sexta-feira, outubro 03, 2003

DITADORES E RACISMO

Francisco José Viegas, a propósito do post que escrevi sobre Pol Pot e Pinochet, vem considerar que os argumentos que apresentei relativamente a uma maior importância que damos ao último dos dois podem contribuir para a banalização do mal, e de que a cor das vítimas e dos carrascos será importante nessa determinação. Deixa assim implícitas considerações que podem presumir situações de racismo.

Ora, mal é mal. Seja lá onde se passar. E pessoa é pessoa. Seja onde estiver.

Mas é irrealista pensar que a sensibilidade individual e colectiva não se dirige imediatamente para as situações mais próximas. E que nada têm a ver com raça. Por exemplo, certamente que para a grande maioria dos portugueses foi muito mais preocupante a guerra civil em Angola do que o horroroso genocídio de arménios perpetrado pela Turquia logo após o final da I Guerra, provavelmente o pior massacre do século XX.

E há outro elemento fundamental quanto às relativizações, que são inevitáveis. Muito se fala do Holocausto como algo horrível mas, mesmo que o massacre atrás referido não tivesse sido ainda pior, basta pensarmos no que foi a Inquisição para verificarmos o respectivo grau de crueldade.

Aliás, visitei a exposição dedicada à tortura, há alguns anos, e já estive em dois campos de concentração nazis, um na França e outro na Áustria e, ainda que qualquer um destes não seja Auschwitz/Oswiecim nem nada parecido, uma análise mais fria obriga a concluir que a Inquisição foi, de facto, muito pior.

Isto para concluir que o factor TEMPO também leva a relativizações. Aliás, independentemente do total disparate que a comparação em si representa, comparar Bush com Hitler só é explicável por esse factor.






0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial