sexta-feira, outubro 03, 2003

MAIS DA DITADURA

O Crítico Musical contra-ataca, respondendo a quem com ele não concorda e esclarecendo o seu pensamento.

Pois do que diz tenho a comentar que:

1. Se condena o uso do automóvel apenas por 1/2 pessoas por veículo, é porque não tem a menor noção da realidade que é a vida de cada um de nós. Para mais, as pessoas com vidas mais ocupadas e imprevisíveis, em regra as que para além do seu emprego estão activas em prol da comunidade, em associações desportivas, partidos políticos, etc., não têm uma vida de casa-trabalho-casa que lhes permita estar a fazer combinações com mais 2/3 pessoas. E aí começariam as excepções e as injustiças.

2. Os transportes públicos de Lisboa e Porto são de boa qualidade. É verdade. Em regra, há bons comboios, metros e autocarros. E o preço do serviço parece-me ser mais ou menos justo (o Crítico esquece-se do nível de vida no Reino Unido).
Ora, a qualidade DO SERVIÇO é que deixa muito a desejar. Principalmente a nível de autocarros, maxime nos suburbanos. E sem qualidade de serviço não há opção que resista.

3. Diz ele que se vivesse em Cascais, Sintra ou Seixal deslocar-se-ia para Lisboa de comboio. Na mesma situação, sempre que outras condicionantes não se impusessem, tomaria certamente a mesma opção.
Aliás, para quem resida nessas zonas, optar pelo transporte público é indubitavelmente optar pela qualidade de vida.

4. Colocar parquímetros em zonas por excelência residenciais é de uma falta de bom senso a toda a prova.

5. Diz o Crítico que as medidas que defende aumentariam a qualidade de vida e levariam a menos stress e mais sentido cívico.
Contudo:

a) quem opta, por exemplo, por se deslocar de Sintra para Lisboa de carro, está livre e conscientemente a optar por ter stress, e aí já temos um problema que é exclusivamente do seu foro pessoal;

b) considerar que tais medidas levariam a mais "sentido cívico", implica não só que tem uma visão extremamente enviesada do que é na realidade o sentido cívico, como também de que a quer impor a todos; o sentido cívico nada tem a ver com andar mais ou menos de carro ou de transportes;

c) mesmo naquilo que para mim não restam dúvidas, há quem tenha ideias contrárias; certamente haverá quem considere que tem melhor qualidade de vida a demorar uma eternidade a chegar ao seu local de trabalho do que a demorar menos tempo de transportes públicos.

6. O que me leva a uma reflexão de natureza socioantropológica. Será que os portugueses em geral preferem, ainda que considerem que lhes traz pior qualidade de vida, o recato e a maior privacidade dentro do automóvel à maior exposição que existe dentro de um transporte público ? Será esta uma demonstração de timidez colectiva ?


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