídos por cidadãos livres, temos os partidos que queremos, e a democracia que merecemos.

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