quarta-feira, janeiro 18, 2006

Com o Coração e Com a Razão



«É difícil estabelecer o momento em que se começa a pensar pela cabeça própria, tão lenta e árdua é a aprendizagem da independência mental e tão decisivas são as influências que pesam, se entrechocam e condicionam as nossas tomadas de posição, mesmo as aparentemente mais pessoais.»

in Mário Soares, «Portugal Amordaçado»


Apoio e vou votar em Mário Soares para Presidente da República por três ordens de razões.
Pelo Mário Soares humanista e cidadão universal.
Pelo Mário Soares Político, símbolo da democracia e do socialismo português.
Porque tenho memória.

Para uma geração que cresceu após o 25 de Abril, Mário Soares esteve sempre presente.
Desempenhou um papel fundamental na normalização da vida democrática portuguesa.
Contribuiu de forma decisiva para a credibilidade de Portugal ao nível internacional, iniciando e concluíndo o nosso processo de integração europeia.
O culminar deste seu percurso foi a sua inesquecível eleição para Presidente da República em 1986.
Esse combate histórico especialmente importante contra uma direita revanchista que aparecia atrás da figura de Freitas do Amaral (e que teria finalmente algum consolo nas maiorias absolutas de Cavaco Silva).

Mário Soares foi o primeiro Presidente da República civil do novo Portugal democrático.
Criou um estilo presidencial marcante, baseado na leitura fiel da Constuição, e na sua forte personalidade.
O seu estilo continua hoje a ser um padrão de referência do exercício das funções Presidenciais, desde o conceito de «magistratura de influência» à realização das «presidências abertas» (cujo contacto directo da população permitiu a 'dessacralização' do Presidente).

Depois de cumprir dois mandatos como o mais alto magistrado da nação, Mário Soares tinha o seu lugar assegurado na história, com o merecido reconhecimento nacional e internacional.

Mas Mário Soares continuou a sua participação na vida política, criando o seu espaço fora da lógica partidária. Aceitou candidatar-se ao Parlamento Europeu, fiel na aposta que sempre teve no projecto de Jean Monnet. Acompanhou a evolução de Portugal e do mundo activamente, através da sua palavra, da sua opinião, que nunca teve nem medo de dar nem medo de emendar.

Numa fase em que, aos 80 anos, a sua aposta principal era a Fundação Mário Soares (projecto que estravasa largamente o seu legado histórico) não se resignou, mais uma vez.
Acabou por aceitar entrar num combate político cujo resultado já tinha sido anunciado.
Deu mais uma vez o exemplo de participação cívica, sem medo da crítica, sem medo da controvérsia, entregando-se à democracia e à vontade popular.
E se hoje estamos à beira de uma 2ª volta, apenas e só apenas a Mário Soares se deve.

Mário Soares é para mim um exemplo.
O exemplo.
Um exemplo de coragem, de determinação.
Um exemplo de fidelidade aos valores fundamentais, que são os da nossa consciência.
Um exemplo de lealdade, fraternidade e solidariedade.

Mário Soares lutador.
Mário Soares humano.
Mário Soares de carne e osso, duro de roer.


«O Povo Português, tradicionalmente pacífico e tolerante, elegeu-me porque confia na minha capacidade para unir os Portugueses, contribuíndo assim para criar condições de convivência cívica e de colaboração responsável entre todos, ao redor de objectivos claros que nos são comuns. Essa vontade de promover um clima de concórdia nacional não exclui firmeza e exigência, no respeito pelas regras democráticas e pelas leis da República. Nesse aspecto serei inflexível. Consciente do perigo que sucessivas crises representam para o regime, tenho defendido que a estabilidade política e a paz social são condições indespensáveis para o desenvolvimento e a modernização de Portugal.»

Foram estas as suas palavras na Sessão Solene de Investidura como Presidente da República em 9 de Março de 1986.

É este o juramento que espero ver Mário Soares repetir.

Com o meu voto.

E com o voto daqueles que têm memória e não se resignam.

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