Manuel Alegre Levado a Sério
Bem sei que já se falou demais de Manuel Alegre, nomeadamente neste blog.
Mas, hoje que o Poeta retomou o seu carro e motorista, perdão, o seu lugar na assembleia da República, é irresistível reproduzir a croluna de Pedro Lomba no DN (o contra-ponto de João Miguel Tavares), intitulada «Manuel Alegre Levado a Sério»:
«Só há uma maneira de levar Manuel Alegre a sério se o próprio também se levar a sério. Como é evidente, o movimento cívico, participativo e vanguardista que Alegre tenciona fundar não é para levar a sério. Não vai haver, nem pode, qualquer movimento. Não se cria um movimento político só porque se teve um milhão de votos em eleições presidenciais, por definição umas eleições inorgânicas e secundárias. Uma coisa dessas (um movimento, um partido, um bando) precisa em princípio de uma teoria consistente, de algum profissionalismo e de um grupo de abnegados com tempo e disposição para a pôr em prática. Tudo isso falta a Alegre e aos seus apóstolos. Não têm uma teoria que se apresente como alternativa mas uma amálgama de truísmos de esquerda e direita, que, de resto, nunca se fundirão num movimento comum; não têm o necessário profissionalismo, mas uma espontaneidade li- ceal pouco proveitosa; e não têm os volun- tários prontos para se sacrificarem em prol da causa. Um movimento político precisa disso mesmo: de movimento. A iniciativa de Alegre só promete inércia e irrelevância.
Acima disso, Manuel Alegre devia reflectir sobre as consequências da sua aventura solitária. Aceitando por agora a sua genuína vontade em preservar um PS idealista, que interessa a Alegre saltar pressurosamente para fora do partido? E que lhe interessa manter um pé dentro do PS e outro no seu mítico movimento, uma confusão e duplicidade que, a acontecerem, não poderão durar por muito tempo? Visivelmente, nada. A única via sensata que Alegre tem para obter peso e influência é fortalecer uma facção no PS que obrigue Sócrates, Sócrates o primeiro-ministro, Sócrates o secretário-geral e Sócrates o recente coordenador partidário, a uma negociação e cuidado permanentes.
Se Alegre se quer levar a sério, que fique onde está. No PS mas à margem deste PS. E que esqueça o seu milhão de votos. As maiorias presidenciais dissolvem-se a seguir às eleições; as minorias também. A "vitória" de Alegre talvez lhe permita ganhar algumas coisas, não lhe permite ganhar tudo. Ironicamente, a sua carreira política pode começar ou acabar aqui.»
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