sexta-feira, abril 01, 2005

A extrema-esquerda e a Igreja contra a liberdade e a modernidade

Ao contrário de João MacDonald, não me revejo nas palavras do padre Januário Torgal Ferreira, pelas seguintes razões:

1. A prática da prostituição não implica a perda da dignidade e da liberdade. Sem prejuízo de situações onde a perda da liberdade possa existir. Quanto à dignidade, parece-me que, com excepções relativas ao mínimo de sobrevivência, ela não pode ser generalizada. O que é digno para uns não é para outros. Claro que não considerar que os prostitutos e as prostitutas perdem a dignidade não é coisa que agrade quer aos conservadores tradicionalistas quer à extrema-esquerda e às feministas, mas é da vida.

2. Onde vão parar os lucros das casas de alterne é algo que, se dentro da legalidade, apenas tem interesse público caso se relacione com matéria fiscal. Por exemplo, supondo que as prostitutas presentes pagam uma quantia ao proprietário do bar pela utilização do espaço, recebendo uma percentagem das bebidas consumidas pelos clientes, e a partir do momento que não existe lenocínio (que é crime, e que deverá continuar a sê-lo), não há nada de ilegal...

3. Cada um gasta o seu dinheiro da forma como entende. E ninguém tem nada a ver com isso. Já aqui o disse e repito: irritam-me profundamente estas palavras a julgar outras pessoas pela forma como gastam aquilo que é seu, como se tivessem que o gastar de acordo com determinados parâmetros, num inqualificável desrespeito pela singularidade de cada pessoa humana.

4. Para obter a nossa subsistência, desde que dentro da legalidade, é irrelevante que o trabalho seja sentido e que exista nobreza do consentimento ou consciência do esforço. Não posso aceitar uma lógica de que só se poderá ir a algum lado através do trabalho. A sorte também faz parte da vida. E, se dentro da legalidade, dinheiro é dinheiro.

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial