terça-feira, dezembro 14, 2004

A Venda da Banha da Cobra




Paulo Portas já (se) tinha decidido, com aquela máscara de seriedade, sentido de Estado (tipo 'prisão de ventre') com que fala para as televisões.
Não ia falar antes de ouvir a declaração do Sr. Presidente da República, mas já tinha indiciado a vontade de fazer listas separadas, nas referências que foram sendo feitas ao Congresso do PSD.

Por seu turno, Santana Lopes também já tinha anunciado a ideia de construir uma plataforma alargada, fazendo constar a intenção de nela incluir o PP e, quiçá, o PPM, numa verdadeira AD, digna de conjurar o espírito de Sá Carneiro para a campanha eleitoral.

Depois disso, seguiu-se a novela de namoro entre Portas e Santana, Paulo e Pedro, para decidirem de uma vez por todas a elaboração ou não de listas conjuntas, mantendo a actual coligação de direita.

Durante uma semana, as fontes bem informadas de ambos os partidos foram confirmando as duas soluções, no que acabou por ser um 'casa, separa, casa, separa, casa, separa: logo não casa'Jô Soares).

O que estiveram os líderes dos dois partidos a discutir durante quase uma semana?
A elaboração de um programa conjunto que reflectisse as posições dos dois partidos?
O balanço dos 4 meses de governação?
Quais as reformas estruturais a apresentar aos portugueses?

Nada disso.
Estiveram a estudar sondagens, para perceber se seria mais vantajoso:

Por um lado, a apresentação de listas conjuntas, permitiria aproveitar a aplicação do método de hondt na distribuição de deputados em cada círculo eleitoral, correndo o risco de perder votos ao centro;

A alternativa, listas separadas, procurando a optimização de cada um dos respectivos eleitorados tradicionais, e permitindo ao PSD virar ao famigerado 'centrão'.

(Claro que a solução óptima seria a apresentação de listas separadas a Norte do Mondego, e de listas conjuntas no Sul.)

E porquê tanta sondagem e todo este calculismo?
Ao que consta, para evitar que o PS venha a obter a maioria absoluta nas próximas eleições!!!!

Com tantas contas para fazer, não admira que Santana Lopes não tenha tido tempo de receber em audiências separadas o PCP e os Verdes.

Parece que, afinal, Paulo Portas já tinha mesmo decidido, e PP/CDS PPD/PSD vão apresentar listas separadas, mas em conjunto, com a promessa eleitoral de nova coligação pós-eleitoral.

Se há políticos capazes de explicar com um ar sério e convicto todas estas trapalhadas e contradições, eles chamam-se exactamente Santana Lopes e Paulo Portas.