terça-feira, dezembro 07, 2004

A Encomenda a Guilherme Silva



Ontem, Guilherme Silva reviveu os velhos tempos ao lado de Alberto João Jardim, naquelas festas ébrias do PSD Madeira, onde insultavam alegremente o Ministro da República, o Governo do Continente e quem tivesse mais a jeito naquele momento.

Mas Guilherme Silva falou ontem como líder da bancada Parlamentar do PSD, no encerramento da discussão do Orçamento de Estado para 2005, pelo que insultar gravemente o Presidente da República não será propriamente salutar.

Guilherme Silva referiu-se à decisão de Sampaio como «um manifesto abuso do exercício dos poderes presidenciais», «uma actuação abusiva, imoral e eticamente inaceitável porque, além do mais, lesiva dos interesses nacionais». Considerou ainda que «o que está posto em causa é o sistema de Governo e aberto o grave precedente de um exercício dos poderes constitucionais com um pendor desequilibradamente presidencialista, de inspiração eanista».

Até foi surpreendente que Mota Amaral, normalmente tão zeloso do protocolo e das boas práticas Parlamentares, não tenha admoestado Guilherme Silva pelos termos graves com que se referiu ao Presidente da República.

Ao atacarem desabridamente a decisão tomada por Jorge Sampaio de dissolver a Assembleia da República e, consequentemente, o Governo Santana Lopes, Guilherme Silva, Santana Lopes e seus sequazes vão querer que os portugueses esqueçam as várias questões essenciais:

Este Governo PSD-PP começou há dois anos e meio.

Quando Durão Barroso decidiu ir para Bruxelas, a decisão de Jorge Sampaio em aceitar a indicação de Santana Lopes como 1ºMinistro teve como pressupostos a manutenção da estabilidade governativa, nomeadamente na continuidade das políticas.

Assim, este Governo não foi eleito há quatro meses.

Defender que não foi dado tempo suficiente a Santana Lopes para governar é reconhecer que, afinal, a continuidade governativa nunca existiu.

Além disso, em quatro meses o Governo Santana Lopes conseguiu criar uma impensável quantidade de situações absurdas, irresponsáveis e caricatas, algumas das quais verdadeiras ameaças ao próprio Estado Democrático, como por exemplo a tentativa de pressão e controlo da comunicação social (porque razão não passou ontem nos telejornais o excelente discurso de José Sócrates na Assembleia da República?).

Nas próximas eleições, o PSD e o PP vão ter de prestar contas sobre dois anos e meio de governação, com Durão Barroso, Santana Lopes, Bagão Félix e Manuela Ferreira Leite, cujos resultados estão bem à vista: aumento brutal do desemprego, manutenção do famoso défice orçamental acima dos 5% do PIB, ultrapassagem do limiar de 60% do PIB da dívida pública, destruição do sistema de Segurança Social, início da destruição do Sistema Nacional de Saúde, e o caos generalizado em todos os sectores, menos no sector bancário (que agradeceu e estará de braços abertos para receber os futuros ex-membros do Governo).

Nas próximas eleições, o PSD vai ter de defender o seu candidato a 1ºMinistro, Santana Lopes, que se tem recentemente distinguido pela sua elevada pose de estadista, mas também Paulo Portas, o factor de «competência e estabilidade».

Entretanto, Guilherme Silva, formado politicamente naquele regime democrático exemplar que é a Região Autónoma da Madeira, deverá voltar a ler a Constituição. Ou perguntar por que lhe pediram para fazer aquele discurso.


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