terça-feira, fevereiro 08, 2005

Jornalistas e 'Comentadores'

O que Augusto Santos Silva escreveu no jornal Público, sábado passado, sobre os comentários ao debate Sócrates-Santana, assenta que nem uma luva ao período de campanha eleitoral em que vamos estar mergulhados até dia 18 de Fevereiro, e mesmo para a noite eleitoral de dia 20:

«As opiniões sobre os conteúdos do debate político são opiniões políticas. Não são apreciações técnicas, nem são factos objectivos. Por isso mesmo, a sua expressão deve obedecer aos requisitos da opinião em democracia: ser livre, ser plural, ser escrutinável. Não é juízo final sobre coisa nenhuma. E não deve ser confundida com a informação jornalística sobre factos. Se a direcção de um jornal entende que A ou B ganhou um debate, pelas razões X, Y e Z, dispõe do espaço de opinião próprio do seu jornal para dizê-lo. Não pode é converter essa sua opinião, ou intuição, numa apreciação incontroversa, proclamável como tal - ainda por cima quando basta folhear as páginas desse mesmo e outros jornais para perceber que as opiniões estão divididas e que a essa divisão não é alheia a lógica dos alinhamentos eleitorais.

A não ser que o jornal queira entrar também na luta política própria de uma campanha, o que, em si mesmo, não é negativo (é o que faz a imprensa anglo-saxónica), na condição de ser claro e assumido. Agora, a presunção, tão característica do nosso meio jornalístico, de que a opinião dos jornalistas-comentadores é intrinsecamente mais legítima do que as dos restantes intervenientes no espaço público e que, por isso, pode haver uma espécie de juízo final mediático sobre as controvérsias e os desempenhos políticos, essa presunção não é uma prova de maturidade, mas pelo contrário de infantilidade do nosso sistema de comunicação.»

Preocupa-me particularmente que a esmagadora maioria dos jornalistas, sob a capa da intermediação da mensagem programática dos partidos políticos e dos seus representantes, destacarem em alternativa os fait-divers, os deslizes, as contradições, em resumo: o sangue.

Se jornalistas e 'comentadores' exigem aos políticos qualidade e competência, deverão ser os primeiros a demonstrar estas mesmas qualidades na sua própria actividade.

Caso contrário, nunca escaparão ao epíteto de 'políticos falhados'.

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