segunda-feira, setembro 22, 2003

SEVEN - Os Sete Pecados Mortais / Parte II

Na sequência do meu Post «Seven - Sete Pecados Mortais», de sexta-feira dia 19, alguém produziu um extenso comentário usurpando o nome do Pedro Sá.
Eu compreendo que estas ideias da Conferência Episcopal Portuguesa sejam desagradáveis de ouvir para a parte mais retrógrada da direita portuguesa. Mas utilizarem o nome do Pedro Sá para criticarem o Episcopado é um golpe baixo.
Apesar disso, mesmo que a numeração dos comentários por vezes só por coincidência corresponde à da referida Carta Episcopal, farei os seguintes comentários ponto por ponto*:

1 « Obviamente que todas as pessoas são egoístas, nem é legítimo esperar-se ao contrário. O egoísmo geral não só é uma realidade como é desejável»

Depois de recuperar do pasmo em relação a esta frase, penso dever chamar a atenção para algo fundamental: Egoísmo não é liberalismo, nem corresponde a direitos individuais adquiridos. O primado do egoísmo corresponderia sim a uma Sociedade onde só existiriam direitos individuais, sem existirem os deveres para com a Sociedade.
Mesmo na decomposição anarquista da Sociedade, as liberdades de cada um param quando interferem com as liberdades dos outros.
Mesmo na Sociedade ultra-liberal, o Estado surge como regulador entre cidadãos (por exemplo, através do acervo legislativo).
Viver em Sociedade é reconhecer que não vivemos isolados. Considerar o egoísmo desejável, é considerar como norma socialmente aceitável e recomendável colocar permanentemente os interesses pessoais à frente dos interesse dos outros.
Terá chegado a hora de meter a Solidariedade na gaveta?.
Em relação ao egoísmo do Estado, bem vindo ao Clube de Fãs da Manuela Ferreira Leite...

2 « Não fora o consumismo a nossa economia seria bem pior(...)»

O consumismo não é um fim em si.
Na minha opinião, a melhoria do bem-estar (wellfare) dos cidadãos será um objectivo mais aceitável. O consumismo só é positivo quando contribui para o bem-estar da sociedade, o que não é o caso quando o nível de endividamento privado ultrapassa todos os limites técnicos (e de bom senso).
Em relação aos valores espirituais, sendo agnóstico tenho uma leitura mais ecuménica da Carta. Se calhar esta insensibilidade com valores espirituais vai de encontro ao tal egoísmo.

3 « A forma como a corrupção é designada é lamentável. Pura e simplesmente ela é um crime, que deve ser punido como qualquer outro.»

Este comentário é coerente com o primeiro. Se o egoísmo é desejável, a corrupção é um dos meios ao dispor dos cidadãos para atingirem os seus fins (tanto o corrupto como o corruptor). Porque de outra forma, a corrupção, antes de ser um crime é um dilema moral.
Num País onde fugir aos impostos continua a ser socialmente bem visto (4).

5 «(...) em que ponto é que a solidariedade é para aqui chamada?»

O autor deste comentário, que assina abusivamente como Pedro Sá, continua a mostrar alguma dificuldade em lidar com o conceito de Solidariedade. O que nos obriga a voltar à questão do egoísmo, e da atitude (falta de consideração) perante o próximo. (Basta ver os carros estacionados em segunda fila por aí fora, apesar de não morrer ninguém por causa disso)

6 «Esta então ultrapassa todos os limites do ridículo. Isto é a condenação explícita do desporto profissional(...)»

A Economia/Gestão Pura publicaram no seu último número os resultados do ISI ? Information Society Index. Neste índice composto, Portugal surge em 26º lugar (logo atrás da Espanha e da Grécia). No Índice Social, onde Portugal ocupa o mesmo 26º lugar (e desta vez à frente da Grécia), na componente leitura de jornais tem um honroso 42º (entre o Equador e o Panamá).
Se considerarmos que entre os jornais mais lidos em Portugal fazem parte três jornais desportivos diários...

7 «(...)dizer que há desigualdade no acesso à educação é uma afronta às conquistas do regime democrático»

Não há desigualdade no acesso à educação? Estamos a falar de Portugal?
Não será a igualdade de acesso à educação uma das perigosas derivações socialistas da Constituição, denunciadas pelo PP?


* A completa compreensão desta polémica implicará naturalmente, a leitura do Post «Seven - Os Sete Pecados Mortais» e o respectivo comentário aí inserido.

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