sábado, dezembro 03, 2005

O Pulo da Loba

Devido ao Porto-Sporting, ontem não assisti à entrevista de Cavaco Silva na RTP1.

Esta entrevista previa-se particularmente interessante por várias razões:
- são raras as vezes em que o professor se tem exposto a perguntas;
- sempre que o professor é 'obrigado' a falar, as 'gaffes' surgem naturalmente;
- também o comportamento de Judite de Sousa estava à prova, tendo em conta as entrevistas anteriores, e a sua própria preferência política;
- e seria uma das raras oportunidades de tentar perceber o pensamento político do professor.

Assim sendo, tratei de gravar a entrevista no já antigo VHS, para a poder ver hoje com calma, e com a possibilidade de acesso às repetições das 'jogadas' mais interessantes que o directo não permite (do género "será que o gajo disse mesmo isto, ou fui eu que percebi mal").

Foi assim que percebi correctamente a 'gaffe' da entrevista:
«(...)eu recebi ontem o apoio expresso de 743 dirigentes socialistas(...)».
Se fosse com o Soares, era da idade...

Também já tinha sido espicaçado pelo que havia lido em alguns blogs.
Por exemplo, não concordo com João Pinto e Castro do Super-Mário quando este diz que «Poucas vezes se viu um político mentir tantas vezes em apenas meia hora».
Cavaco não precisou de mentir muitas vezes.
E, para além disso, nem é um político profissional...
Mas já concordo com a análise de João Pinto e Castro quando afirma «Isto dava um sketch do Gato Fedorento», que vai também um pouco na linha da opinião de cmonteiro no Tonibler.
Pela minha contagem, Cavaco Silva responde remetendo para a sua Auto-Biografia 5 vezes, para ' estudos/relatórios conhedidos' 4 vezes, e para «os portugueses conhecem-me bem» apenas 2 vezes.

Caracterizaria a entrevista de Cavaco Silva no estilo do 'ainda bem que me faz essa pergunta'.
Judite de Sousa não poderia aparecer menos acutilante do que nas anteriores entrevistas, pelo que as perguntas mais embaraçosas foram... convenientemente embaraçosas, e nunca muito insistentes (apenas em uma ou outra ocasião não deixou Cavaco 'fugir': uma em relação à sua participação em acções de campanha do PSD, o que permitiu a Cavaco revelar que apenas tem mantido uma intervenção cívica nos últimos anos sobre os problemas do País, e relacionada com esta, o seu relacinamento com Fernando Nogueira - aqui sim, até para o espanto da Judite, mentiu com os dentes todos, tipo 'estive no Alentejo profundo, no Pulo do Lobo, e nem sequer ouvi falar nesse senhor Nogueira').

Se não quisesse acreditar no profissionalismo de Judite de Sousa, até diria que o alinhamento das questões tinha sido previamente fornecido ao staff do professor (até pode ter ficado lá por casa, em cima da mesa, e 'alguém' o ter devidamente encaminhado).

Apesar de tudo isto, a entrevista confirmou aquilo que os cavaquistas temem: este não é o terreno de Cavaco.
O estilo de Cavaco é, definitivamente, o do 'tabu'.
A arte da gestão dos silêncios.
Do sebastianismo, retira o melhor do nevoeiro.
Do messianismo, rodeia-se de Profetas e escolhe a arte das Aparições.

Ao contrário do que aconteceu nas entrevistas anteriores, cada interrupção de Judite de Sousa era um enorme alívio para Cavaco. Não houve cortes na sua linha de raciocínio, uma vez que grande parte do seu raciocínio está, pelos vistos, na sua Auto-Biografia.

A grande vitória de Cavaco Silva nesta entrevista foi ter conseguido por em prática a estratégia de George W. Bush nas Presidenciais americanas para os debates televisivos:
As expectativas são tão baixas que dificilmente os perderá...

2 Comentários:

Às 04 dezembro, 2005 00:12 , Blogger Tonibler disse...

Quando estiverem alinhados os reultados e estes estiverem exactamente na inversa da capacidade de oratória e politiquice, vão dizer "Ah, era isto que o Toni queria dizer..."

 
Às 04 dezembro, 2005 00:54 , Blogger Mario Garcia disse...

(...)

 

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