O comunismo falhou, mas Cunhal não
Do «Olho Vivo» de Domingo, intitulado «Reviver o Passado na Morais Soares»:
«Em geral, o Cunhal celebrado na quarta-feira foi o Cunhal dos anos 30 a 1974. Da clandestinidade, da prisão, da fuga, da resistência, o militante indómito, o número um, o intelectual exemplarmente anti-intelectualismo, o homem-máquina do partido leninista. Em particular, o Cunhal celebrado foi o do PCP, o de 'o partido'. Cunhal é o PCP, PCP é Cunhal. Mais do que dedicar a vida ao país e aos trabalhadores, Cunhal dedicou a vida ao partido o que, bem vistas as coisas, é simultaneamente impressionante e irracional. Quem no mundo pensa assim? Mas para Cunhal o partido era um fim em si. E, se os 30 anos depois do 25 de Abril são irrelevantes para o mito de Cunhal e não melhoram a sua biografia política nacional, para o PCP este período de democracia é a continuidade do anterior. (...) Na cerimónia fúnebre o PCP veio à rua, com toda a justiça, agradecer-lhe. Antes com Cunhal vivo, agora com o mito Cunhal, o PCP de 2005 é o mesmo partido leninista de 1974 que luta por continuar vivo, apenas por continuar vivo. Por continuar.»
(...)
«O comunismo falhou, mas Cunhal não. Em vez de escrever memórias, que são documentos históricos, preferiu escrever uma autobiografia ficcional em contos e romances que trabalham para o mito. Passou a ser o Cunhal escritor, artista, pensador, intelectual. Fez as pazes com o resto do país. Na última década, Cunhal transformou-se em Manuel Tiago. Construiu o mito que queria de si mesmo. Quem, no futuro, quiser vagamente conhecer Álvaro Cunhal não lerá os seus enfadonhos, insuportáveis e sectários discursos. Lerá e verá Até à Manhã Camaradas.»
*Bolds por conta da casa
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