quinta-feira, abril 07, 2005

Ainda os supostos furos

Que eu tenho razão relativamente à mentalidade subjacente à questão das faltas dos professores (não confundir com os furos nos horários) prova-se pelo depoimento sobre o assunto de uma médica de 35 anos consultada sobre o assunto na área local do PÚBLICO.

Pois diz ela que os furos dão azo a que saiam da escola e que os miúdos já têm intervalos suficientes para conviver.

Para além de isto demonstrar à exaustão que tal lógica tem por base achar-se um grave problema que os estudantes estejam fora do estabelecimento de ensino, acaba por demonstrar algo ainda pior.

Eu com 12/13 anos (já agora, tenho 30 para quem não sabe) já considerava a minha geração estranhamente conservadora. Não me parecia (e não me parece) normal que qualquer jovem no seu perfeito juízo estando impedido pelos pais de fazer uma coisa não a faça às escondidas destes quando estão a trabalhar. Contudo, conheci um caso destes, sim eu sei que é só um mas conheci também outras situações que denotavam uma mesma mentalidade.

Aos 35 anos, as mesmas pessoas que ficavam felizes por não terem aulas e que usufruíram desses momentos de prazer e de convívio, nos quais não acontecia nada de mal nem faziam mal a ninguém, são os mesmos que querem impedir as gerações mais novas do mesmo.

Que acham que estar fora da escola é mau por natureza, como se nunca tivessem saído dela quando faltou um professor e como se tivesse acontecido alguma calamidade quando o fizeram.

Que acham que o convívio é "suficiente", como se conviver devesse ter limites e tivesse que ser submetido a critérios de razoabilidade. Enfim, que são os apóstolos das turbocriancinhas e que ficarão felizes da vida se tiverem filhos que não saem de casa e não têm amigos mas têm notas altíssimas.

Aliás, actualmente isso já se vê. Conheço um caloiro de Medicina que me diz que para seja lá que tipo de diversão for só tem um colega disposto a fazê-lo. Os restantes só estudam, estudam, estudam. Temo pela qualidade dos médicos que vamos ter, que só sabem de livros e nada na vida.

E, por este andar, isto é só o começo. Tenham medo. Tenham muito medo.