quarta-feira, junho 15, 2005

Não, Carlos

Definitivamente não. Ao contrário do que dizes, perdões de dívida externa são péssimas notícias.

Em última análise, quem os paga é o povo. É justo que o povo pague pelos caloteiros ?

E não me venham dizer que não podem pagar. Eu se me endivido, tenho que pagar de uma maneira ou de outra. Eu e qualquer outro cidadão.

Se um Estado vê que a demora no pagamento é generalizada, parece-me mais que justa a invasão do outro país e respectiva ocupação até que fiquem pagas as dívidas. E não, isto não é roubo. É apenas e só justiça.

Ninguém tem obrigação nenhuma de ajudar. E, em última análise, o povo do país que perdoa a dívida é que fica a perder, o que constitui uma enorme injustiça. Para não falar do mau exemplo que se dá em casa, pois transmite-se uma mensagem de que será perdoado quem não pague.

E assim igualmente se fomenta a monumental irresponsabilidade do Terceiro Mundo. As conversas de que não se desenvolvem por responsabilidade dos países industrializados e de que são explorados são desculpas de mau pagador, de incompetente e de preguiçoso.

Ninguém tem obrigação de os ajudar. Os problemas desses países são deles e de mais ninguém. Esqueçam-se os internacionalismos bacocos e a conversa de "ah, mas são pessoas". SO WHAT ? Os Governos servem para alguma coisa.

Em consequência, deve Portugal exigir de imediato o pagamento de todas as dívidas externas (bem como pagar a própria, entenda-se) e pôr desde já fim a toda a "cooperação para o desenvolvimento", i.e., apenas mantendo as contribuições financeiras no âmbito das organizações internacionais em geral, e da União Europeia em particular.

6 Comentários:

Às 15 junho, 2005 10:19 , Blogger AA disse...

Segunda parte: subsídios à produção no Primeiro Mundo?

 
Às 15 junho, 2005 10:43 , Blogger Pedro Sá disse...

Obviamente também não concordo com isso.

Concordo, sim, com a taxação do dumping social, seja lá de onde vierem os produtos. Países com menor protecção social devem ver os seus produtos na UE devidamente taxados, para que haja igualdade de armas em termos concorrenciais.

 
Às 15 junho, 2005 15:19 , Blogger Mario Garcia disse...

Eis o Pedro Sá de direita a aparecer novamente.

Os empréstimos aos países do 3º mundo servem, no fim do circuito, para que estes possam comprar produtos aos países desenvolvidos. Ou seja, vendo as coisas pelo prisma do comércio interncaional, muitas vezes estes 'empréstimos' já foram pagos várias vezes aos países de origem, quer através de bens de consumo, quer através do acesso privilegiado a matérias-primas.

É um pouco o que se passa na União Europeia, mas em vez de empréstimos temos subsídios. Os países que contribuem para o Orçamento Comunitário têm recebido esse dinheiro de volta na sua economia via exportações.

É o keynesianismo global!

 
Às 15 junho, 2005 15:33 , Blogger Pedro Sá disse...

Isso é completamente secundário. É uma questão de princípio !

 
Às 15 junho, 2005 23:59 , Blogger AA disse...

Chamar o proteccionismo de dumping social não é mais do que esconder a nossa falta de capacidade de nos adaptarmos...

O que se verificou recentemente com a China foi um forte aviso muito simples: a haver quotas sobre importações, serão pré-taxadas na China de modo a que cumpram os nossos critérios anti-dumping. Como os produtores chineses não são parvos, mais depressa aumentarão os preços mantendo os baixos custos de produção, realizando mais lucro. Com maior receita fiscal, maiores lucros e exportações garantidas, acabamos por ceder o domínio do comércio mundial à China, à nossa custa (sim, porque continuaremos a subsidiar as nossas produções obsoletas).

Antes que o Pedro decida chamar-me a "n-word"+"selvagem", não defendo qualquer cenário catastrofista. A equação é muito preocupante, e temos de pensar em nós. Nestes termos, quaisquer restrições às importações serão claramente violadoras dos acordos da OMC. Que fazer? Sair da OMC? É urgente começarmos a pensar no que podemos vender à China, e que negócios por lá realizar. E fazê-los. A estratégia tem de ser leal mas agressiva. Os americanos já o perceberam há muito. Resta saber se encararemos o mundo em desenvolvimento como MFN ou simplesmente como inimigos dos quais temos de nos proteger.

Um abraço,

António

PS: neste assunto e fazendo uma bela misturada, a protecção contra o "dumping" social também deve aplicar-se aos produtos de países sem protecção social, que concorram com os nossos produtos subsidiados, nomeadamente agrícolas, ou quaisquer outros do sector primário ou secundário? Isto da ética económica tem que se lhe diga...

 
Às 16 junho, 2005 09:48 , Blogger Pedro Sá disse...

Atenção, António. Não há que confundir o vulgar proteccionismo com o assegurar de uma verdadeira concorrência e com a defesa do modelo social europeu.

Se a Europa não taxar o dumping social, a prazo arrisca-se a ser arrastada para um modelo económico assente no capitalismo selvagem e em salários baixíssimos, com as inerentes perdas de qualidade de vida. E que poderão conduzir, como diria noutra conjuntura o então bispo do Porto, a uma terrível irrupção anarco-social-comunista, ou, pior, a uma calamitosa irrupção anarco-social-bloquista.

Eu não defendo quotas às importações. Considero que a contingentação é ridícula. O que defendo é a instituição de mecanismos que não permitam a terceiros vir concorrer no mercado europeu em desigualdade de circunstâncias.

Aliás, o António já certamente por aqui leu até que ponto eu sou contra qualquer tipo de subsídios. A começar pelos da PAC, já que os referiu.

Quanto a ética, cada um tem a sua. Não suporto essas ideias de que um comportamento é por natureza ético ou não. O que interessa é as coisas estarem dentro da legalidade.

 

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial