Um Debate para Marcianos
Ontem, os telespectadores tiveram a oportunidade de assistir a um excelente debate.
Henrique Monteiro («Expresso»), José Manuel Fernandes («Público») e António José Teixeira («Diário de Notícias») proporcionaram, na SIC-Notícias, um debate de grande nível que, à partida, se poderia considerar muito complicado, atendendo ao tema a que estavam confinados: aquela estranha conversa que a SIC transmitiu em 'prime time' entre os dois candidatos apoiados pela direita, Cavaco Silva e Manuel Alegre.
Primeira conclusão: "Cavaco Silva e Manuel Alegre não estão a jogar um contra o outro".
Porquê? Ambos tentaram jogar à defesa, para defender as 'boas posições' que as sondagens neste momento lhes atribuem.
Diferenças?
Apenas pequenas discórdias.
Pergunta Adelino Faria: "Como é que eles mostram que são diferentes?"
Henrique Monteiro: "Esse é que é o problema. Se uma pessoa vem de Marte e assiste a este debate, qual é o da esquerda? Qual é o da direita? Qual é o do centro-esquerda? Qual é o do centro direita? Não podiam estar trocados? Qual é o que apoia o governo qual é aquele que vem do sector da oposição ao governo? Bom, seria uma grande confusão. "
Para Ricardo Jorge Pinto, "Cavaco Silva e Manuel Alegre não podiam ser mais diferentes, como políticos. Separa-os a ideologia, a forma de olhar para a realidade. Separa-os também a linguagem que usam. Mas quem os viu no primeiro dos dez debates com os candidatos às próximas eleições presidenciais (SIC, segunda-feira, dia 5) não perceberia os traços da diferença. Partilharam ideias, comungaram valores, repetiram conceitos."
Vasco Pulido Valente: «(...) Cavaco e Alegre concordaram muito e trocaram muita vénia e salamaleque. Não admira: tudo é bom, se for contra Soares. Odeiam o homem, lá isso odeiam. De resto, são estadistas. Desisti de contar as vezes que disseram "estratégia", "visão", "valores", "consenso", "pacto", "confiança". Um estadista tem de dizer estas coisas. Cavaco e Alegre não falharam um lugar-comum. Deviam tirar um livro daquela conversa: "Frases para candidatos sem nada na cabeça." Reparem. O dr. Cavaco oferece "cooperação estratégica" (soa bem "estratégica") em matérias "consensuais" (o "consenso" ajuda sempre) onde exactamente a cooperação é implícita ou desnecessária. (...) Mas não esqueçam o lírico em Alegre: ele propõe um "Laboratório da Língua Portuguesa". Só que também Cavaco, nunca desatento, jura que será, ele próprio, "O Incentivador da Língua Portuguesa". Praça da Canção, 1 - Economia, 1. (...)
Não houve debate. Entrevistas paralelas, com imenso respeitinho, e olhares delicodoces de lado, não merecem o nome de "debate".»
(citado no Super-Mário)
Um grande bocejo que, segundo a Eurosondagem (e como gostam ambos os candidatos de sondagens), cerca de 60% dos inquiridos não viram o debate ou não têm opinião formada sobre o assunto, ganhando Cavaco com 27,3% contra 15,7% de Alegre.
E lapsos de raciocínio preocupantes:
Cavaco Silva:
«não há desenvolvimento sem estas três partes: económica, social, ambiental e cultural»
Manuel Alegre:
«Porque é que a Espanha em 1905 cresceu mais que Portugal?»
Será da idade?
Para mim, foi simplesmente surreal...
8 Comentários:
Acrescento Miguel Gaspar, no DN («A Regra do Bocejo»):
«O debate da SIC, morno e soporífero, foi o resultado de um frente-a-frente entre os media e as direcções de campanha»
(...)
«A regra no debate foi o bocejo. Líderes nas sondagens, Alegre e Cavaco não se desafiaram de facto e isso ajudou ao tédio».
Será que o staff de Manuel Alegre soubesse dos resultados da sondagem do CM/Aximage de amanhã, alterariam a sua estratégia?
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
A Aximage dá pela 1º vez o Soares à frente do Alegre.
Para mim, continua a não querer dizer nada.
Mas como o Alegre e as suas Rosetas não perdem uma oportunidade para utilizar as sondagens como argumento político diário.
É ir ao Margem de Erro, do Pedro Magalhães, que tem o habitual quadro evolutivo/comparativo.
(Apaguei o comentário antes de ver a resposta, sorry.)
Bah! Os candidatos da direita?
Os candidatos que a direita apoia:
Objectivamente - Cavaco
Tacticamente - Alegre
Mário,
A direita não precisa de apoiar ninguém tirando o Cavaco que, se não passar Alegre à segunda volta, já pode encomendar as faixas.
Só há um candidato capaz de vencer Cavaco e esse candidato é o Manuel Alegre, que é aquele que mantém um capital de seriedade suficiente para tal. Logo, todos os que apoiem os candidatos dos partidos, como o Soares, o louçã e o Jerónimo, estão a ajudar objectivamente Cavaco.
Aquilo a que se está a referir são os candidatos sérios. Mas isso não tem nada que ver com esquerda ou direita.
Como diria o outro, «Olhe que não! Olhe que não!»
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