terça-feira, junho 14, 2005

A "Extraordinária Revolução"

Há uns dias escrevi um post intitulado «A Democracia Pindérica».
Por essa razão, não posso deixar de citar quase na íntegra a crónica deste fim-de-semana de Vasco Pulido Valente, intitulada «Espectáculo Triste»:

«Portugal está a dar um triste espectáculo de si próprio. O caso é este. De há um tempo para cá (quinze, vinte anos?), toda agente se queixa da qualidade dos políticos. Que não têm profissão, que nunca trabalharam, que não têm independência (económica ou outra), que nasceram e cresceram na baixa intriga dos partidos, que vivem da subserviência e do oportunismo, que roçam a iliteracia; e por aí fora. (...) Mas, no meio da choradeira universal, nós pagamos muito mal aos políticos.

Ou, mais precisamente, os políticos (porque em última análise são eles que mandam) não se atrevem a ganhar mais com medo do "povo". Como o "povo" os considera um bando de parasitas, ainda por cima malficentes, tentam não o provocar recebendo abertamente o que deveriam. Desta cobardia, já institucional, derivam três consequências. Primeiro, só a mediocridade aceita um cargo de responsabilidade (e, às vezes, de risco) numa câmara, no parlamento ou no governo, por um ordenado comparativamente irrisório. Segundo, os que aceitam, como os deputados, tratam o seu lugar como se fosse uma sinecura inócua. E, terceiro, uma grossa minoria arranja rendimentos laterais, que oscilam entre o legal e o criminoso, para se compensar de um "sacrifício" em que não vêem valor ou dignidade.

O ataque do PS aos "privilégios" dos políticos (uma "extraordinária revolução", de acordo com Silva Pereira) continua a demagogia do costume. (...) A pensão vitalícia e o subsídio de integração reconhecem a realidade de que anos em S. Bento arruínam a vida profissional de qualquer pessoa e, além disso, de que um antigo primero-ministro ou presidente da Assembleia ainda representam o País. A "extraordinária revolução" de Sócrates pune a melhor parte da "classe política" e favorece a pior. E para nada. Não tarda um mês, recomeça a cegarrega sobre a má qualidade dos políticos. Vamos caindo sempre.»

E o Descrédito continua...



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