terça-feira, dezembro 20, 2005

Os «Independentes»


Na sequência da discussão à volta da «sociedade civil», seria inevitável falar dos «independentes».
Isto porque, se a democracia é constituída por cidadãos, a «sociedade civil» é constituída por «independentes».

Mas quem são estes «independentes»?
Todos aqueles que defendem a nossa independência de Espanha?
Os defensores de Olivença?
Os que exigem a nossa saída da União Europeia?
Os leitores do semário dirigido por Inês Serra Lopes?
Estaram excluídos os trabalhadores dependentes?
Ou os toxicodependentes?
Os adeptos do Belenenses?

Nada disso.
Os «independentes» são, supostamente, aqueles que não exercem actividade política como militantes de um partido.

No mesmo espírito da falácia da «sociedade civil», estes «independentes» têm, desde logo, uma superioridade moral em relação aos outros: 'eles', os «dependentes».

Os «dependentes» são os marginais da «sociedade civil».
Aqueles que abdicaram da sua opinião e do seu pensamento em nome de um partido político, onde os seus princípios individuais não são levados me conta.

Por exemplo, aqui no Descrédito, tudo o que escrevemos tem um desfazamento de cerca de um mês.
Primeiro, averiguamos se o tema sobre o qual nos queremos manifestar está na lista de temas autorizados pelo partido.
Depois, enviamos o texto para o Largo do Rato, para aprovação prévia.
Com a burocracia partidária, esta é a fase que leva mais tempo.
Só quando recebemos de volta o texto, devidamente aprovado, com as sugestões de alteração que devemos respeitar, é que podemos fazer o post definitivo.

Mas mais complicado é quando estamos a conversar com um «independente» e nos esquecemos das orientações oficiais do partido. Felizmente, há uma linha telefónica que funciona 24 horas por dia a que podemos recorrer (o nº vem no verso do cartão de militante - uma espécie de assistência técnica).
"Para defender o aeroporto da Ota, prima 1; para justificar as Scut's, prima 2; se quer indicações sobre o TGV, prima 3; sobre o Orçamento de Estado, prima 9; para um outro assunto, prima #, que um elemento da Comissão Permanente falará consigo."

Um «independente» não tem de sujeitar-se a estas coisas.
Vejamos o caso do Luís Delgado.
A sua não-filiação partidária permite-lhe escrever e dizer tudo aquilo que pensa, na hora.
E assim tem tempo para exercer todos os cargos para que foi nomeado.
Tal como tantos «independentes» nomeados para as mais diversas entidades, apenas pela sua competência)

Há ainda o caso dos «dependentes» que se regeneram.
Como Cavaco Silva, que é hoje um não-político.
Uma espécie de ex-fumador, alcoólico anónimo, ou ex-toxicodependente.
Passou por lá numa altura má da sua vida, mas agora está curado.
Está de volta à «sociedade civil».

(Há também os «bidependentes», como Manuel Alegre, mas esta parte do texto não veio.)

2 Comentários:

Às 20 dezembro, 2005 10:13 , Blogger Tonibler disse...

Boa desculpa, Mário. Infelizmente, o cartão dá legitimidade a TODAS as decisões do partido.

 
Às 20 dezembro, 2005 13:32 , Blogger Mario Garcia disse...

Desculpa de quê?
O cartão dá o quê?
Devemos estar a falar de coisas diferentes...

 

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