terça-feira, dezembro 18, 2007

A irresponsabilidade do PCP

O PCP deseja agora proibir totalmente o comércio aos domingos. Uma medida totalmente disparatada, pelas razões que se passam a enumerar:

1. Trata-se de uma proposta de ideia claramente ultramontana, assente na ideia do domingo como dia essencial de descanso, sim, a ideia de "dia do Senhor".

2. O direito ao descanso não é minimamente prejudicado pelo facto de as folgas serem num qualquer dia da semana.

3. Mais: tal proposta só prejudica em última instância os direitos dos trabalhadores, considerando a exigência de remuneração suplementar pelo trabalho aos sábados e domingos.

4. A ideia proteccionista de defesa do comércio tradicional é totalmente absurda. E premiadora da baixa qualidade e dos altos preços. A merceariazinha pertence ao passado. Ponto. Aliás, não vejo diferença nenhuma entre esta tomada de posição e a patética tentativa de Santana Lopes em ressuscitar o teatro de revista.

5. A ideia das "zonas turísticas" era o princípio do fim. Aliás, como definir o que é zona turística ? Para mais, feiras existem em todo o lado. A isto chama-se manifesta e clara hipocrisia.

6. As críticas às grandes superfícies só demonstram o ódio mortal do PCP a tudo a que cheire a dinheiro. Isto ou é inveja ou é fundamentalismo cristão mascarado de comunismo.

7. Dizer que a proibição a partir de X área é contornada pela existência de espaços com área X-1 é atentar contra a inteligência geral. É evidente que existindo um limite X há uma tendência para a criação de áreas pouco menores.

8. Querer estabelecer limites horários ao funcionamento das lojas é igualmente patético. O PCP defenderia os interesses dos trabalhadores se viesse defender a liberalização dos horários do comércio, e procurando garantir que as remunerações suplementares pelo trabalho nocturno e aos fins-de-semana sejam auferidas. Pouco ou nada interessa quanto tempo a loja está aberta desde que os interesses de todos estejam assegurados.

9. Obrigar as discotecas a um horário de funcionamento é de uma atroz irresponsabilidade, e demonstra até que ponto o PCP é reaccionário. Aliás, estabelecer horários de fecho de discotecas, para além de não fazer sentido, constituiria um problema de segurança e de qualidade de vida: toda a gente a sair ao mesmo tempo de uma discoteca pode dar problemas e confusão, e provoca uma muito maior quantidade de ruído.

O caminho, aliás, tem necessariamente de ser o oposto: liberalização integral de todos os horários de comércio, JÁ !

15 Comentários:

Às 18 dezembro, 2007 22:20 , Anonymous Anónimo disse...

Pedro, mais uma vez estabeleces pontos de vista e fazes comentários interessantes. Mas continuas com o teu trauma com a ou as religiões... Vês motivos religiosos em todo o lado sem razão para tal.

Em ponto algum do discurso do PCP foi falado em "dia do Senhor", meter palavras na boca dos outros não é nada bonito!

- A

 
Às 18 dezembro, 2007 23:44 , Blogger Pedro Sá disse...

1. Quem faz isso é o Arroja.

2. Lê lá melhor o ponto 1. para veres como estás equivocado.

 
Às 18 dezembro, 2007 23:55 , Blogger baldassare disse...

A ideia do PCP faz todo o sentido.

O comércio de pequena dimensão tem de ser protegido. Este proteccionismo favorece o consumidor: pensas que se não houver medidas contra a monopolização, os monopólios não se vão criar? As medidas deste tipo fazem mais pela concorrência do que fazem contra a concorrência. Quanto mais monopolizado, mais aumentam os preços; quanto menos empresas, mais alta é a probabilidade de ocorrer dumping e cartelismo.
Preservar a variedade de comerciantes é evitar monopólios.

Quanto ao horário das discotecas: 4h parece-me uma hora boa. Para quê entrar às duas e saír às 6, se se pode entrar à meia-noite e saír às 4? É preciso saír tão tarde para se divertir? Têm tanta coisa para fazer entre a meia-noite e as 2?
Na Inglaterra, as regras para consumo de alcool são muito mais restritivas, quanto ao horário. Deixam de vender alcool às 23h e fecham à 1h. Sinceramente, prefiro ter discotecas a fechar às 4, mas que até essa hora podem servir alcool...
O argumento da saída de todos à mesma hora... para já, só sai no último minuto quem quer (é como nos jogos de futebol... quem quer poupar meia-hora sai 5 minutos mais cedo); depois, a confusão que poderá acontecer já acontece muitas vezes, nas horas em que, embora não haja horário estipulado, toda a gente sai. Olha, comecem a andar de transportes públicos e a fazer ganhar a vida aos taxistas (gosto de pequenos comerciantes, o que é que se há-de fazer...)

Do teu texto depreendo que o melhor que se pode fazer aos trabalhadores é pô-los a trabalhar mais tempo, em troca de mais dinheiro. Essa é a lógica que cria pais ausentes, gerações educadas pela TV, crianças carentes e, desculpe a expressão, alienação por parte dos trabalhadores, esquecendo-se que também são seres vivos que precisam de um Domingo livre, se pudesse ser.

 
Às 19 dezembro, 2007 00:03 , Blogger Pedro Sá disse...

1. Não, não tem de ser protegido. Lá por ser pequeno não é mais que os outros.

2. Para alguma coisa existe uma lei da concorrência. E uma Autoridade da Concorrência.

3. Não deve existir horário nenhum. A oferta e a procura tratam do assunto. Cabe ao povo (sinónimo de mercado) decidir como e quando. Se as pessoas se querem divertir a X horas, estão no seu direito. Não é problema de terceiros.

4. Os transportes públicos não são para aqui chamados.

5. Como se um domingo livre fosse diferente de outro qualquer dia livre.

 
Às 19 dezembro, 2007 01:00 , Blogger baldassare disse...

"Lá por ser pequeno não é mais que os outros."

Ai não é não! É menos que os outros! E para situações diferentes, leis diferentes: essa é a lei da equidade. Os apoios a pequenos comerciantes servem para compensar aquilo que não conseguem ter: muitos trabalhadores, grande distribuição, fornecimento em massa etc. Tens dúvidas que uma grande superfície, quando chega a uma terra, não faz logo dumping? Ou, pelo menos, uma forma muito próxima de dumping? E depois de arruinar os pequenos comerciantes, o que é que faz? Aumenta tudo o que puder, criando um micro-monopólio.

Cá em Torres Vedras, quando abriu o Jumbo, ofereciam a cada cliente um saco de fruta. Além disso, uma série de descontos em vários produtos. Em resposta, o Modelo (e só o Modelo de Torres, atenção!) ofereceu descontos semelhantes. E os pequenos comerciantes, o que é que fizeram? Nada! "Ladrões!", é ou não é, Pedro?; "Inadaptados ao mercado!", é ou não é, Pedro?; "Carrascos dos preços baixos!", é ou não é, Pedro?

Não é. Não tinham a menor hipótese de concorrer a este nível. Devem ser subsidiados? Deve haver uma lei que ponha os horários (ao menos isso) em pé de igualdade? Não... o mercado resolve tudo. Resta-nos confiar na competência da Autoridade da concorrência (da qual, suponho, és a favor...).

A proposta é para uma imposição de uma hora de feixo para as discotecas e tem um motivo: o horário livre impede os trabalhadores das discotecas de terem uma vida normal. Não te esqueças que os consumidores são "sempre" trabalhadores. Ou seja, se todo o tempo é para trabalhar, não há tempo para consumir, muito menos para descançar. A liberalização dos horários irá causar mais horas de trabalho (é esse o objectivo, não é?) e menos horas de consumo e de pecado. Sobretudo, irá causar uma sociedade ainda mais alienada e gerações ainda mais problemáticas.

Quanto ao Domingo, é por uma questão de convergência. Havendo vários membros da família a trabalhar, se cada um tiver a folga a dias diferentes, dificilmente a família se encontrará. Ou seja, mais uma vez, temos uma geração que foi criada por pais ausentes. Ou um ou outro, mas nunca os dois com folga ao mesmo dia. Podemos chamá-las as famílias neo-monoparentais, porque, na realidade, nunca há um dia onde todas as folgas convirjam.
Tendo que se escolher um dia, escolheu-se o Domingo porque é o dia de descanço por excelência, mas poderia ser outro dia qualquer, desde que fôsse o mesmo para todos.

Esta proposta é uma proposta comunista, como é óbvio e ninguém o esconde. Pretende melhorar a qualidade de vida da população, exercendo uma limitação à exploração do factor trabalho, ao nível dos horários e dos dias de folga. Esta proposta, teoricamente, não pretende dar mais liberdade. A verdade é que não tira muita liberdade às pessoas e dá-lhes espaços de liberdade (como poderá ser o Domingo). Pelo contrário, as medidas defendidas pelos liberais dão teoricamente imensa liberdade, mas acabam por tirar o tempo e o dinheiro para exercê-la. Dão liberdade de explorar os trabalhadores 16h por dia e dão liberdade de levar os pequenos comerciantes à falência, mas tiram tempo e recursos monetários que permitam à população exercer a liberdade. Se a liberdade teórica me tira liberdade real, não a quero para nada. Prefiro ter de saír às 4h e saber que os funcionários que me serviram têm direito a uma vida normal.

 
Às 19 dezembro, 2007 17:21 , Blogger Unknown disse...

Só para lembrar que a Inglaterra já não tem as famosas restrições ao horário de consumo de bebidas alcoolicas. E o problema pelo Pedro descrito (vir toda a gente para a rua/estrada ao mesmo tempo) era algo real na Inglaterra. Embora ainda haja muitos estabelecimentos que mantêm o horário histórico, pois hoje em dia é quase uma instituíção. Mas Tony Blair alterou essa lei...

 
Às 19 dezembro, 2007 18:30 , Blogger O Pinoka disse...

Estou pasmo com o que li…
Ainda estou a tentar encontrar enquadramento político para este post.
Quanto ao argumento no ponto 9, deveria aplicar-se também nos jogos de futebol, aos concertos na missa, bem, em diversos sítios e ocasiões, da seguinte maneira: Uns compram meio bilhete outros o bilhete inteiro, assim ao intervalo sai metade que é para no fim não sair tudo ao mesmo tempo.
Por favor…! Ele há argumentos…

 
Às 20 dezembro, 2007 00:24 , Blogger Pedro Sá disse...

1. Estás a partir do princípio ridículo e marxista de que alguém por ter um espaço de grandes dimensões é um mauzão que vem destruir e com maldade os bonzinhos dos pequenos comerciantes.

2. Apoios aos pequenos comerciantes não resolvem nada e apenas prejudicam o consumidor.

3. Repito: para alguma coisa servem a Autoridade da Concorrência e a Lei da Concorrência.

4. Exactamente. Inadaptados. Carrascos dos preços baixos. Velhos e ultrapassados comerciantes de 6ª categoria que nunca deram qualquer tipo de valor acrescentado. Os comerciantes de qualidade não se queixam nem pedem protecção.

5. Aliás, pensar que impor horários de funcionamento altera alguma coisa é de uma ingenuidade atroz.

6. Claro, "uma vida normal". E "uma vida normal" no sentido mais reaccionário e salazaróide possível.

7. Os horários de funcionamento não têm rigorosamente nada a ver com a questão do número de horas de trabalho. É totalmente indiferente que alguém trabalhe 7 horas por dia p.ex. das 8 às 15 ou das 0 às 7, salvaguardadas as normas específicas sobre retribuição do trabalho nocturno.

8. "Sociedade alienada" é um conceito que recuso totalmente. Parte sempre de uma lógica de que alguém é que sabe o que é melhor para os outros. Ideia anti-democrática, portanto.

9. O drama. A tragédia. O horror. Pior. Esta defesa da familiazinha unida toda junta está ao nível de certos e muito patéticos filmes norte-americanos.

10. Os efeitos de tal proposta seriam simplesmente piorar a qualidade de vida da população. Aumentar o desemprego, designadamente. Estabelecer cortes desnecessários ao espaço e tempo de diversão.

11. Só pode ser marxista (a doutrina política que mais mortos causou desde sempre, é sempre bom relembrá-lo) quem fala que o factor de produção de trabalho é por natureza explorado.

12. Exactamente. Pensar que alguém que exerça um horário de trabalho nos termos legais não tem uma vida normal por sair às 7 está ao nível do pensamento de Salazar. Portanto, tais pensamentos só podem ter um destino: o caixote do lixo da História. O mesmo onde está e estará o partido político que propôs semelhantes coisas.

 
Às 20 dezembro, 2007 01:31 , Blogger baldassare disse...

Quanto ao que disseste nos pontos 6, 9 e 12: eu não peço para impor um estilo de vida "normal". Eu peço o direito dos trabalhadores a terem isso, se quiserem. Eu peço o direito a poderem cuidar dos filhos, se quiserem. E peço isso à custa de muito pouco: basta os frequentadores entrarem um pouco mais cedo e sairem um pouco mais cedo... não é nada de mais e 4h da manhã não é nenhuma hora que impeça as pessoas de se divertirem.
Com um sacrifício (?) mínimo por parte dos clientes, consegue-se aumentar em muito a qualidade de vida dos empregados, e dá-se-lhes mais hipóteses na gestão do dia-a-dia. Mas depois cada um escolhe a vida que quer ter!

Os grandes comerciantes, e isso é indiscutível, são o motivo para a falência dos pequenos comerciantes.
Têm mais condições de transporte, armazenagem, negociação de preços... não presciso de ennumerar mais condições que põem os hipermercados à frente dos pequenos comerciantes. A proposta do PCP é apenas para pôr em pé de igualdade num aspecto: os horários.
Os grandes comerciantes têm a capacidade de ter muitos empregados e de estarem abertos todos os dias a todas as horas. Esta proposta pretende dar uma pequena ajuda ao comércio tradicional, pô-los - ao menos neste aspecto - em pé de igualdade, para que possa haver concorrência e não monopolização e preços altos.

As grandes superfícies usam técnicas de dumping para levar à falência tudo o que há à volta e, depois de terem monopóleo local, aumentarem os peços. Não sei se sabias mas uma grande parte dos produtos do Feirão do Modelo (às quartas, acho eu...) é obtido da seguinte maneira: o Belmiro diz aos produtores que, ou dão os produtos à borla para o Feirão (um dia por semana), ou acaba o contrato entre a Sonae e o produtor. E os produtores são obrigados a ceder (senão acaba-se o contracto). Isto não é malvadez? Isto não é uma técnica injusta para ganhar quota de mercado, a fim de conseguir o máximo de monopolização possível? Para quê? Para nos dar preços "AINDA MAIS BAIXOOOOS!"? Deve ser.

A Autoridade da Concorrência não previne monopóleos locais nem quase-monopólios, nem mercados de concorrência imperfeita onde existe cartel disfarçado.

O marxismo não matou ninguém, assim como a social-democracia, o capitalismo, a monarquia, a democracia não mataram ninguém.
Houve quem morresse às mãos de assassinos como Stalin e Mao, que governavam auto-intitulando-se marxistas.
Segundo essa lógica, também houve milhares de "vítimas do capitalismo", pessoas cuja morte resultou de condições capitalistas da sociedade onde viviam e de líderes capitalistas (como George Bush matou no Iraque). No entanto, essas mortes não aconteceram devido à ideologia, mas devido a erros e animalidades dos líderes.
O mesmo já não se passa com o nazismo, porque na ideologia nazi perfigurava precisamente a exterminação dos judeus e de outros povos. Aí é a ideologia que mata. No caso do marxismo e do capitalismo, não é a teoria economico-social que mata, mas os erros e animalidades dos líderes.
Ser marxista não implica apoiar os gulags ou o stalinismo. E aliás, há muitas variantes do marxismo que se opõem totalmente à política soviética e inclusivamente a propostas do tipo da que temos estado a falar...

Esta proposta limita algumas liberdades, isso é indiscutível (a liberdade de estar aberto ao domingo, a liberdade de estar aberto depois das 4h...).
Mas não é anti-democrática por uma razão: porque é uma proposta. É uma proposta feita aos portugueses, e cabe ao povo (os deputados, no nosso sistema democrático representativo) aceitá-la ou não. Se os portugueses votassem numa medida que combatia a alienação da sociedade, estando esta bem definida, seria de aceitar a decisão democrática? Seria, neste caso, a democracia anti-democrática?

Portanto, enquanto as propostas forem propostas e votadas, são sempre democráticas.

Se os portugueses votarem num partido que propõe lojas abertas todos os dias e 24 h por dia, tudo bem! Cabe ao povo o seu destino. Eu continuo a achar mal, mas há que respeitar a decisão popular.

Portanto gostava de concluir que esta é uma proposta democrática, comunista na sua intenção e motivos, proteccionista, anti-monopolização e não propriamente liberal mas, como disse no outro comment, que pretende dar mais espaço de liberdade aos trabalhadores que, imagina, também são consumidores.

Cumps.

 
Às 20 dezembro, 2007 10:39 , Anonymous Anónimo disse...

"No caso do marxismo e do capitalismo, não é a teoria economico-social que mata, mas os erros e animalidades dos líderes.
"

1. O capitalismo, ao contrário do marxismo, não é uma ideologia.

2. O marxismo (e em particular o marxismo-leninismo) só se impõe com uma gigantesca dose de terrorismo. Negar isto é tão abjecto como negar o Holocaustro.

3. Se existiram marxistas que não gostavam de métodos coercivos de impor a sua religião é totalmente irrelevante: as suas acções, caso tenham existido, não tiveram qualquer efeito de impedir o holocaustro marxista-leninista.

 
Às 20 dezembro, 2007 15:34 , Blogger Pedro Sá disse...

PRIMEIRO PARÁGRAFO

1. Pedes e exiges que toda a gente tenha um estilo de vida supostamente normal. O que é precisamente o contrário do exigido por uma sociedade aberta e tolerante.

2. Estás a partir do errado princípio que as pessoas são obrigadas a ter uma determinada profissão. Se é certo que a liberdade de escolha de profissão é algo que está longe de ser absoluta, também não deixa de ser verdade que não conheço caso nenhum de quem trabalhe na indústria da noite por não ter alternativas.

3. Para além de o número de pessoas com filhos entre os trabalhadores da noite ser reduzido (o que logo aí afasta o argumento...para não falar da ideia reaccionária de que toda a gente tem, quer ter e deve ter filhos, implícita), cuidar dos filhos não é algo que exija horário X ou Y.

4. Claro, lixam-se milhares e milhares de pessoas à conta de meia dúzia. Está aí uma ENORME diferença entre nós: é que tu defendes os supostos interesses de alguém contra todos só por ser trabalhador, para ti essa qualidade justifica toda e qualquer limitação de terceiros (aliás, se há coisa que mete nojo é o PCP e a sua mania que é o único que defende os interesses dos trabalhadores, quando raramente o faz). Ora, algo nesses termos seria algo de terrivelmente desproporcional. E está por provar que tal coisa aumentasse a qualidade de vida dos empregados - pelo contrário, pois menos horas de trabalho significariam menos rendimento auferido!

5. Cada um tem o direito de divertir-se às horas que quiser, como e quando quiser. Há apenas que respeitar as normas sobre ruído.

SEGUNDO PARÁGRAFO

6. Essa lógica do grande comércio ser razão da falência do pequeno comércio está por provar.

7. Para se fazer um raciocínio de defesa do pequeno comércio é necessário partir de um pressuposto totalmente imobilista (tão tristemente europeu): de que o pequeno comércio é a realidade natural e o grande comércio não é algo de natural. O que é um monstruoso disparate.

8. É simples ao pequeno comércio estar aberto mais horas. Num esquema de liberalização, só não está se não quiser.

9. É de chorar a rir esta lógica da necessária monopolização. Quaisquer situações de monopólio não têm nada a ver com grande e pequeno comércio. E aferem-se em concreto, fora isso.

TERCEIRO PARÁGRAFO

10. Essa lógica de dumping para levar terceiros à falência e aumentar preços é uma redonda mentira. Aliás, a utilização de dumping em sede de comércio interno é um disparate total.

11. Não considero essa técnica minimamente injusta, é um problema entre produtor e distribuidor, e se o produtor sede a eventuais chantagens é um problema que é seu. Mas supondo que o fosse, poderia ser considerada ilegal. Mas isso não tem nada a ver com horários nem com problemas entre grandes e pequenas superfícies.

12. É doentia a paranóia do PCP com os monopólios. Quando em todos os países onde os comunistas foram Governo praticaram monopólios de Estado. Logo, também contraditória.

13. Aliás, esta ligação entre quota de mercado e monopólio é de doidos. Por esta ordem de ideias (e que tem na sua base um tão fundamentalista católico ódio ao dinheiro e ao lucro) ninguém pode querer aumentar a sua quota de mercado.

14. E é asquerosa esta ideia de maldade natural de todo o negociante. Maldade natural têm os comunistas, TODOS eles. Porque quem vê tanta maldade junta só pode ter maldade dentro de si próprio.

QUARTO PARÁGRAFO

15. Erradíssimo. Basta ver o que a AdC ainda agora impôs relativamente ao negócio Sonae-Carrefour...

QUINTO PARÁGRAFO

16. O marxismo matou e necessariamente mataria. Aliás, desde logo defende a tomada do poder pela violência.

17. Stalin é o mais puro representante do marxismo.

18. Se vamos a colocar ideologia no Iraque, aí o que terá morto gente foi o fundamentalismo cristão. O neoconservadorismo. Nunca o capitalismo, esse não mata ninguém. Dizer que alguém morreu à fome por causa de um sistema económico é totalmente absurdo.

19. O comunismo defende implicitamente a exterminação da burguesia.

20. O marxismo que se diz anti-comunista é em regra igual ou pior.

SEXTO PARÁGRAFO

21. O que é aqui dito configura um total desrespeito pelos direitos e liberdades individuais em nome do princípio democrático. O Sr. Rousseau não diria melhor. Um perigo. Se uma Assembleia quiser proibir-me de falar também pode ? Era o que mais faltava. O princípio democrático não pode nunca limitar as liberdades essenciais. Mas isto é o PCP: todas as liberdades são para comprimir, excepto quando lhes dá jeito.

22. Volto a repetir que essas ideias de alienação da sociedade são perigosíssimas. E ditatoriais. Ora, se eu disser que quem anda a ler Eça de Queiroz está alienado já não pode ser, pois não ?

SÉTIMO PARÁGRAFO

23. A proposta não me parecia comunista, mas bem vista a argumentação aqui dada é-o certamente. Porque é por natureza totalitária.

24. O proteccionismo é algo de asqueroso.

25. Tal proposta não tem quaisquer efeitos ao nível da existência ou não de monopólios.

26. Tal proposta só prejudica a liberdade de todos, sem excepção, por múltiplas razões que já referi.

 
Às 20 dezembro, 2007 23:28 , Blogger baldassare disse...

Pontinhos, para facilitar:

1-"Pedes e exiges que toda a gente tenha um estilo de vida supostamente normal."
Como já te expliquei, peço que seja dado aos trabalhadores a hipótese de poderem ter o estilo de vida que quiserem: "normal" ou não. Mas para optarem têm de ter a possibilidade de fazer A ou B. As pessoas que trabalham à noite escolheram-no na maioria das vezes, mas isso impede que tenham direitos? Cada vez que se propuser uma medida para os trabalhadores da noite, vais vir com o argumento que "eles escolheram! eles já sabiam ao que vinham!"? Por essa lógica permite-se trabalhar sem condições de segurança os que estiverem disponíveis a isso. E viva o mercado!

2- "para ti essa qualidade justifica toda e qualquer limitação de terceiros ". Não. Justifica algumas limitações a terceiros, como ter de saír às 4h. Não me avalies por aquilo que eu não disse. Fica descansado que eu não sou do PCP, embora concorde com algumas propostas, como estas.
"só porque é trabalhador"... quase toda a população adulta com menos de 65 anos é trabalhadora ou anda à procura de emprego, por isso dar melhores condições de vida aos trabalhadores é dar melhores condições de vida à população. O mundo não se divide em trabalhadores e não-trabalhadores... os "terceiros" de que falas no ponto 4 não são também trabalhadores?

3- O grande comércio está a acabar com o pequeno comércio. Se achas que isto não é verdade, explica-te porque eu não percebo esse argumento... é óbvio que quando chega a uma localidade uma grande superfície, muitos ex-clientes de pequeno comércio vão passar a ser clientes do grande comércio, levando a longo prazo à falência do pequeno comerciante... parece-me óbvio, mas se não é, explica porquê.

4- "Num esquema de liberalização, só não está [aberto mais horas] se não quiser" dormir e ter dias livres... não te esqueças que os pequenos comerciantes não têm empregados para fazer rotatividade.

5- O dumping ou uma forma muito próxima de dumping (com margens de lucro nulas ou baixíssimas) tem como objectivo atraír todos os clientes durante um tempo e, quando já ninguém fôr ao vendedor concorrente, poder aumentar os preços. Não me vais dizer que quem faz dumping é por simpatia para com o consumidor... vendemos a perder dinheiro ou a não ganhar quase nada para os nossos clientes ficarem contentes... o dumping tem um objectivo: acabar ou limitar a concorrência a fim de aumentar os lucros a médio-longo prazo...

6- "Não considero essa técnica minimamente injusta". Como dizias, há realmente uma ENORME diferença entre nós. ENOOORME!!!, aliás.

7- "Dizer que alguém morreu à fome por causa de um sistema económico é totalmente absurdo." Concordo contigo. Eu não afirmei tal coisa, eu disse que se atribuímos vítimas à teoria marxista, atribuamos vítimas à teoria (tasse bem infidel, eu não digo "ideologia") capitalista, o que é absurdo em ambos os casos. Quanto à tomada do poder pela violência, há correntes que o regeitam (nomeadamente o luxemburguismo, a social-democracia, o chavismo, o comunismo libertário, o eurocomunismo...)

8- "O comunismo defende implicitamente a exterminação da burguesia" O comunismo defende explicitamente o fim de uma classe exploradora. O fim de uma classe (a burguesia) não implica a morte física dos a ela pertencente. Tornando todos da mesma classe, acaba-se com a classe burguesa, aliás, com todas as classes- é essa a teoria. Podemos por essa lógica dizer que o objectivo da república é exterminar a nobreza e isso acontece simplesmente abolindo os títulos nobliárquicos, não matando todos os nobres.

9- pontos 21 e 22: Eu já estava à espera dessa. Esta é "a" grande questão democrática: até que ponto se deve aceitar a vontade popular? Há quem defenda que esse ponto não existe. Eu penso que esse ponto existe, mas não tenho capacidade de abstracção suficiente para imaginar até que ponto é aceitável a decisão da maioria. Um limite que ponho desde já é o respeito pela vida humana... podia dizer que a liberdade também é um limite, mas não sei se gosto da ideia de não haver liberdade para renunciar à liberdade... esta é uma questão filosófica em que já pensei muitas vezes, mas sinceramente, não consigo achar esse limite. Quando disse aquela frase não estava a pensar em propostas de genocídio, morte, racismo ou supressão das liberdades.

10- Esta proposta constitui (e já o disse anteriormente) uma pequena limitação às liberdades dos empregadores e dos frequentadores e não me parece tão atentatória para ser considerada um atentado às Liberdades Essenciais. Não é um atentado à Liberdade como seria, por exemplo, uma proposta que poria fim às eleições livres, por exemplo. Eu compreendo o teu ponto: atinge a liberdade de estar na discoteca depois das 4h. Mas é uma proposta que tem alguma semelhança com leis aprovadas noutros países (aquele caso da Inglaterra e dos bares) e que faz pouca mossa nas liberdades individuais em troca de bastantes benefícios para os trabalhadores e vizinhança... a proibição de conduzir embriagado é um atentado às liberdades essenciais? Não me parece.

11- A proposta do PC não é atentatória contra a democracia, não é "totalitária"... se é totalitária, toda e qualquer intervenção ou controle do estado na economia é totalitário. Qualquer fixação de horários de funcionamento ou regras laborais é totalitária. Quelquer lei é totalitária, pois obriga a algo. Talvez consideres tudo isto desastroso e mau para a economia e para os trabalhadores, mas não é totalitário. Não banalizes a expressão "totalitária", ao menos por respeito pelas vítimas do totalitarismo...

12, à parte- Noto um estilo de escrita: frases ideológicas ("teóricas", para o infidel) escritas como se fôssem verdades absolutas e sem justificação (pois se são verdades absolutas...), por exemplo nos parágrafos 6, 7, 9, 10, 17, 20 e 24. Não te refugies em proposições injustificadas, como a de que "Stalin é o maior representante do marxismo" ou "o marxismo que se diz anti-comunista é igual ou pior"... assim é fácil. E é desonesto.
O que vale é que compensas com bons argumentos, noutras frases... está a ser um bom debate.

Cumps.

 
Às 21 dezembro, 2007 01:58 , Blogger Pedro Sá disse...

1. Da mesma maneira que trabalhar de dia tem certas condicionantes, trabalhar de noite tem outras. Pela lógica que expões quem trabalha de dia já tem por natureza hipótese de poder ter o estilo de vida que quiser. O que está evidentemente por demonstrar (é aliás indemonstrável). Isto é: o trabalho nocturno e ao fim-de-semana não necessita de outra compensação que não a monetária.

2. Errado. Já demonstraste claramente o contrário. E essa argumentação que colocas agora é falacciosa. Porque demonstraste preto no branco que alguém por estar na qualidade de trabalhador deve ter sempre a preferência no exercício de qualquer direito face a quem não a tenha em concreto.

3. O pequeno comércio está a acabar consigo próprio, acima de tudo. E mais que isso, o grande comércio vai para a localidade para fazer dinheiro, não para fazer outros falir.

4. Se o problema é a falta de empregados, contratem alguém.

5. Errado. Essas práticas a que chamas dumping só existem em sítios de elevadíssima concorrência. E em qualquer caso o que fazes são processos de intenções, onde atribuis a tudo o que seja empresa de grande comércio vontades maldosas, maléficas até, diria.

7a. Lamento, mas é perfeitamente possível dizer isso do marxismo, mas não do capitalismo. Quer se goste, quer não.

7b. O chavismo ? Se os Estados Unidos invadissem a Venezuela eu bateria palmas...

7c. É favor não misturares a social-democracia no meio desses marxismos todos sff.

7d. "Comunismo libertário". Só de ver a junção dessas duas palavras apetece-me fugir.

8. "Classe exploradora". Antes de mais, falar em classes sociais no século XXI é um profundo equívoco. Lá por existirem pessoas com mais e com menos dinheiro não quer dizer que existam classes.
E falar em classes exploradoras leva a coisa para o domínio das teorias dos reptilianos, as de que há uma série de gente que age conjuntamente para fazer mal a terceiros.

9. Se não gostas da ideia de não haver liberdade para renunciar à liberdade até me admira como é que defendes que existam direitos indisponíveis, como p.ex. muitos que estão em causa em relações de emprego.

10. Constitui uma enorme limitação às liberdades gerais. Não existe qualquer razão de prejuízo geral que a justifique. Não existem benefícios seja para quem for, aliás.
Para além disso, não vamos confundir isto com crimes de perigo pois não ?

11. É totalitária com as letras todas. E sim, qualquer fixação de horários de funcionamento é totalitária. E as regras laborais só se justificam para garantir o princípio da igualdade. O que, evidentemente, não é o caso.

12. Era o que mais faltava ter que andar a receber lições de moral sobre como fundamentar...há coisas tão autoevidentes que dispensam fundamentação.

 
Às 21 dezembro, 2007 22:11 , Blogger baldassare disse...

Penso que já não vale a pena debater mais... as posições estão demonstradas e isto agora ia só ser repetir argumentos. Quero só exclarecer algumas coisas:

- "o grande comércio vai para a localidade para fazer dinheiro, não para fazer outros falir.". Mas só consegue fazer dinheiro levando à falência os pequenos comerciantes...

- "Se o problema é a falta de empregados, contratem alguém." É tudo tão fácil... se é pequeno comércio, a contratação de um empregado pode ser praticamente impossível. Normalmente é.

- 7a) Desculpa, mas a teoria marxista (que não se limita só aos escritos de Marx) não é responsável por nenhuma morte; o que é responsável por milhões de mortes é as erradas aplicações e até em alguns casos apropriações dessa teoria para alguns governos do mundo. A União Soviética não se baseava no marxismo, mas no marxismo-leninismo, porque os dirigentes da URSS achavam que a teoria marxista estava incompleta e que o leninismo era o complemento do marxismo. Mais tarde, surgiu o stalinismo, o trotskismo, o maoismo, todos varianets do leninismo. Por exemplo, o luxemburguismo opõe-se à tomada do poder pela força e surgiu na mesma altura do leninismo, que era a corrente mais aceite na época. O marxismo é uma teoria política, social e económica com um vasto leque de variações. Stalin usou a teoria marxista como meio para chegar ao poder e cometer a maior atrocidade da história da humanidade. Muitos ditadores ao longo do último século têm usado a teoria marxista como meio de obter algum apoio popular e internacional, embora muitos deles desprezem os mais básicos dos princípios marxistas.
Uma teoria que tem como objectivo uma sociedade onde haja igualdade, fim da opressão, paz entre os povos etc... pode ser considerada irrealista, inexequível, má para a humanidade e até perversa, mas não pode honestamente ser responsabilizada por actos dos que usavam essa teoria indevidamente, para obter poder.

7b) Eu não estou a defender o chavismo, estou a dizer que este é contra a tomada pela força. Na Venesuela há eleições livres, com observadores da ONU. Podes não gostar de Chavéz, mas os venesuelanos gostam.
Pelo que parece, tu é que és pela tomada pela força do poder... "ai os venesuelanos escolheram democraticamente um sistema socialista??? Venham os americanos impor a NOSSA democracia, que é indiscutível"

7c) A social-democracia é uma variante do marxismo. O estado social europeu, os serviços públicos, a segurança social são princípios social-democratas, inspirados no marxismo. No sentido clássico da palavra, a social-democracia é a ideologia que defende a construção da sociedade socialista pela democracia. Dos partidos portugueses com assento na AR, só o CDS nunca foi marxista no seu programa e estatutos. Mesmo o PPD considerava-se um partido de inspiração marxista, quando a moda era ser de esquerda e quando era isso que dava votos.

9- Tens razão. "sinceramente, não consigo achar esse limite"...

11- Então, qualquer lei é totalitária porque limita as liberdades individuais. Anarchy for the UK!

12- Não era uma lição de moral, nem eu te estava a explicar como fundamentar. Eu estava a dizer que não estavas a fundamentar muitas das tuas frases que não dispensam fundamentação como "O marxismo que se diz anti-comunista é em regra igual ou pior.", entre outras.

 
Às 24 dezembro, 2007 10:44 , Anonymous Anónimo disse...

Feliz Natal. Octávio Lima (ondas3)

 

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