DISCRIMINAÇÕES E FALTA DE VISÃO

Todos sabemos que Mário Pinto é um católico conservador. Mas hoje faz algumas considerações verdadeiramente lamentáveis.

Em primeiro lugar, ao considerar que o facto de cada um dever viver feliz com a sua sexualidade não é suficiente, por ser impossível excluir "a consciência, a ética, a moral e a espiritualidade". Quando o facto que está na base do seu comentário seria uma situação que provavelmente redundaria em divórcio, algo de perfeitamente normal em qualquer sociedade da Europa Ocidental.

Mas este ultramontanismo torna-se visível quando o colunista lamenta "os primeiros lugares que estamos ganhando em mães solteiras, divórcio, sida, etc.". Só falta a exaltação da santa virgindade !

Uma coisa é falar-se de mães adolescentes e outra de mães solteiras, antes de mais. E depois, Mário Pinto parece pressupor em qualquer das situações a inexistência da paternidade. Já cá faltava a direita conservadora a negar o papel do pai !!!!

Depois, é a visão do divórcio como algo de negativo....negativa era a sua impossibilidade e a tentativa clara de impedir que cada um procurasse livremente a sua felicidade.

Como já leram os leitores, pior mesmo é a comparação que é feita, ainda que possa ter sido inconscientemente, entre a existência de mães solteiras, divórcio e sida !!!!!!!!!!!!!! É triste. E igualmente reveladora de uma visão atormentada que considera os infectados com HIV como uns terríveis debochados causadores do mal.

O PÚBLICO hoje fala sobre os crimes de natureza sexual. E refere o art. 175º do Código Penal (homossexualidade tentada com menor) como sendo inconstitucional, por ser discriminatório. Já ocorreu a alguém que esse artigo não será por natureza aplicável, regendo essas situações o disposto em relação às situações análogas de natureza heterossexual.

Isto para não falar da manifesta inconstitucionalidade da restrição do casamento aos casais heterossexuais. Quando me explicarem em que medida é que um casal de dois homens ou duas mulheres não pode cumprir os deveres de cooperação, co-habitação, fidelidade e assistência, eu talvez perceba.