sábado, dezembro 10, 2005

Os Debates Possíveis

Continuaram os 'lado-a-lados'.

Primeiro tivemos na RTP1 Mário Soares e Jerónimo de Sousa.
Este debate, à partida, seria pouco aliciante, face ao posicionamento político de ambos nestas eleições.
Contudo, Mário Soares e Jerónimo de Sousa retiraram as devidas lições do Cavaco-Alegre (expressão realmente surreal) e perceberam que teriam, inevitavelmente, de marcar as suas diferenças.
A abordagem estratégica de ambos foi a única possível.
Jerónimo de Sousa atacou as políticas do Governo, procurando 'fixar' o eleitorado comunista.
Soares sublinhou não ser advogado do Governo e teve um discurso mais à esquerda, essencial para uma eventual 'transição' do voto comunista para uma 2ª volta.

O debate na TVI entre Cavaco Silva e Francisco Louçã prometia mais.
Até porque os dois professores de economia seriam mediados por Miguel Sousa Tavares e Constança Cunha e Sá.
Cavaco Silva, muito nervoso (as mãos tremiam), foi encostado às cordas por Louçã, cometendo erros atrás de 'gaffes'.
Não foi capaz de encarar Louçã, acenou com o fantasma de 10 milhões de imigrantes (face aos 168 legalizados o ano passado), fugiu das questões concretas (como o casamento entre homossexuais), continuou a refugiar-se em relatórios publicados e foi batido no único terreno onde fala com à vontade, nas questões de economia.
Continuou a defender todas as políticas do Governo de Sócrates ('colagem' apenas possível pela inexistência de candidatos à sua direita).
Registei particularmente mais um exemplo da concepção de Democracia que Cavaco Silva, endemicamente, tem.
Cavaco Silva afirmou taxativamente, quando confrontado com o pior dos seus Governos, ter sido julgado pelos portugueses, e com resultados bastante positivos. Ora, como sabemos, isto é falso.
No final do cavaquismo, quem foi a votos, quem se sujeitou ao julgamento democrático sobre o governo de Cavaco Silva, foi Fernando Nogueira. De que resultou a primeira grande maioria de António Guterres.
E alguns tabus depois, quando se apresentou como candidato presidencial, foi derrotado por Jorge Sampaio logo à primeira volta. Ou seja, o julgamento político, nas urnas de voto, sobre o cavaquismo, foi claramente derrotado.
Mesmo que a sua Auto-Biografia, porventura, diga o contrário.
Cavaco Silva perdeu (JM) este debate, tal como teria perdido o de Manuel Alegre, se este não estivesse deslumbrado com o seu próprio ego.

Sobre Cavaco, concordo em absoluto com a opinião de cmonteiro.
Cavaco Silva tem razão no seu historial de recusa na realização de debates.
A ideia de alguém o confrontar publicamente, de por o por em causa, de ser livremente questionado, de falar para além da lição estudada, aterrorriza-o.
Os seus apoiantes defendem-no na sua imagem de não-político, suprapartidário.
Mas não é possível conceber a política em Democracia sem o debate de ideias.
Mesmo que o debate seja o possível.

Constança Cunha e Sá e Miguel Sousa Tavares foram os claros vencedores na primeira ronda das televisões.
Judite de Sousa continuou igual a si própria.
Os jornalistas não são os donos da bola.
Nem os da RTP.

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