quinta-feira, setembro 08, 2005

A Propósito de Marx



Algo que nunca me deixa de surpreender é a vergonha que algumas 'esquerdas' têm do seu passado. Por exemplo, das suas incontornáveis influências marxistas.

Respondendo em parte ao comentário do Tonibler num post anterior , a obra mais importante de Karl Marx chama-se «O Capital», sendo um dos clássicos da teoria económica, ainda actual em muitos aspectos na economia política contemporânea.

«O Manifesto do Partido Comunista» é já uma reflexão política da análise da sociedade industrial da época e da suposta insustentabilidade do sistema capitalista.

As ilações políticas de Marx e Engels falharam no fundamental, até porque a «tomada de consciência de classe» e a «revolução dos trabalhadores» seriam o auge da inevitável implosão do sistema capitalista, mas a Revolução de Outubro deu-se num país com uma estrutura feudal.

Talvez por essa razão, o revisionismo da obra de Marx foi sendo feito ao longo da história, ao sabor das necessidades: Leninismo, Trotskysmo, Estalinismo, Maoísmo, etc.

A própria social-democracia europeia do século XX, nomeadamente o SPD alemão e a social-democracia nórdica, tem uma raiz marxista. Num contexto em que se reconhece algo de fundamental: a sociedade industrial, felizmente, alterou-se. Nomeadamente, no triângulo terra/ capital/trabalho, o equilíbrio de forças é completamente diferente, na razão da crescente qualificação dos trabalhadores, do crescimento da produtividade, da qual tem resultado a crescente terciarização da economia. Com esta evolução da relação entre capital e trabalho no último século, os próprios Sindicatos tem um peso social cada vez menos relevante.

O Socialismo Português, eufemismo nacional para a corrente da social-democracia europeia, reconhece o antagonismo natural entre os interesses do capital e do trabalho, ou o antagonismo natural entre os interesses públicos e privados (basta analisar a diferença entre preço e custo marginais), o que é consistente com a análise económica inicial feita por Marx.

Isto também significa, por outro lado, não acreditar na «mão invisível» de Adam Smith nem nos equilíbrios de longo prazo propostos pelos Monetaristas (até porque «no longo prazo estaremos todos mortos» - Keynes).

Os mercados são naturalmente imperfeitos, e o Estado tem a função de os regular, através de legislação, ou intervindo directamente, inclusivé como agente económico.

Existem porém muitos socialistas que desconhecem ou renegam a longa história do movimento Socialista em Portugal, que vem do Sec. XIX com figuras como Antero de Quental e José Fontana.

Talvez preferissem uma refundação.

Ou talvez se conformem e acomodem com uma versão soft de um pragmatismo liberal com preocupações sociais...